por Agenor Duque
Publicado em 17/05/2024, às 06h00 - Atualizado às 08h56
As imagens das inundações recentes no Rio Grande do Sul chocaram o Brasil e o mundo. O número de mortes oficialmente é de 150, mas é alta a probabilidade de que esse número se multiplique rapidamente quando as águas baixarem de vez.
Menos chocante são as notícias vindas do norte da Itália. A cidade de Milão entrou em alerta nesta quarta-feira (15) após o rio Lambro transbordar. Ruas e praças ficaram alagadas e muitos prédios foram evacuados. Em alguns pontos a água subiu um metro e meio.
Chuvas fortes atingiram a região da Lombardia nos últimos dias e algumas áreas acabaram inundadas. As províncias mais afetadas são Milão, Varese e Lodi. Não há registros de mortes.
Em Milão a coisa não foi pior porque existe um tanque que protege os bairros Niguarda, Pratocentario e Isola. Um sistema que previne possíveis inundações do rio Seveso. Desta vez ele não foi tão eficaz, pois acabou transbordando devido ao volume de água ser acima do previsto para o mês de maio.
"Os níveis dos rios aumentaram com as chuvas durante a noite. Mais uma vez esta obra vital entrou em operação e está protegendo a nossa cidade", explicou o conselheiro de Segurança e Defesa Civil de Milão, Marco Granelli, à agência de notícias ANSA.
Segundo o IBGE, Porto Alegre tem 1.332.570 habitantes. Milão tem 1.404.239. Obviamente há que se levar em conta as diferenças geográficas, como as características do Rio Guaíba e do Rio Lambro. Mas a grande diferença nos impactos de enchentes está no planejamento urbano de cidades de grande porte.
A questão é que o Estado gaúcho se preparou para as enchentes. Ativistas e “especialistas” ouvidos pela mídia colocam tudo na conta das mudanças climáticas. Contudo, em 1941 houve uma enchente nas mesmas proporções que a de 2024.
Embora não haja nenhum levantamento oficial, há indícios de que, na verdade, grande parte do desastre poderia ter sido evitado e muitas vidas salvas. O site GZH, o maior portal de notícias do Rio Grande do Sul, afirmou em uma matéria que: “uma série de falhas resultou na transformação da estrutura que deveria manter a Capital a salvo da cheia em um obstáculo que passou a atrasar o escoamento. Falta de manutenção, problemas de projeto e descuido até com um sistema básico de vedação precipitaram uma cadeia de eventos que resultou nesse desastre urbano. Por isso, os rios Guaíba, Jacuí e Gravataí venceram a batalha contra as defesas metropolitanas mesmo sem atingir a cota de enchente calculada em seis metros.”
Além da conhecida ineficácia do poder público em ações preventivas, a calamidade enfrentada pelos gaúchos deixa um alerta sobre como deveríamos pensar em políticas públicas eficazes para que isso nunca mais se repita em Estado algum.
O maior exemplo de como proceder vem dos Países Baixos (antiga Holanda). Grandes cidades, como Roterdã, estão abaixo do nível do mar. Os holandeses contam com 17,5 mil quilômetros de diques e lagos que represam a água do mar e impedem que o país submerja.
Nova York fica na região de confluência do Rio Hudson com o Oceano Atlântico. A solução para evitar alagamentos são grandes jardins alagáveis. São as chamadas “cidades esponja”, que possuem plantas com grande capacidade de absorção de água.
Na Ásia também há soluções que mostram sua eficácia. A China possui várias cidades grandes que ocupam planícies alagáveis e usam um sistema parecido de prevenção. Em Tóquio há um sistema de 6,3 quilômetros de túneis e câmaras subterrâneos que conduzem a água da chuva numa enorme estrutura conhecida como "catedral", com pilastras com 500 toneladas. Elas começaram a ser construídas após uma grande tempestade que destruiu mais de 30 mil casas e ceifou mais de mil vidas.
A lista poderia incluir muitas outras ações eficazes de prevenção a enchentes. O custo da má gestão, nas instâncias municipais, estaduais e federais, mostra que a história contada nos jornais do Brasil este mês poderia ser muito diferente.
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