Durante suas campanhas, Javier Milei prometeu ‘acabar com kirchnerismo’
Marina Roveda Publicado em 14/08/2023, às 08h43
As eleições primárias da Argentina ocorreram no último domingo (13) para definir os candidatos à presidência nas eleições de 22 de outubro. O resultado revelou a força da direita e expôs a crise da esquerda no país vizinho.
Com mais de 90% das urnas apuradas, o economista Javier Milei emergiu como vencedor das primárias, reforçando sua posição para os próximos dois meses, quando os argentinos escolherão efetivamente o próximo presidente. Autodenominado "anarcocapitalista", Milei, que concorreu como candidato único pela A Liberdade Avança, angariou 30,26% dos votos. Muitas vezes comparado ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro, ele recebeu o apoio do ex-presidente do Brasil na véspera da votação. Durante sua campanha, Milei criticou repetidamente o "socialismo" de Luiz Inácio Lula da Silva, sinalizando uma potencial tensão entre os dois países caso sua postura ultraliberal se mantenha e ele confirme seu favoritismo nas primárias, conhecidas como Paso (Primárias, Abertas, Simultâneas e Obrigatórias).
Os apoiadores do vencedor das primárias celebraram sua vitória com entusiasmo, entoando em uníssono "Milei presidente" no quartel-general do candidato da Liberdade Avança. Em seu discurso de vitória, Milei criticou de maneira contundente o atual presidente Alberto Fernández e Cristina Kirchner, vice-presidente e herdeira do legado político de seu falecido marido, Nestor Kirchner, que faleceu em 2010. Milei declarou: "Esta alternativa competitiva não apenas porá fim ao kirchnerismo, mas também à casta parasita, estúpida e inútil deste país. Estamos diante do fim do modelo de castas, baseado na absurda noção de que onde há necessidade, há direito, mas se esquece que esse direito precisa ser pago. Hoje demos o primeiro passo para a reconstrução da Argentina. Não apenas fomos a força mais eleita em termos individuais, mas agora somos a força mais votada. Porque somos a verdadeira oposição."
O segundo lugar nas primárias foi ocupado pela sigla Juntos pela Mudança (27,9% dos votos), também de orientação direitista, porém com posições mais moderadas do que as de Milei. Apoiada pelo ex-presidente Maurício Macri, Patricia Bullrich superou a disputa interna com Horacio Rodríguez Larreta, uma figura mais alinhada ao centro. O cenário desenhado no domingo indica que a ex-ministra de Segurança Social será a principal rival de Milei em outubro, embora ela tenha feito acenos à postura ultraliberal do candidato vencedor. Bullrich afirmou: "Assim como nós, Milei não quer que o Estado seja uma caverna de La Cámpora", fazendo referência ao movimento político kirchnerista argentino. O próprio Macri, em suas redes sociais, celebrou a vitória de sua aliada, dizendo: "Os resultados confirmam: a Argentina está ingressando em uma nova era que definitivamente deixa para trás ideias prejudiciais que só causaram problemas, pobreza e divisões. Parabéns a Patrícia pela campanha, pela determinação e pelo coração que ela colocou nisso. Agradeço também a Horacio por fazer tudo o que precisa ser feito para fortalecer, como esta primária fortaleceu, não apenas o Juntos por el Cambio, mas também o PRO. Ao somar os resultados de Javier Milei e os nossos, é evidente a maioria significativa de argentinos que propõem uma mudança profunda que não se via há décadas."
Por outro lado, o partido União pela Pátria, liderado pelo atual presidente Alberto Fernández e de orientação mais à esquerda, alcançou 26,6% dos votos e foi derrotado. Conforme previsto, o atual ministro da Economia, Sergio Massa, obteve mais votos do que o líder sindical Juan Grabois. Agora, Massa busca se reorganizar para tentar reverter os resultados nas eleições gerais. Ele declarou: "Há um novo cenário na política, uma nova força que representa a oposição. Essa força dividiu o eleitorado argentino em terços. Vamos lutar até o último minuto, precisamos construir uma nova maioria." Responsável pela economia de um país afetado por hiperinflação e altos índices de pobreza, Massa terá desafios consideráveis para se manter competitivo até outubro.
As Paso funcionam como uma seleção preliminar para definir os candidatos que participarão das eleições gerais. Para avançar para a próxima fase, os candidatos precisam conquistar pelo menos 1,5% dos votos válidos. Além dos três principais candidatos, Juan Schiaretti (Fazemos pelo Nosso País) e Myriam Bregman (Frente de Esquerda e dos Trabalhadores - Unidade) conseguiram qualificar-se para a disputa presidencial. Durante o dia da votação, o sistema eleitoral enfrentou falhas e problemas técnicos, com filas sendo observadas nas zonas eleitorais em todo o país, de acordo com a juíza María Servini. Isso resultou na divulgação dos resultados apenas às 22h. Além disso, ocorreu um incidente inesperado na Casa Rosada, a sede do governo argentino, que foi alvo de uma ameaça de bomba. A Polícia Federal isolou a área para uma investigação minuciosa, com a colaboração de outros órgãos de segurança.
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