Diário de São Paulo
Siga-nos

Jovens na faixa dos 20 vivem 1ª crise; veja dicas para organizar as finanças

Acostumados a um país com renda e consumo em alta e grande oferta de empregos, jovens de pouco mais de 20 anos estão terminando a graduação e entrando no

Jovens na faixa dos 20 vivem 1ª crise; veja dicas para organizar as finanças
Jovens na faixa dos 20 vivem 1ª crise; veja dicas para organizar as finanças

Redação Publicado em 18/08/2016, às 00h00 - Atualizado às 08h17


Poupar logo no início do mês e ter metas claras são ponto de partida.
Especialistas recomendam que jovem tenha um fundo de emergência.

Acostumados a um país com renda e consumo em alta e grande oferta de empregos, jovens de pouco mais de 20 anos estão terminando a graduação e entrando no mercado de trabalho em um mundo “novo” – e bem mais difícil.

Com a crise econômica, só este ano mais de meio milhão de vagas de trabalho formais foram fechadas, segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). E os jovens são os mais afetados: a taxa de desemprego entre eles cresceu de 15,25% no final de 2015 para 23,36% entre janeiro e março deste ano.

Em meio a este cenário, o G1 conversou com quatro recém-formados que têm dúvidas de como se organizar financeiramente. Especialistas no tema dão dicas práticas para ajudar a solucioná-las.

Por onde começar
Gabriela Bocaccio, 21 anos, formada no final do ano passado, ainda não encontrou um emprego fixo. Mas morar com o pai e contar com sua ajuda – incluindo gastos com mercado e plano de saúde – dão maior segurança neste momento de instabilidade. Porém, a jovem tem dificuldade de como organizar o dinheiro para cada necessidade. Por exemplo, Gabriela não tem um planejamento de quanto pode gastar com roupas e gastos em restaurantes.

Segundo o consultor financeiro Reinaldo Domingos, um bom ponto de partida é Gabriela fazer um diagnóstico da sua situação financeira. Ela deve anotar precisamente quanto ganha, quanto gasta e quanto tem guardado, durante 30 dias.

Essa atitude é importante para que ela coloque em ação uma estratégia de redução de gastos. “Se depois disso, ficar claro que há um empate  gasto mais do que ganho, ou recebo de ajuda – Gabriela deve repensar seus gastos. Posso garantir que ela consegue economizar 30% e terminar o mês bem mais tranquila”, diz.

Aplicativos de celular podem ser grandes facilitadores para essa tarefa

Pedro Camargo, 21 anos  (Foto: arquivo pessoal)
Screenshot_24

Morando sozinho
O caso do recém-formado Pedro Camargo, 22 anos, é um pouco diferente. Também formado no final do ano passado, vindo do interior de São Paulo, ele foi efetivado no seu trabalho, divide um apartamento com dois amigos, mas vive nos limites de seu orçamento. O peso do aluguel e de outros gastos triviais fez com que ele entrasse em um embate: voltar para o interior para viver na casa dos pais ou continuar pagando aluguel?

Pedro gasta mais de 30% de seu orçamento com o aluguel. A educadora Cássia D’Aquino afirma que esse é um grande erro para quem quer economizar. A dica é que ele tente encontrar um outro apartamento, com preço de aluguel mais adequado à sua realidade atual e inferior a 30% de seu orçamento total.

“Temos que ter o pé no chão para avaliar que ‘ainda não posso manter tal padrão de vida’. O grande risco do Pedro é se habituar a gastar tudo o que ganha”, afirma Valter Police, planejador financeiro.

Segundo dados do aplicativo GuiaBolso, o caso de Pedro é comum: as contas essenciais consomem em média 60,3% da renda dos jovens entre 21 e 25 anos – os que estão iniciando a vida profissional.

Gabriela Monteiro, 22 anos  (Foto: arquivo pessoal)

Cuidado com o cartão de crédito
Gabriela Monteiro, 21 anos, entrou no Serasa, após não pagar uma conta do seu cartão de crédito. “Quando vi  a conta já tinha tomado proporções imensas, cerca de R$ 1.500”, diz. Gabriela conseguiu negociar e contornou a situação, mas especialistas afirmam que esse é uma grande falha.

