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Retranqueiro, conservador, faceirinho? Tite brinca com rótulos em meio à caminhada rumo ao Catar

Na cultura antiga do futebol gaúcho, em que o 10 era o camisa 5, em que a garra muitas vezes fala mais alto do que a técnica, o treinador faceiro é aquele que

TITE
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Redação Publicado em 04/09/2021, às 00h00 - Atualizado às 09h35


Na cultura antiga do futebol gaúcho, em que o 10 era o camisa 5, em que a garra muitas vezes fala mais alto do que a técnica, o treinador faceiro é aquele que sai mais para o jogo do que uma cartilha invisível manda. O técnico da seleção brasileira, Tite, nascido em Caxias do Sul, lidera as Eliminatórias com 100% de aproveitamento e convive com análises variadas com bom humor.

Nas últimas entrevistas ele foi questionado sobre conservadorismo de decisões – em perguntas feitas, se abandonaria esse suposto estilo para apostar em equipe mais arrojada e aproveitou para brincar com rótulos aos quais treinadores convivem.

Ao elogiar todos os goleiros à disposição na Seleção – seja com os “ingleses” Alisson e Ederson, seja Weverton ou com Santos e Everson, agora -, Tite brincou com história que ouvia nos tempos de Portuguesa em que funcionário do departamento de futebol sugeria escalar dois goleiros.

O Brasil enfrenta a Argentina, domingo, às 16h, na Neo Química Arena, em São Paulo, e o Peru, quinta-feira, na Arena Pernambuco. As partidas têm transmissão da TV Globo, do SporTV.

O auxiliar de Tite, Cleber Xavier, brincou que seria bom de colocar os cinco, no que ouviu de Tite:

– Retranqueiro! (Tá vendo?) Não sou eu. É ele.

– Retranqueiro, não. Conservador – rebateu, aos risos, Cleber, com ponta de ironia sobre o vocábulo que frequentou as coletivas de imprensa – e já aparece em debates na TV há um tempo.

Com cinco anos de Seleção, Tite tem impressionantes 80% de aproveitamento em 62 jogos – com 46 vitórias, 11 empates e cinco derrotas. Nas Eliminatórias para o Mundial do Catar venceu todos sete jogos. Seu time tem saldo de 107 gols – média de dois gols marcados por partida; 0,35 gol sofrido por jogo. Em 70% das partidas disputadas não sofreu gol.

O treinador procura ajustes ofensivos – e tem repetido que é um desafio até a Copa do Mundo encontrar novos encaixes e, claro, novas peças, se possível.

O que é o faceirinho?

Estaria atrás de um time mais “faceirinho”? Mas o que é um treinador faceiro? Um time faceirinho? A expressão é muito usada no Rio Grande do Sul. O jornalista Douglas Ceconello, do blog Meia Encarnada,  conta um pouco dessa tal figura abstrata que nasceu nos Pampas.

– Para o que historicamente se convencionou chamar de “estilo gaúcho”, que seria um futebol mais pragmático e aguerrido, ser “faceiro” era atirar-se para o ataque de forma inconsequente, com arroubos artísticos, ou privilegiar o futebol ofensivo mesmo em situações pouco recomendáveis, quando um drible fracassado poderia ocasionar a perda de um campeonato, por exemplo. Os times cariocas do passado, por exemplo, eram “faceiros” – observa Ceconello, que atualiza a definição.

– Essa é uma visão que já perdeu força, mesmo aqui. Também não vale mais o antagonismo entre um Grêmio que tinha preferência pela força e um Inter com estilo mais acadêmico. O vistoso Grêmio dos anos de Renato Portaluppi é uma prova disso. Mesmo Tite, apesar de ser gaúcho, jamais foi um adepto do conservadorismo futebolístico: o Grêmio treinado por ele, campeão da Copa do Brasil 2001, obviamente não tinha uma verve puramente ofensiva, mas apresentava um futebol de grande nível, bem como o Inter que ganhou a Sul-Americana 2008, até hoje considerado uma das melhores formações dos anos de glórias coloradas na América do Sul.

