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Hospital da Vila Alpina deixa pacientes com dor que não chegam de ambulância sem atendimento

O Hospital da Vila Alpina, na Zona Leste da capital, tem deixado pacientes com dor sem atendimento no pronto-socorro. A unidade só atende pacientes de

Hospital da Vila Alpina deixa pacientes com dor que não chegam de ambulância sem atendimento
Hospital da Vila Alpina deixa pacientes com dor que não chegam de ambulância sem atendimento

Redação Publicado em 04/10/2021, às 00h00 - Atualizado às 14h32


O Hospital da Vila Alpina, na Zona Leste da capital, tem deixado pacientes com dor sem atendimento no pronto-socorro. A unidade só atende pacientes de ambulância em casos graves ou gravíssimos. Por determinação do governo estadual, seis hospitais da Grande São Paulo estão há oito meses com as portas fechadas nos prontos-socorros.

Um grupo de moradores do bairro Saúde no Barro, na Zona Leste da capital reúne 35 mil pessoas insatisfeitas, de acordo com o cabeleireiro Fernando Manso.

“Nós estamos recebendo diversos relatos de pessoas que estão querendo atendimento e não estão conseguindo. As pessoas chegam aqui na porta, só podem entrar através de ambulância e eles encaminham para as Amas, UBSs, Upas, né. Só que nós temos um problema maior ainda porque a Upa mais próxima que nós temos é de São Caetano e do Tatuapé. E as Amas que nós temos, do Jardim Independência e da Vila Califórnia, elas só atendem das 7h às 19h”, afirma.

O autônomo Gilberto Macedo nasceu na Vila Alpina e mora no bairro há 64 anos. Há 20 dias, procurou atendimento por causa de uma pedra no rim.

“Eu vim aqui, não sabia como era o funcionamento, não fui atendido. Fui para uma UBS gritando de dor, que a dor é terrível. Arrumaram uma ambulância… Foi quando eu fui atendido aqui”, afirmou.

Ele também sentiu falta de especialidades médicas. Não teve contato com qualquer urologista, por exemplo.

“Fui medicado e mandado para casa. E tenho uma pedra de 0,7mm, entendeu? E estou com essa pedra até hoje, porque eu não consigo achar um hospital para bombardear essa pedra”, afirma.

Quando os pacientes não conseguem atendimento e são barrados na porta do pronto-socorrro, a solução, muitas vezes, é simplesmente atravessar a rua. Logo na frente, no desespero, eles procuram a ajuda dos farmacêuticos.

Hospital da Vila Alpina, na Zona Leste de SP, deixa pacientes com dor sem atendimento; unidade só recebe pacientes que chegam de ambulância — Foto: Reprodução/TV Globo
Hospital da Vila Alpina, na Zona Leste de SP, deixa pacientes com dor sem atendimento; unidade só recebe pacientes que chegam de ambulância — Foto: Reprodução/TV Globo

Por presenciar tantos casos, o Hyago Belo começou a gravar a aflição das pessoas. Em um vídeo, é possível ver uma mulher deitada na calçada com cólica renal.

“Como farmacêutico, eu posso dizer que eu me sinto até, digamos assim, impotente. Eu sei que ela tem que tomar, por exemplo, transfulosina, mas eu não posso prescrever porque é um medicamento tarjado, né, então a gente precisaria de um receituário médico”, afirma Hyago.

Segundo o farmacêutico Allan de Lima, as pessoas são dispensadas já no portão pelo segurança.

“Uma triagem não é feita diretamente por um profissional da saúde. [A pessoa] é barrada primeiro pelos seguranças. E aí, como você tem uma flexibilização? Como eles vão ter um olhar clínico para dizer se a pessoa realmente está necessitada ou se realmente ela é um caso leve?”, diz Allan.

Um caso em especial marcou a equipe da farmácia. Um senhor que estava com a pressão em quase 20 e só conseguiu atendimento por insistência da esposa. No fim, tinha sofrido um pré-infarto.

“Talvez esse caso desse senhor, nessa transição que ele estaria fazendo para outro hospital, ele já poderia infartar… Ele poderia ter infartado ou no carro ou no transporte que ele estaria utilizando para ir a outro hospital”, afirma Allan.

O governo disse que esse processo foi acordado com a Prefeitura, que é responsável pelas Unidades Básicas de Saúde (UBSs), Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) e Assistência Médica Ambulatorial (Amas) e que os problemas de distância devem ser solucionados pelo município.

Sobre casos como o do Gilberto, que precisa operar uma pedra no rim, afirmou que a ordem certa é, uma vez passada a crise de dor, agora, procurar uma Ama Especialidades para que ele seja encaminhado para cirurgia.

Danilo Fiore, diretor da Coordenadoria de Gestão de Contratos de Serviços de Saúde, disse que os pacientes graves têm, sim, de ser atendidos no hospital.

“Todas essas unidades foram orientadas a fazer esse processo de transição ao longo do primeiro semestre e efetivamente efetuar o referenciamento agora no segundo semestre. A orientação é que os profissionais atendam os pacientes e informem que os caso de menor gravidade, que chamamos de azul e verde, sejam acolhidos por outras unidades de saúde da região de abrangência daquele hospital que tenha a complexidade adequada. Em casos graves, o paciente que precisa vai chegar de ambulância do Samu ou transferido de outro serviço de saúde ou eventualmente o paciente que chegar espontaneamente e estiver em uma situação de gravidade que demande o socorro imediato, vai ser atendido no hospital”, afirma.

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G1

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