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Gravidez

Gravidez precoce: quase 90 meninas de até 14 anos foram mães nos últimos três anos em Taubaté e São José

Levantamento foi feito pelo g1 com base em dados das prefeituras.

Gravidez precoce: quase 90 meninas de até 14 anos foram mães nos últimos três anos em Taubaté e São José - Imagem: reprodução grupo bom dia
Gravidez precoce: quase 90 meninas de até 14 anos foram mães nos últimos três anos em Taubaté e São José - Imagem: reprodução grupo bom dia

G1 Publicado em 04/09/2022, às 14h15


Nos últimos três anos, ao menos 86 meninas entre 10 e 14 anos engravidaram em São José dos Campos e Taubaté. O balançofoi feito pelas prefeituras, a pedido do g1. Segundo especialistas, a redução dos índices está ligado a educação sexual.

Segundo os dados, o ano mais crítico com maior índice de gravidez entre meninas foi 2019. No ano, São José dos Campos teve 31 gestantes nessa idade. O número leva em conta apenas as meninas que buscam acompanhamento médico. Em Taubaté, o ano também foi com o maior índice, dez casos.

Nos últimos anos, houve registro de queda entre gestantes na faixa etária, mas especialistas apontam que a redução tem relação com a pandemia e isolamento social.

Veja os dados ano a ano por cidade:

São José dos Campos

201931 meninas
20209 meninas
202113 meninas

Taubaté

201910 meninas
20207 meninas
20217 meninas
Gravidez saudável: cuidados da mulher devem iniciar antes da gestação — Foto: Pexels
Gravidez saudável: cuidados da mulher devem iniciar antes da gestação 

De acordo com o projeto Casulo, que atende mulheres grávidas em São José dos Campos, de cada dez gestantes, ao menos duas são adolescentes.

Para a professora e doutora em Assistência Social na Universidade de Taubaté (UNITAU), Lindamar Alves Faermann, com as transformações sociais, os avanços científicos, a conquista de direitos sociais de mulheres, crianças e adolescentes a gravidez na adolescência passa a ser considerada um problema social.

"A adolescente vivencia uma série de experiências que impactam em seu desenvolvimento biológico, psicológico e social, assumindo responsabilidades para as quais ainda não está preparada", diz a professora.

Entre os fatores que levam as meninas jovens à engravidarem nessa idade está a fase da vida que elas vivem, onde elas se tornam mais vulneráveis à relações sexuais sem proteção, que, além da gravidez, podem trazer doenças.

"Pesquisas mostram que a gravidez na adolescência atinge em maior expressão a população de baixa renda pelas condições impróprias de vida das adolescentes inseridas nesse grupo, que ficam expostas há vários tipos de desigualdades como renda, gênero, violência, além do acesso limitado ou não acesso a serviços e recursos de saúde e educação", conta Lindamar.

A educação sexual ainda é a estratégia mais promissora para a redução da gravidez na adolescência e a prevenção de doenças. Para que o adolescente adote uma postura saudável que lhe possibilite o sexo seguro e responsável é preciso um trabalho educativo de orientação sexual nas escolas, instituições, ONGs, etc..

"O adolescente precisa entender que é responsável pelo seu corpo e por suas vontades, mas também entender que as decisões tomadas podem trazer consequências a sua vida. O caminho para isso é sem sombra de duvida, a educação sexual!", finaliza a professora.

Educação sexual nas escolas ainda é um tabu?

Para Thaís Gutierrez, de 39 anos, formada em comunicação e pós graduada em educação em sexualidade, a população tem avançado bastante no entendimento da pauta e , embora o país ainda seja muito conservador, as pessoas tem entendido o quão importante e necessária é a presença dessa matéria nas escolas.

"Eu costumava dizer que é ingenuidade nossa acreditar que ainda não devemos falar sobre sexualidade, sendo que as crianças estão em contextos que há exposição crescente a materiais sexualmente explícitos. Hoje eu digo que não é apenas ingênuo, chega a ser criminoso", diz Thaís.

O primeiro acesso à pornografia acontece entre os 7 a 9 anos e e 1/3 das crianças entre 10 e 14 anos acessam esse tipo de conteúdo com frequência. Thais conta que, além de educar as crianças, é necessário educar os pais para que saibam lidar com isso de uma maneria correta.

"Existe a necessidade de políticas públicas que viabilizem projetos de educação integral em sexualidade, principalmente com foco na prevenção ao abuso sexual contra crianças e adolescente de forma ampla e integrada, integrando as famílias e escola nos projetos com os mesmo conteúdo.", conta a educadora.

Relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas (ONU) apontam que jovens que recebem educação sexual não antecipam o início da vida sexual, pelo contrário. Essas pessoas iniciam sua vida sexual com maior responsabilidade, utilizando preservativos e anticoncepcionais para prevenir doenças e gravidez precoce. Para Thais, proporcionar aos jovens conhecimentos e habilidades é essencial para que possam fazer escolhas responsáveis na vida.

"Educação integral em sexualidade permite que desenvolvam valore positivos, respeito a diversidade e que se relacionem de forma segura e saudável. Educação em sexualidade não vai ensinar sexo de forma inapropriada para as faixas etárias, a informação protege! Ela não tira a criança da ingenuidade e sim da ignorância que a deixa vulnerável", finaliza Thais.

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