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CASAMENTO

Casamento no cemitério? A inusitada cerimônia de Pagu e Oswald de Andrade

Oswald de Andrade e Pagu, modernistas brasileiros, tiveram casamento em local inusitado

Oswald de Andrade e Pagu - Imagem: Reprodução / Wikimedia Commons
Oswald de Andrade e Pagu - Imagem: Reprodução / Wikimedia Commons

Sabrina Oliveira Publicado em 20/07/2024, às 09h26


Em um evento que desafiou as convenções sociais da época, o poeta Oswald de Andrade e a escritora Patrícia Galvão, conhecida como Pagu, casaram-se no Cemitério da Consolação, no centro de São Paulo, em 5 de janeiro de 1930. O local escolhido para a cerimônia foi o jazigo dos familiares de Oswald, um gesto simbólico que refletia a irreverência e o espírito revolucionário do casal, ambos figuras centrais do modernismo brasileiro.

A história desse casamento singular foi relatada por Francivaldo Almeida Gomes, mais conhecido como Popó, durante uma visita guiada ao cemitério. Popó, que conduz essas visitas todas as segundas-feiras às 14h, contou como Oswald e Pagu, depois de participarem da Semana de Arte Moderna de 1922 e se destacarem no movimento modernista, decidiram selar sua união em um local tão incomum.

Além da cerimônia no cemitério, Pagu e Oswald também se casaram na Igreja da Penha, mas o evento no Cemitério da Consolação tinha um propósito especial: registrar a união perante os ancestrais de Oswald. Em seu diário, “O Romance da época anarquista ou Livro das horas de Pagu que são minhas”, Oswald escreveu sobre o casamento:

1930, 5 de janeiro. Nesta data, contrataram casamento a jovem amorosa, Patrícia Galvão e o crápula forte, Oswald de Andrade. Foi diante do túmulo do Cemitério da Consolação, à Rua 17, n.º 17, que assumiram o heroico compromisso. Na luta imensa que sustentaram pela vitória da poesia e do estômago, foi grande o passo prenunciador, foi o desafio máximo. Depois se retrataram diante de uma igreja. Cumpriu-se o milagre. Agora, sim, o mundo pode desabar”.

O casal fundou o jornal “O Homem do Povo”, onde Pagu mantinha uma coluna feminista intitulada “A Mulher do Povo”, criticando as elites e defendendo os direitos das mulheres. Em 1931, ambos se filiaram ao Partido Comunista Brasileiro, mostrando seu compromisso com as causas sociais e políticas.

A união de Pagu e Oswald também foi marcada por momentos controversos. Pagu foi o motivo da separação de Oswald e Tarsila do Amaral em 1929, com quem ele havia fundado o Movimento Antropófago e a Revista de Antropofagia. O casamento de Pagu e Oswald durou apenas cinco anos, terminando em 1935.

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