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Cinema na Rua Augusta que existe há quase 30 anos vai ser fechado para dar lugar a prédio

Aos poucos, uma das ruas mais culturais e pulsantes da capital paulista está dando lugar a empreendimentos imobiliários e isso inclui um cinema alternativo

Cinema na Rua Augusta que existe há quase 30 anos vai ser fechado para dar lugar a prédio
Cinema na Rua Augusta que existe há quase 30 anos vai ser fechado para dar lugar a prédio

Redação Publicado em 13/05/2022, às 00h00 - Atualizado às 07h45


Aos poucos, uma das ruas mais culturais e pulsantes da capital paulista está dando lugar a empreendimentos imobiliários e isso inclui um cinema alternativo que se instalou na Rua Augusta em 1995: a unidade do Espaço Itaú de Cinema conhecida como Anexo.

Antes, o Instituto Goethe já usava o casarão, da década de 1950, para exibir filmes em 16mm do cinema novo alemão. O piso ainda é da cerâmica original. No jardim dos fundos, funciona um café.

O Anexo tem duas salas de exibição. Parece pouco, mas com um significado enorme.

O cineasta Ugo Giorgetti falou sobre a importância desse espaço: “Os cinemas que você pode circular como de nível, não passam de 12 salas, 13 salas. Então, quando você perde duas salas, é uma perda muito grande.”

“Quando você pensa, você pensa no imediato, vai fechar um cinema. Mas não é que vai fechar um cinema, fecha a memória do Goethe, fecha a memória de muitos filmes, e depois tem as memórias pessoais. Quantas pessoas você conheceu lá, que influenciaram a sua vida, que, talvez, transformaram sua vida?

Este cinema é um anexo de um outro maior, que fica do outro lado da rua. Geralmente, os filmes que saem de cartaz por lá, ganham uma sobrevida do lado de cá e são exibidos por mais tempo. Mas o espaço está com os dias contados.

Os donos do novo empreendimento – um prédio residencial – que será construído aqui no local deram até fevereiro do ano que vem para o cinema fechar as portas.

No período em que a casa não podia receber o público, o dono do cinema teve que se endividar.

“É uma perda que não é uma perda individual, porque você viu ao longo do tempo, você presenciou, conviveu com ‘n’ artistas e pessoas que conviviam com a arte. O medo que bate não é um local, é que isso pode ser a expressão de outros locais se perderem. Quando você olha o tecido social de uma cidade, todo mundo admira Paris, mas não toma os cuidados que Paris toma para permanecer com seu modo de vida, para fazer do turismo o seu modo de vida”, afirma Adhemar Oliveira, gestor do cinema.

A Rua Augusta tem mais três quilômetros de extensão e liga a região dos Jardins ao Centro histórico da capital. Pelo Plano Diretor da cidade, é uma ZEU: Zona de Eixo de Estruturação da Transformação Urbana. Ou seja, uma área prioritária da cidade com transporte por perto para receber mais prédios residenciais e comerciais.

Se esses empreendimentos tiverem uma área entre 10 mil e 20 mil metros quadrados, eles são obrigados a dedicar 25% da fachada para comércios e lojas. E a área para o público, incluindo a calçada, tem que ter no mínimo 4 metros de largura.

O problema é que essas regras nem sempre são cumpridas e muitos estão com a fachada completamente coberta, de ponta a ponta, com muro ou grade.

Paula Santoro, coordenadora do Labcidade da Universidade de São Paulo (USP), lembra que “os eixos de estruturação urbana do Plano Diretor de 2014 de São Paulo, preveem uma série de instrumentos para que tenha mais gente morando e que tenha um desenho urbano que promova mais vida na rua”.

“Mas, na prática, o que a gente está vendo em vários pedaços da cidade, na Rebouças, e agora na Augusta também, é uma verticalização que tem muitas unidades. Estimulando uma mudança de uso, que antes, no caso da Augusta, por exemplo, tinha uma série de bares, atividades. Então a valorização imobiliária como um todo, ela tem matado a vida na rua, ao invés dela estimular essa vida da rua, que era o que a gente queria com a regularização”, afirma.

Em relação a imóveis que não estejam cumprindo a Lei de Zoneamento, a Prefeitura de São Paulo informou que realiza fiscalizações e que, se constatar irregularidade, pode multar o empreendimento em até R$ 130 por metro quadrado.

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G1

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