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Mulheres em situação de violência vão trabalhar no SP Fashion Week; entenda iniciativa

O projeto da Prefeitura ajuda o público feminino vulnerável a se recolocar no mercado de trabalho

O programa 'Tem Saída' inclui mulheres que sofrem violência para trabalhar no desfile da São Paulo Fashion Week. - Imagem: reprodução I Freepik
O programa 'Tem Saída' inclui mulheres que sofrem violência para trabalhar no desfile da São Paulo Fashion Week. - Imagem: reprodução I Freepik

Juliane Moreti Publicado em 22/05/2023, às 16h27


O programa 'Tem Saída', da Prefeitura de São Paulo, inclui mulheres que sofrem violência doméstica ou familiar para trabalhar no desfile da São Paulo Fashion Week (SPFW), que acontece nos dias 25 a 28 de maio, no Komplexo Tempo. 

A iniciativa, que acontece desde 2021, é uma parceria que tem o objetivo de ajudar o público feminino a conquistar a independência financeira e sair do ciclo vicioso das agressões. 

Outra ajuda também acontece pelo  programa municipal Fashion Sampa, que estimula o mercado na moda na capital e atua em conjunto o In-mod (Instituto Nacional de Moda e Design) e a SPFW. 

''(A parceria) reúne esforços para combater a violência contra as mulheres. As mulheres que vivenciam a violência doméstica muitas vezes são impedidas de trabalhar, de sair livremente e vivem em isolamento'', comenta Aline Cardoso, secretária municipal de Desenvolvimento Econômico e Trabalho. 

''É visível como a experiência de estar trabalhando, com autonomia, em um evento grande como esse ajuda a restaurar a vitalidade e a autoconfiança delas, além de garantir a tão necessária renda extra'', acrescenta. 

Dessa vez, na última quinta-feira (18), o Centro de Apoio ao Trabalho e Empreendedorismo (Cate) pré-selecionou 16 mulheres para passarem pelo processo seletivo.

Este, por sua vez, aconteceu em formato de conversa, com interações entre as participantes e as coordenadoras do In-Mod, com, inclusive, compartilhamento de histórias e relatos. 

Conforme os dias foram fluindo, as 5 selecionadas já foram escolhidas e, a partir desta terça-feira (23), irão iniciar o treinamento junto à equipe da SPFW, para conhecer o funcionamento dos backstage do evento e poderem trabalhar com as intruções corretas. 

Entre as suas funções nos batidores do desfile, estão a parte da monitoria de acesso ao evento, que inclui o controle da entrada e saída de pessoas, organização de assentos e instrução da entrada para a sala de desfile.

Programa Tem Saída 

A iniciativa está aberta desde 2018 na capital paulista, voltado à autonomia financeira e empregabilidade da mulher, com foco nas que sofrem algum tipo de violência. 

Logo após receber atendimento pelos órgãos de Justiça e da rede municipal de apoio à mulher, com equipes técnicas e de recursos humanos, a vítima pode ser integrada ao programa 'Tem Saída' e é encaminhada ao Cate. 

A ação é uma parceria entre a Secretaria de Desenvolvimento Econômico e Trabalho, Ministério Público, Defensoria Pública, Tribunal de Justiça, OAB-SP, ONU Mulheres e Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania.

Quanto o programa pode ajudar uma mulher? Veja relatos! 

História 1 - Violência doméstica 

Uma das participantes, com formação em Educação Física, passa por violência doméstica e decidiu apostar nos programas oferecidos pelo governo: Tem Saída, Tribunal de Justiça, na Delegacia da Mulher e no Cate.

''Eu deixei de trabalhar por causa dele (companheiro). Apesar de ter nível superior, ele não me deixava trabalhar, sempre inventava alguma coisa para eu não poder sair de casa'', disse. 

''Depois de tudo que eu passei, de me afastar tanto do mundo do trabalho, eu sou muito grata ao acolhimento que recebi em todos os lugares'', comentou, sobre o impacto que percebeu ao procurar ajuda governamental. 

''Às vezes, mesmo se você consegue alguma coisa legal, quando fala que estava desempregada porque passou por violência doméstica as pessoas já vão te segregando'', afirmou, sobre a realidade no mercado de trabalho.

''Então, é indispensável ter essa iniciativa que propõe um olhar compreensivo e conversa antecipadamente com as empresas. São mulheres que realmente tem capacidade, mas sofreram algum tipo de violência e estão em processo de superação'', disse. 

História 2 - Violência patrimonial 

''Estou inserida no Tem Saída há dois meses e ele está ajudando a me recolocar profissionalmente mais rápido, com acompanhamento'', disse outra participante que foi pré-selecionada, destacando a importância do programa. 

''Uma das violências que sofri foi a patrimonial. Fiquei sem o meu imóvel e agora estou sem onde morar, mas ainda tenho que pagar os impostos'', comentou, sobre a sua dificuldade.

''Com 54 anos, ainda tenho alguns anos para contribuir com o mercado de trabalho e quero estar ativa – até já consegui voltar a estudar, fazer cursos! O 'Tem Saída' oferece um atendimento específico para situações como a minha e parabenizo muito a todos os profissionais envolvidos'', reforçou. 

História 3 - Violência doméstica 

''Fiquei sabendo do programa por meio da casa de acolhimento na qual estou morando, da rede Fala Mulher, um lugar transformador'', comentou. 

Isso porque o programa 'Tem Saída', tem parcerias com outras empresas que estão, inclusive, alinhadas com as causas do público feminino e a busca pelo combate às violências contra as mulheres, incluindo a inserção ao mercado de trabalho.

''A iniciativa está ajudando as mulheres a sair do ciclo de violência e recomeçar a vida. Eu mesma vou recomeçar a minha do zero. Saí só com a roupa do corpo e minha filha de casa'', contou outra participante, que está há 19 dias inclusa no programa.

''Mas agora estou bem, estou tranquila, estou fazendo acompanhamento psicológico e estou bem feliz'', disse a participante, que, agora, assinou um contrato para um emprego fixo em um hospital através das iniciativas.

''Eu não pretendo voltar a morar na região da qual eu saí, não pretendo ter mais contato com o agressor e nem com pessoas próximas a ele. Vou reconstruir minha vida em outro lugar, com minha filha, bem tranquila, trabalhando'', revelou. 

Fashion Sampa 

O Fashion Week é relacionado à moda, com o intuito de formentar esse mercado. Contudo, promove ações voltadas à qualificação profissional e geração de renda, iniciativas educativas, ambientais, trabalha com a conscientização e o combate à pirataria e a erradicação do trabalho análogo à escravidão. 

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