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Filhos que deram golpe de mais de 50 milhões em idoso de 88 anos mentem em depoimento na delegacia

Promotoria arquiva inquérito, mas vítima denuncia falsas acusações e manipulações contábeis

Flexform. - Imagem: Divulgação
Flexform. - Imagem: Divulgação

por Marina Milani

Publicado em 11/04/2024, às 14h56


Em 2009, Ernesto Iannoni, fundador da renomada fabricante de cadeiras de escritório Flexform, foi vítima de um golpe financeiro planejado por seus próprios filhos, Pascoal e Marco Ianonni. Desde então, ele tem lutado incansavelmente na Justiça, enfrentando obstáculos legais que dificultam o avanço das investigações.

O inquérito policial, sob o número 1501963-78.2020.8.26.0224, foi aberto para investigar o caso, e o promotor Fernando dos Anjos determinou diversas diligências, incluindo depoimentos de testemunhas e uma perícia contábil. Em dezembro de 2023, o promotor reconheceu a gravidade das alegações de Ernesto e solicitou uma nova avaliação pelo Instituto de Criminalística para apurar possíveis crimes, incluindo associação criminosa, lavagem de dinheiro e fraudes tributárias.

No entanto, em janeiro de 2024, sem novas provas substanciais que justificassem a alteração de sua posição, o promotor decidiu pelo arquivamento do inquérito. Esta decisão abrupta interrompeu a possibilidade de uma nova perícia e deixou muitas questões sem resposta, causando indignação na vítima e em seus representantes legais.

Ernesto diz que seus filhos Pascoal e Marco faltaram com a verdade em seus depoimentos na delegacia, colhidos em 10/10/23. Pascoal e Marco afirmaram em seus depoimentos que a Valliun - empresa que subavaliou o valor de mercado da Flexform – teria sido contratada por Ernesto, e que era de confiança do fundador há mais de 30 anos, fato que não é verdadeiro. A 1ª cláusula do contrato de compra e venda, da conta que a Valliun foi contratada pela Flexform e não pelo fundador, como falsamente afirmam os filhos da vítima (fl. 332 - Ação Anulatória 3003443.73.2013.8.26.0123).

Em depoimento à polícia, os filhos da vítima fazem acusações falsas contra o pai, alegando que ele questionou o laudo da Valliun após o recebimento de valores, fato que não é verdadeiro. Pascoal e Marco Iannoni haviam prometido entregar o referido laudo até 30 de outubro de 2010. No entanto, em um movimento considerado desonesto, entregaram um laudo considerado inútil em abril de 2011, após o Sr. Iannoni ter assinado a cisão da empresa IANNONI no final de fevereiro, cedendo a maior parte da companhia a ambos. Esses detalhes estão documentados nas folhas de número 213 a 293 da ação anulatória.

Logo após analisar o laudo em questão, o Sr. Iannoni redigiu uma carta datada de 30/04/2011, na qual criticou severamente o documento. Ele classificou o laudo como negligente ou corrupto imediatamente após sua leitura, identificando e destacando mais de 15 falhas no mesmo. Estas observações estão detalhadas nas folhas 294 a 298 dos autos da ação anulatória.

A Valliun, na tentativa de contornar a situação, elaborou um segundo laudo ainda mais questionável do que o primeiro, ajustando valores para tentar adequar ao lançado no primeiro laudo. Detalhes dessa avaliação podem ser encontrados nas folhas 352 a 406 da ação anulatória.

Os filhos, em meio a um debate em uma propriedade em Caraguatatuba com o pai, se comprometeram a apresentar um novo laudo da FLEXFORM com o intuito de persuadir o Sr. Iannoni a desistir de uma ação de execução. Durante a discussão, seus filhos insistiam que o valor da empresa girava em torno de 200 milhões e, na tentativa de convencer o pai, prometeram elaborar um novo documento de avaliação.

Ainda no intuito de ludibriar o pai, Marco Iannoni elaborou um manuscrito em 28/06/2013, (fl. 2804 da ação anulatória), desta vez avaliando a empresa em R$ 180.000.000,00, detalhes do qual podem ser encontrados nas folhas 2731 a 2803 da mesma ação.

Como parte deste acordo, o Sr. Iannoni desistiu de prosseguir com a execução e a contestação, na qual já em 2012 acusava Marco e Pascoal Iannoni de enriquecimento ilícito e crimes fiscais. A contestação, inclusa nos documentos da carta precatória, está registrada nas folhas 2037 a 2064, servindo como prova das alegações.

No dia 30 de agosto de 2013, data marcada para a assinatura do laudo solicitado por Marco Iannoni, conforme descrito no documento anteriormente mencionado, os dois indivíduos em questão recusaram-se a assiná-lo. Até então, o Sr. Iannoni já havia desistido da execução.

Marco e Pascoal Iannoni afirmaram em seus depoimentos na polícia ter realizado todas as operações contábeis em conformidade com a legislação atual, o que claramente não corresponde à verdade, segundo o genitor. Eles ainda saem em defesa de Claudio Rodrigues de Abreu, que foi penalizado pelo Conselho Regional de Contabilidade de São Paulo devido às irregularidades encontradas na contabilidade da FLEXFORM, conforme documentado nas fls. 1410 a 1418 da carta precatória.

Pascoal e Marco Iannoni justificam a defesa de Claudio Rodrigues de Abreu, pois este acatou instruções para registrar mais de R$ 150.000.000,00 em ativos — como construções, instalações, máquinas e ferramentas — como despesas, visando prejudicar tanto o Sr. Iannoni quanto a Receita Federal. Em 2019, a DINAMARCO destacou em uma petição, constante nas fls. 1840 a 1890 da carta precatória, a grandiosa obra realizada às custas da IANNONI e da FLEXFORM. Esta ação envolveu a não capitalização de lançamentos para evitar a evidenciação de lucros e o consequente aumento do capital social da empresa. Tal petição nunca foi contestada pelos filhos, indicando o reconhecimento da veracidade dos fatos.

A DINAMARCO, em sua petição, assim como o Sr. Iannoni em sua carta datada de 30 de abril de 2011, mencionada anteriormente, afirmou que o valor da FLEXFORM ultrapassava os R$ 200.000.000,00. Essa avaliação foi corroborada por Pascoal e Marco Iannoni, conforme registrado em fls. 737 da ação anulatória, reiterando o conhecimento comum sobre o valor da empresa, afirmação que se repete em fls. 1032 do mesmo processo. No entanto, apesar dessas alegações, devido a estratégias e influência econômica, nenhum laudo ou perícia confirmou um valor superior a R$ 70.000.000,00 para a FLEXFORM até o momento. Para ilustrar as acusações contra Pascoal e Marco Iannoni, destacamos um vídeo institucional que apresenta a renovada FLEXFORM de Cumbica. As imagens mostram instalações de padrão internacional, máquinas computadorizadas de última geração, moldes, ferramentas e mais de 450 novos modelos de cadeiras e poltronas de escritório, evidenciando um investimento superior a R$ 70.000.000,00.

O vídeo em questão detalha os balanços consolidados em 30 de setembro de 2010, marcando a partida do Sr. Iannoni da FLEXFORM, assim como o balanço correspondente à empresa IANNONI. As informações expostas desmentem Pascoal e Marco Iannoni, demonstrando que as alegações sobre a ativação de investimentos na contabilidade foram falsas. Ao contrário do declarado, os investimentos foram registrados como despesas, uma manobra que visou não apenas evadir obrigações fiscais mas também prejudicar o Sr. Ernesto Iannoni.

Entenda o caso abaixo: 

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