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Empresária que morreu de câncer deixa carta emocionante para a família ler em seu funeral; veja

A mulher havia preparado tudo dias antes de falecer

Empresária que morreu de câncer deixa surpresa emocionante para a família no funeral - Imagem: reprodução
Empresária que morreu de câncer deixa surpresa emocionante para a família no funeral - Imagem: reprodução

Nathalia Jesus Publicado em 09/03/2023, às 12h14


Dias antes de falecer em decorrência de um câncer, a empresária Juliana Carvalho Lopes, de 45 anos pensou em algo que poderia ajudar a família a atravessar esse período de luto. Em segredo, ela escreveu uma carta para ser lida em seu próprio funeral.

Em seu relato, Juliana fala sobre a sua trajetória e como a sua vida mudou depois do câncer:

“Meu objetivo, desde o meu diagnóstico foi desmistificar a doença, o processo e o fim da vida [...] Eu vivi meus últimos anos com dignidade e alegria, apesar do câncer. E como eu sempre repetia – com todo respeito a toda dor e a maneira que cada um tem de lidar com seus perrengues – é possível, sim, ser feliz com câncer. Eu fui”, disse.

Para o g1, o marido de Juliana, Márcio Antunes, afirmou que a esposa foi altruísta, mesmo debilitada por conta dos tratamentos e o avanço da doença, ao se preocupar no conforto daqueles que ficaram.

“Ao mesmo tempo que a gente estava triste, a gente se sentiu reconfortado. Ao menos amenizou o sofrimento de saber que ela foi tranquila, foi em paz, e que ainda, naquela situação que ela estava vivendo, ela se preocupou em nos apoiar. Tem sido muito emocionante porque a gente vem vivenciando a leitura dessa carta no dia a dia”, disse o marido.

Juliana tinha um câncer de intestino e, após oito cirurgias, seu quadro de saúde se tornou irreversível. A empresária passou para um tratamento paliativo para tentar diminuir o avanço da doença e amenizar a dor.

“A minha hora chegou. E tá tudo bem, gente. Tive a oportunidade e o privilégio de me preparar pra ela. Me redescobrir e receber o melhor das pessoas. Essa é uma despedida honesta e, absolutamente, grata”, disse Juliana em um trecho da mensagem.

A empresária e Márcio se conheceram ainda adolescentes e passaram 32 anos juntos e viviam em Londrina, no Paraná. Do relacionamento, eles tiveram dois filhos.

O marido disse que a carta foi uma surpresa para os familiares e amigos, mas que o item fazia jus ao comportamento atencioso de Juliana.

Segundo Márcio, a carta deixada pela esposa foi enviada por e-mail para as irmãs dela, dias antes da Juliana falecer. Na mensagem, ela pedia que a família só abrisse a despedida após a partida dela.

Confira a carta de Juliana na íntegra:

"A minha hora chegou. E tá tudo bem, gente. Tive a oportunidade e o privilégio de me preparar pra ela. Me redescobrir e receber o melhor das pessoas. Essa é uma despedida honesta e, absolutamente, grata. A despedida de uma vida linda, cheia de sentido, de amor e das pessoas mais especiais que eu poderia ter tido o privilégio de conviver. Minha família, minhas amigas e amigos e tanta gente, que apesar da pouca intimidade, se fez tão presente, com gestos, palavras, orações, força.

Durante o tratamento, passei por muitas fases aqui dentro de mim. E, felizmente, encontrei as minhas próprias ferramentas psíquicas para lidar com o câncer e com as pessoas da minha vida. E fui sustentada pela força, o afeto, a parceria e o amor de vocês, cada um à sua maneira. E passei a tentar compreender os sentimentos e emoções das pessoas que me cercam, me atrevendo a entender e experimentar, da forma objetiva, racional, mas também, empática, o que sente o outro. Pra mim, funcionou, espero que pra vocês também. Uma certeza, morri cheia de gratidão no coração e cercada das melhores pessoas.

Aliás, se eu puder deixar um pedido, desmistifiquem o câncer ou outra doença grave. Desmistifiquem a morte, afinal, ela é o maior clichê da nossa vida. Meu objetivo, desde o meu diagnóstico foi desmistificar a doença, o processo e o fim da vida. Acho que funcionou, vocês entenderam e eu vivi os últimos anos com dignidade e alegria apesar do câncer. E como eu sempre repetia - com todo respeito a dor e a maneira que cada um tem de lidar com seus perrengues - é possível, sim, ser feliz com câncer. Eu fui.

Um recadinho para quem me acompanhou no trecho: Sei humildemente que sentirão saudades da minha presença, das minhas patifarias, da nossa convivência, eu já estou... Mas, espero que se apeguem as nossas pequenas lembranças, nossos momentos de alegria e risadas, nossas trocas. Construam nossas memórias. Espero ter deixado material pra isso. Para carregarem um pouquinho de mim em cada um de vocês (só a parte boa!), mas com alegria, sem drama. Vocês sabem que drama nunca foi meu forte.

Li, certa vez, que "o luto é o preço do amor”. Eu, só posso agradecer o tanto de amor que vocês me dedicaram. E desejar que vocês, meus amados e amadas, vivam esse luto, do jeito mais leve e alegre que vocês puderem, assim como eu levei a vida.

Sabe qual é a maior homenagem que vocês podem fazer a mim? É honrar as suas próprias vidas, com honestidade nas relações, alegria, integridade, empatia, amor e muita diversão, claro! Aliás, depois da minha despedida, se juntem e vão tomar um chopp, ouvindo um samba e falando bem de mim. O da minha mãe é escuro.

Eu deixo chorarem a minha partida, faz parte. Mas, acima de tudo, celebrem a minha vida. Estou em paz. Fiquem também".

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