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O Brasil “não está preparado para carro elétrico”

O Brasil “não está preparado para carro elétrico” - Imagem: Reprodução | X (Twitter) - @@gazetadopovopr
O Brasil “não está preparado para carro elétrico” - Imagem: Reprodução | X (Twitter) - @@gazetadopovopr
Agenor Duque

por Agenor Duque

Publicado em 21/05/2024, às 10h12


Ex-ministra do governo Bolsonaro diz que seu veículo elétrico da marca BYD sofreu uma pane e a marca demonstra falhas na estrutura para atendimento.

Os carros elétricos chineses têm se consolidado no Brasil como campeões de vendas no segmento. Uma das marcas mais populares é a BYD, que está construindo uma fábrica na Bahia, o que resultará em diminuição no preço e, consequentemente, popularização de seus automóveis.

O problema é que a marca parece não ter construído uma rede eficiente para atendimento de emergências com seus veículos. A ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Cristiane Britto, sofreu com uma falha no sistema de seu BYD quando passava pela rodovia BR 060. Ela publicou um vídeo em suas redes sociais no dia 16 de maio, relatando que o carro “descarregou a bateria quando no painel indicava autonomia de 20 km”.

Ainda segundo ela, ao ligar para a assistência, decepcionou-se “com a evidente falha no serviço prestado. Meia hora de interrogatório (inclusive sobre a data da aquisição) para saber dados técnicos do carro que eles já deveriam ter no sistema!”.

Cristiane chamou um guincho que levou o carro até o posto de recarga mais próximo, que fica a 10 km do local onde seu carro parou. No vídeo ela conta ainda que a BR 060 possui dois pedágios controlados pela concessionária Triunfo CONCEBRA. Quando solicitou assistência, foi informada de que só poderiam levá-la até um posto de gasolina. Obviamente não seria solução, pois o carro não usa combustível fóssil.

Como o ponto de recarga estava a menos de 10 km do local da pane, Cristiane sofreu também com a falha de prestação de serviço da concessionária. “Uma vergonha isso! Definitivamente, o Brasil não está preparado para carros elétricos”, sentenciou; a publicação já ultrapassou 70 mil curtidas.

A ex-ministra alertou aos proprietários de carros da BYD a não confiarem na indicação de percentual da carga de bateria no painel, pois “não corresponde à quilometragem a percorrer, o que induz o motorista a erro!”

O caso chamou atenção, pois a Cristian é uma pessoa pública, o que, possivelmente, não ocorreria se a dificuldade ocorresse a pessoas comuns. Os problemas da comercialização do BYD Dolphin, campeão de vendas no país, já foram tratados por diversas publicações de sites especializados.

O Garagem 360 mostrou que a BYD anuncia que os carros vendidos no Brasil têm garantia de 5 anos para o carro e 8 para a bateria, esse último sem limite de quilometragem.Contudo, muitos itens essenciais para o bom funcionamento do automóvel não estão inclusos nesse período de proteção. Alguns itens são cobertos por apenas 3 meses, prazo mínimo previsto na legislação brasileira, ou 5 mil quilômetros. Pelo fato de as peças serem importadas, isso encarece a manutenção.

A falta de pontos de recarga é outra dificuldade. Em um país continental como o Brasil, são apenas cerca de 4.600, segundo A Abve (Associação Brasileira do Veículo Elétrico), mais da metade deles nas regiões Sul e Sudeste. Quase um terço destes estão no Estado de São Paulo.

Assim, a afirmação de que o “Brasil não está preparado para carros elétricos” não é exagero. O país simplesmente não possui políticas públicas eficazes para a circulação e fiscalização dos veículos elétricos. Apesar disso, a frota aumenta em cerca de 20 mil unidades por ano.

O Congresso Nacional debate, desde 2021, o Projeto de Lei 2156/2021, que dispõe sobre as “Diretrizes para a Política Nacional de Mobilidade Elétrica”. Segundo a ficha de tramitação, ela “aguarda parecer do(a) Relator(a) na Comissão de Viação e Transportes (CVT)”. Ao mesmo tempo, o presidente Lula assinou, em dezembro de 2023, a Medida Provisória 1.205, que cria o programa nacional de Mobilidade Verde e Inovação (Mover).

A legislação amplia as exigências de sustentabilidade da frota automotiva e estimula a produção de novas tecnologias nas áreas de mobilidade e logística. Porém, não traz nenhuma medida efetiva sobre a infraestrutura necessária para a facilitar a circulação desses veículos. O ocorrido com a ex-ministra Cristiane Britto, que sofreu com o descaso tanto da fabricante BYD quanto com a concessionária Triunfo CONCEBRA é um exemplo de que algo precisa ser feito com urgência.

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