Ex-dirigente do Internacional, Newton Drummond, atualmente no Coritiba, vê Tite como estrategista, jamais faceiro. Aliás, Tite brincou com Clebinho, seu auxiliar, que quando dirigiu time colorado na base ouviu que era “faceirinho” quando ganhava partida por 7 a 0.

Tite, nos tempos de técnico do Grêmio, com time mais leve do que o habitual à moda gaúcha — Foto: AE/Neco Varella

Tite, nos tempos de técnico do Grêmio, com time mais leve do que o habitual à moda gaúcha — Foto: AE/Neco Varella

– Faceiro aqui é o cara que gosta de atacar o tempo todo. O time que tem os volantes sempre na frente da bola – lembra Chumbinho, como também é conhecido o atual dirigente do Coxa.

– Tite no Inter fez o Bolívar jogar de lateral-direito. Teve linha com Bolivar, Índio, Fabiano Eller e Marcão. Não tinha essa de faceiro.

Ex-presidente do Guarany de Venâncio Aires, Gilberto Piva, que volta e meia é citado por Tite ao falar de pressão desde as primeiras equipes que dirigiu, repete expressão bastante usada pelo atual treinador da Seleção.

 O time do Tite sempre foi equilibrado. Não era faceiro, não. Ah, teve um jogo que ele tirou um zagueiro, meteu um atacante… Mas ali perdia o jogo, não tinha muito o que fazer. Não dá para dizer que era faceiro. Ele sempre gostou da posse de bola, de jogador técnico. Mas, claro, dentro das nossas possibilidades do clube. E não mudou muito, não – avalia Piva.

“Tem quem conteste caráter pela forma que a equipe joga”

Ao seu estilo, Tite evita confrontos e apenas reflete sobre as divergências que seu trabalho provoca em meio à caminhada tranquila até a Copa do Catar. Em alguns momentos ensaia desabafo, como ao dizer que “tem quem conteste caráter (de treinador) pela forma que a equipe joga”.

Mas na maior parte do tempo, ao perceber qualquer abordagem mais pessoal em entrevistas, diz que não vai rebater opiniões. Sutilmente ou não, destaca números e estatísticas na ponta da língua da sua equipe. Parece resumir, sem dizer, que “seu currículo fala por si”.

– Tenho histórico desde o Rio Grande do Sul… Quem me conhece profundamente sabe. Essa batalha eu não encampo, a da opinião. Mas a da informação, sim – comentou Tite, antes da partida contra o Chile.

– Tem muitas que represento, que se enxergam em mim com meu comportamento profissional, meu lado ético, de educação, meu estilo, busca pelo aperfeiçoamento profissional. A elas, meu carinho, minha alegria e minha consideração em dividir tudo de bom, inclusive esses números impressionantes. Aos que não represento, porque não são do meu estilo, não veem futebol equilibrado como eu vejo, o que é normal, eu compreendo. Existem outras pessoas em outros setores que não represento. E tenho que compreender essas situações todas.

Confira os 24 jogadores à disposição de Tite:

  • Goleiros: Weverton (Palmeiras) e Santos (Athletico) e Everson (Atlético-MG);
  • Zagueiros: Marquinhos (PSG), Éder Militão (Real Madrid), Lucas Veríssimo (Benfica), Miranda (São Paulo), Leo Ortiz (Bragantino);
  • Laterais: Danilo (Juventus), Alex Sandro (Juventus), Guilherme Arana (Atlético-MG), e Daniel Alves (São Paulo);
  • Meio-campistas: Bruno Guimarães (Lyon), Casemiro (Real Madrid), Éverton Ribeiro (Flamengo), Lucas Paquetá (Lyon), Gerson (Olympique) e Edenílson (Internacional);
  • Atacantes: Neymar (PSG), Matheus Cunha (Atlético de Madrid), Gabigol (Flamengo), Hulk (Atlético-MG), Vini Jr (Real Madrid) e Arthur (Bragantino).

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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