O uso excessivo do cartão de crédito e o parcelamento de contas são dois grandes deslizes. “As pessoas perdem o controle das suas finanças quando parcelam”, afirma Thiago Alvarez, um dos fundadores do Guia Bolso, aplicativo que ajuda a controlar as finanças. A ideia é parcelar só quando o valor for alto e sempre tentar pagar à vista.

Tenha um fundo de emergência
A educadora financeira Cássia D’Aquino é enfática ao dizer que ter um fundo de emergência é ponto de partida para estes jovens. O objetivo é conseguir juntar cerca de três a seis meses de renda. “É uma iniciativa que traz tranquilidade e que permite que todos os outros passos sejam tomados”, diz.

Essa reserva deve ser bastante segura e líquida – precisou, o dinheiro está lá. A preocupação com a rentabilidade é menor, nesse caso, porque é preciso priorizar essas duas características.

Vivian Lis, 23 anos  (Foto: arquivo pessoal)

Tenha objetivos claros
Vivian Lis foi efetivada, mas confessa que não tem controle quanto aos seus gastos extras – restaurante, roupas, viagens. Ela mora com os pais, “o que alivia muito”, mas mesmo assim passa por alguns perrengues. “Fui em um bar com meus amigos e o cartão não passou. Quando entrei no aplicativo do banco estava zerada na conta. Muita vergonha”, conta.

Domingos afirma que ter objetivos claros e metas é a melhor saída para não gastar dinheiro sem pensar, como é o caso da Vivian. “Dinheiro guardado, sem saber o que você quer fazer com ele, é dinheiro de ninguém”, afirma.

O educador acredita que este jovem deve economizar 50% do seu salário e definir o destino deste dinheiro em três tempos: curto, médio e longo prazo. “Se o jovem não fizer isso ele não terá a motivação necessária para reduzir gastos ”, afirma. Os ‘tempos’ podem envolver uma viagem, uma pós-graduação ou mesmo a compra de um apartamento, por exemplo.

O grande antídoto para o consumo não consciente são as metas. Se o jovem não defini-las, ele vai gastar todo o seu dinheiro “
Reinaldo Domingos, educador financeiro

Poupe no início do mês
Qualquer investimento, seja na conta poupança, na previdência privada ou em outras aplicações, deve ser feito no início do mês. Assim, o jovem cria o hábito de economizar e não terminar o mês no vermelho.

“Cada vez que uma pessoa gasta ou não gasta o dinheiro ela está fazendo uma escolha. E cada uma dessas escolhas terá uma consequência. Avaliar quais consequências ela quer ter”, diz D’Aquino.

Vale a pena investir nessa faixa etária?
Segundo Police, quem começa a vida investindo, tem um futuro muito mais tranquilo de quem começa devendo. Mas esse investimento deve ser feito com cautela- não é necessário ser um expert no assunto, como muitos acreditam.

No entanto, é importante fazer uma pesquisa prévia de qual investimento responde mais às expectativas. É importante conversar com um especilista no assunto, pode ser um gerente de banco.

“Não invista em nada que não conheça. A ideia de que investir na poupança é mais seguro é uma lenda. Um fundo CDB (Certificado de Depósito Bancário), que são títulos que os bancos emitem para captar dinheiro das pessoas, é tão seguro quanto”, afirma Police.

Invista de acordo com seus planos. Se você quer fazer uma reserva para viajar no final do ano, colocar esse dinheiro na poupança pode tornar o alcance do seu objetivo mais difícil, pois na popança ele rende menos. O chamado Fundo DI- que em sua maioria investe em títulos do Tesouro Nacional- é uma ótima opção para os jovens que querem investir no curto prazo.

Começar desde cedo uma reserva para aposentadoria é uma boa ideia também. Mas é importante escolher um bom plano. “Esse dinheiro é para ser ‘esquecido’ e trazer estabilidade para o futuro “, afirma Police.

*Sob supervisão de Laura Naime

Compartilhe  

últimas notícias