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Cachorrão mira final nas Olimpíadas em missão para popularizar provas de fundo

A prova dos 400m livre no primeiro dia da natação nas Olimpíadas de Tóquio é encarada por Guilherme Costa e seu treinador, Rogério Karfunkelstein, como uma

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Redação Publicado em 23/07/2021, às 00h00 - Atualizado às 09h54


A prova dos 400m livre no primeiro dia da natação nas Olimpíadas de Tóquio é encarada por Guilherme Costa e seu treinador, Rogério Karfunkelstein, como uma missão. Uma disputa que pode desencadear um efeito dominó na carreira do nadador e, ambos imaginam, na delegação nacional da modalidade.

Costa, que é mais conhecido como Cachorrão no meio aquático, tem sido um dos atletas mais regulares de toda a natação brasileira desde 2017, quando despontou ao bater o recorde sul-americano dos 1.500m livre. Em todos os anos desde então, quebrou marcas continentais, ganhou medalha de ouro nos Jogos Pan-Americanos de Lima, em 2019, e se consolidou como líder de um ressurgimento das provas de meio-fundo e fundo no país.

O novato em Olimpíadas quer colocar essa ascensão à prova a partir das 7h (de Brasília) deste sábado, quando ocorrem as primeiras eliminatórias da natação na capital japonesa. Se ficar entre os oito melhores da etapa de qualificação dos 400m livre, ele competirá na final, programada para a noite deste sábado (também no horário de Brasília).

Cachorrão é o atual recordista sul-americano da prova (3m45s85), tempo registrado na seletiva olímpica nacional, em abril, mas que é apenas a 26ª melhor do mundo nesta temporada. Ele e o treinador, porém, acham que a marca não faz jus à capacidade do carioca.

– Se ele passar nos primeiros 200m junto do pelotão principal, vai fazer algo muito especial. E daí vir um efeito dominó. Os 400m livre têm que ser excepcionais para abrir bem a Olimpíada – disse Karfunkelstein.

Eles atribuem as esperanças ao fato de Cachorrão ter poucas competições de nível no Brasil, quadro agravado ainda mais depois da pandemia do novo coronavírus. Houve poucas oportunidades de fazer bons tempos, ainda mais se comparado com americanos e europeus, que conseguiram competir muito mais ao longo do primeiro semestre.

– Fiquei treinando muito tempo sozinho por causa da pandemia. Mas o que mais sinto falta é de competição em alto nível, quase não tenho no Brasil – afirmou o fundista, que antes de chegar a Tóquio fez treinamentos e competiu no México e na Europa.

Cachorrão antes de prova no Rio de Janeiro — Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Cachorrão antes de prova no Rio de Janeiro — Foto: Satiro Sodré/SSPress/CBDA

Ainda assim, ele se classificou para todos os grandes eventos deste ciclo e resgatou a atenção para as provas mais longas. Vale lembrar que a primeira medalha olímpica da natação brasileira veio nos 1.500m livre, com Tetsuo Okamoto nas Olimpíadas de Helsinque, em 1952.

Cachorrão ainda disputará os 1.500m, mais no final desta semana, e os 800m livre em Tóquio. Aos poucos, ele tem se inserido no mapa da elite brasileira, sempre dominada por representantes de distâncias mais curtas, como os 50m e os 100m livre.

– A questão da cultura do Brasil pela velocidade é algo que temos lutado contra, até para que se entenda que a realidade de um fundista dentro da seleção precisa ser diferente. Quando se faz um planejamento macro, é preciso pedir mais tempo para um fundista treinar. A gente vem lutando contra isso, no bom sentido. Tentando colocar essa nova perspectiva na natação brasileira. E achamos que tem dado certo. Por exemplo, as únicas atletas femininas que fizeram índice olímpico no feminino foram nos 1.500m livre (Beatriz Dizotti e Viviane Jungblut) – afirmou Karfunkelstein.

O plano do nadador e do técnico é bem azeitado porque ambos trabalham juntos há anos. Foi o mestre que orientou o pupilo a deixar os 200m borboleta e investir na resistência, inicialmente os 1.500m livre. Mas o vínculo quase foi rompido em 2019.

Semanas antes do Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos em Gwangju, na Coreia do Sul, o pai de Karfunkelstein viu uma rápida deterioração em seu estado de saúde. Internado, logo entrou em fase crítica, o que obrigou o filho a não acompanhar Cachorrão na aclimatação para a competição, que ocorreu na cidade japonesa de Sagamihara.

Guilherme Costa comemora o ouro nos 1.500m livre no Pan de Lima — Foto: REUTERS/Pilar Olivares

Guilherme Costa comemora o ouro nos 1.500m livre no Pan de Lima — Foto: REUTERS/Pilar Olivares

Ambos só se encontraram nas vésperas da prova, já em Gwangju. Cachorrão piorou seus tempos e não avançou em nenhuma das provas.

– Aquilo ali poderia ter sido o final da relação técnico-atleta. Ainda mais no Brasil, onde isso é muito comum. Mas aquilo precisava acontecer para amadurecer e ver o caminho. Foi um crescimento muito grande para mim como treinador e para ele como atleta – disse Karfunkelstein.

Os dois conversaram, recalcularam objetivos, sopesaram os erros e partiram para o Pan de Lima, cujas provas de natação começariam dali a uns dias. Cachorrão terminou com o ouro nos 1.500m livre. No fim daquele 2019, ainda bateu três recordes sul-americanos em um torneio nos Estados Unidos.

Tóquio 2020 representa o momento mais nobre, e desafiador, desta parceria.

– Eu treino sempre pensando em ganhar as Olimpíadas, me dedico há muitos anos para mim. Treinei para ganhar esses 400m livre. Chegar a uma medalha olímpica vai ajudar atletas a irem para as provas longas e não só para as de velocidade – disse Cachorrão, de 22 anos.

– Treinar para ganhar não quer dizer que vamos ganhar. Mas estamos nessa missão de mostrar que existe vida além dos 50m e 100m livre no Brasil. Nós não estamos sendo errados em sermos ambicioso, mas caímos na água todos os dias para ganhar – concluiu o treinador.

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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