Um ano após a morte de Marina Kohler Harkot, os pais e o viúvo da ciclista estão convictos de que o motorista que a atropelou em São Paulo não cometeu um
Redação Publicado em 08/11/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h16
Um ano após a morte de Marina Kohler Harkot, os pais e o viúvo da ciclista estão convictos de que o motorista que a atropelou em São Paulo não cometeu um acidente, mas, sim, um assassinato.
“Brutal e desnecessário e estúpido atropelamento”, disse o oceanógrafo Paulo Garreta Harkot, de 61 anos, pai de Marina.
“Não é acidente, isso tem que ser punido. Atropelar ciclista não é acidente”, falou a bióloga Maria Claudia Kohler, de 57 anos, mãe dela.
“Marina foi assassinada por um motorista bêbado em altíssima velocidade”, afirmou o jornalista Felipe Burato, de 39 anos, sobre a esposa, que estudava maneiras de tornar o trânsito mais seguro e menos violento e, no entanto, se tornou mais uma vítima dele.
Socióloga, cicloativista e pesquisadora sobre mobilidade urbana, Marina tinha 28 anos quando foi atropelada e morta pelo empresário José Maria da Costa Júnior, na madrugada de 8 de novembro de 2020, na Zona Oeste da capital. Ele dirigia um Hyundai Tucson. Dentro do veículo, levava um casal de amigos.
Vídeos e testemunhas, no entanto, reforçam a acusação do Ministério Público (MP) de que José Maria bebeu antes de dirigir e guiava em alta velocidade. Atualmente ele tem 34 anos e responde em liberdade pelo crime de homicídio por dolo eventual, quando se assume o risco de matar. Ele também é acusado de dirigir sob efeito de álcool e fugir do local do acidente.
O motorista teve a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa por determinação da Justiça. Ele ainda está impedido de frequentar bares ou outros estabelecimentos que vendam bebida alcóolica.
No próximo dia 24, a Justiça realiza no Fórum Criminal da Barra Funda a primeira audiência do caso para começar a decidir se há indícios de crime contra o empresário. Se houver, o réu será levado a júri popular por homicídio, onde será julgado por sete jurados. Em caso de condenação, a pena pode chegar a 30 anos de prisão.
“Não há uma prova material de que o José Maria tenha ingerido bebidas etílicas naquele dia”, disse ao g1José Miguel da Silva Júnior, advogado do empresário. Para o seu defensor, o crime deveria ser reclassificado como homicídio culposo, sem intenção de matar.
“A expectativa é muito alta em relação à audiência já que os fatos se deram há um ano. A ausência da Marina é sentida por todas e todos durante esse tempo todo e por não ter havido, ainda, a responsabilização do motorista, a angústia se torna maior”, falou a advogada Priscila Pamela Santos, que defende os interesses da família da vítima. “Ela se mostra essencial como resposta da sociedade que não aceita mais a utilização de veículos como armas e o privilégio dos carros em detrimento de vidas.”
“A gente quer justiça. Não que vá trazer nossa filha de volta, mas que sirva como exemplo de como não pode ser jamais, jamais a pessoa bêbada, em alta velocidade e que não socorre [a vítima de atropelamento]. Jamais pode acontecer”, falou Claudia.
Os pais e o marido da ciclista disseram ainda ao g1 que, mesmo que José Maria seja punido por este crime na Justiça, o poder público ainda precisa criar políticas inclusivas para dar mais segurança a outras pessoas que usam bicicletas na cidade.
“O Brasil tem uma capacidade de destruir essas pessoas com potencial assim por destruição de políticas públicas arduamente construídas… por políticas genocidas”, comentou Paulo a respeito do fato de a prefeitura ter aumentado, desde 2017, a velocidade máxima de algumas vias de São Paulo. “Qual é a justificativa de se voltar a aumentar a velocidade?”
“Desde que começou a pandemia, o trânsito virou uma verdadeira selvageria”, afirmou Felipe. “Marina foi assassinada por um motorista bêbado. Não existe blitz lei seca.”
Desde a morte de Marina, o caso ainda repercute nas redes sociais, mobilizando ciclistas e provocando protestos pontuais nas ruas.
Neste sábado (6), por exemplo, parentes e amigos de Marina a homenagearam com uma bicicletada que saiu do local onde ela foi atropelada até o Centro, onde morava. O movimento Pedale com Marina tem o objetivo de levar à frente os projetos da cicloativista.
“A bicicleta dela ficou… Tá, tá guardada numa garagem, assim. Não fiz nada ainda com ela. Eu quero. Enfim, ficou bem detonada, eu ainda não tive… eu, na verdade o que eu gostaria era arrumar a bicicleta e voltar a rodar com ela. Acho que é o que a Marina gostaria também”, lembrou Felipe.
Já os dois amigos que estavam com José Maria no carro no momento do atropelamento de Marina, foram acusados pelo MP de omissão de socorro. A estudante Isabela Serafim e o auxiliar de escrevente de cartório Guilherme Dias da Mota, ambos de 21 anos, respondem ao crime em liberdade, mas em outro processo, por decisão da Justiça.
A audiência deles ainda não foi marcada pela Vara do Juizado Especial Criminal, onde um juiz julga diretamente crimes de menor potencial ofensivo. Se houver condenação, a pena para o crime de omissão não ultrapassa dois anos de prisão. Neste caso, a punição costuma ser convertida em prestação de serviços à comunidade.
Quando falaram no 14º Distrito Policial (DP), em Pinheiros, Isabela e Guilherme confirmaram que o motorista havia bebido no bar e depois dirigiu. Os dois, no entanto, alegaram que também não viram o atropelamento.
O g1 não conseguiu localizar as defesas de José Maria, Isabela e Guilherme para comentarem o assunto até a última atualização desta reportagem.
Socióloga formada pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP), Marina tinha ainda o título de mestre pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP com a dissertação “A bicicleta e as mulheres: mobilidade ativa, gênero e desigualdades socioterritoriais em São Paulo”.
Ela também era pesquisadora do Laboratório Espaço Público e Direito à Cidade (LabCidade), na FAU-USP, onde fazia doutorado na área de planejamento urbano e regional. Atuou ainda como consultora em planejamento urbano, elaborando planos diretores municipais e políticas inclusivas para mulheres.
Na sexta-feira (5) a FFLCH-USP inaugurou a sala Marina Kohler Harkot em homenagem à ciclista.
“É um lugar de encontro dos mais diversos conhecimentos, um espaço para criar novas formas de resistência e mecanismos para uma sociedade mais humana”, informa a página oficial do Centro Acadêmico do curso de Ciências Sociais da USP no Instagram. “A sala cria a memória de Marina, que acreditava em uma sociedade mais igualitária e justa, e faz com que lembremos que a luta por direitos deve ser constante.”
Defensora do ciclismo urbano, Marina participou do Conselho Municipal de Transporte e Trânsito da cidade de São Paulo e foi membro da Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo (Ciclocidade).
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G1
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