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LGBT+

Repórteres da Globo enfrentam ataques homofóbicos e celebram casamento; veja imagens

Os dois foram alvo de ameaças após exporem seu relacionamento em telejornal

Pedro Figueiredo e o marido Erick Rianelli - Imagem: reprodução/Instagram @erickrianelli
Pedro Figueiredo e o marido Erick Rianelli - Imagem: reprodução/Instagram @erickrianelli

Mateus Omena Publicado em 15/09/2022, às 12h25


Os repórteres da TV Globo Pedro Figueiredo, de 30 anos, Erick Rianelli, de 29, se casaram recentemente em uma cerimônia entre amigos e familiares no Rio de Janeiro.

Ambos são conhecidos pela atuação em importantes coberturas da emissora carioca nos últimos anos.

Em entrevista ao Splash, Pedro explicou que já morava com Erick desde 2018, mas decidiram oficializar a união em 2 de julho, como a realização de um sonho para os dois.

“O Erick, para a minha felicidade, embarcou nesse sonho. E foi, de fato, a realização de um sonho. Pensamos em cada detalhe, em cada momento. E tudo saiu do jeito que imaginávamos. Aproveitamos também para casar no civil. Separamos toda a documentação, demos entrada no processo e celebramos nossa mudança de estado civil minutos antes da festa numa cerimônia íntima", disse Pedro.

No entanto, o jornalista alega que o ato tem importância não apenas para o seu relacionamento com o marido, como também para a democracia, pois a união só foi possível graças ao reconhecimento do casamento civil entre pessoas do mesmo gênero no Brasil.

Mesmo assim, Pedro critica que esse direito tenha valido por meio de uma decisão da Justiça, em 2011, ao invés de partir de leis aprovadas pelo Congresso Nacional.

"Tem um simbolismo muito grande. O nosso direito de casar é recente e ainda amparado em uma decisão judicial, já que nosso Congresso sempre se rende ao obscurantismo de não reconhecer a nossa existência como casal”, declarou.

Violência e resistência

Durante o Dia dos Namorados de 2020, Erick ganhou destaque nas redes após mandar uma mensagem romântica para o parceiro no final de um telejornal. Após a viralização do vídeo, o casal recebeu ataques de usuários.

"Recebemos alguns ataques. Felizmente tivemos o suporte de amigos, parentes e da empresa. A sociedade evoluiu e tem gente que, infelizmente, insiste em não embarcar no ônibus da mudança, da pluralidade. Esse foi o único episódio de preconceito que vivemos relacionado ao trabalho", recordou.

O episódio de agressão não foi ignorado pelos chefes de redação da Globo, que usaram a pauta LGBT+ para uma reportagem no "Jornal Nacional", no qual o apresentador William Bonner declarou sua solidariedade com o casal.

Em seguida, o telejornal matinal “Bom Dia Rio” também ofereceu a Erick a oportunidade de declarar seu amor a Pedro, como uma forma de protesto.

"O 'Bom Dia Rio" abriu espaço para que os repórteres daquele dia se declarassem para os seus amores. "Eu era o único repórter LGBT naquele momento. E, assim como meus colegas, fiz minha declaração de amor para o Pedro. Foi uma situação de improviso e eu faria isso mil vezes, se pedissem, sem me preocupar", contou Erick.

No início, ambos tinham medo das reações negativas dos telespectadores. Mas como nunca esconderam a sexualidade, permaneceram unidos para enfrentar qualquer adversidade, segundo Pedro.

"Falávamos abertamente sobre isso nas nossas redes, mas elas eram fechadas. Em 2016, quando me tornei repórter, abri minhas redes e tive medo. Mas o Erick me deu muita força e reforçou que tínhamos que ser nós mesmos. Assim fomos e estamos sendo".

Já Erick acrescentou: "Já eu virei repórter em 2019 e o caminho já estava aberto nesse sentido. Na época em que o Pedro se tornou repórter, conversamos e decidimos seguir. Não havia motivos para ser diferente. Nós nos amamos, temos orgulho de quem somos, do que temos um pelo outro e jamais daríamos algum passo atrás por medo de reações negativas".

Apesar da situação, o casal se orgulha em ser visto como uma referência de representatividade LGBT+ no jornalismo.

"Crescemos em uma época que não havia representatividade. Quando as pessoas falam que se espelham na nossa trajetória, nos emociona. Mas isso nunca foi planejado pela gente. Foi tudo muito natural. Estamos juntos há quase dez anos e entendemos que não tínhamos por que esconder isso de ninguém", afirmou Erick.

"As pessoas que vieram antes de nós abriram portas para que nós pudéssemos falar da nossa sexualidade sem medo. E isso é um ciclo virtuoso. Tomara que, de alguma maneira, a gente possa contribuir para que novas gerações de jornalistas se empoderem ainda mais", declarou Pedro.

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