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Mãe de bicho também é mãe? Tutoras de pets garantem que sim

Mãe de bicho também é mãe! É o que garantem tutoras de animais de estimação.

Mãe de bicho também é mãe? Tutoras de pets garantem que sim
Mãe de bicho também é mãe? Tutoras de pets garantem que sim

Redação Publicado em 13/05/2018, às 00h00 - Atualizado às 14h54


Mãe de bicho também é mãe! É o que garantem tutoras de animais de estimação.

“Dá trabalho igual a filho”, afirma a fotógrafa de 37 anos Cacá Weber.

Ela e a esposa Fabiana Weber, que também tem 37 anos e é médica, têm cinco filhos pets.

São três cachorras – Max, Mel e Tapioca –, a tartaruga Hulk e a coelha Cookie. A shih-tzu Mel é a mais tem velha, tem dez anos. A caçula é a Cookie, de 50 dias.

Com duas mães em casa, o carinho é duplicado: “São mimadas duplamente”.

“Cada uma tem a sua personalidade. A gente tem que tratar de maneira diferente cada uma. Uma é mais independente, outra é mais manhosa, outra precisa de mais cuidados”, explica.

Junto com o papel de mãe, vem a responsabilidade. “Tem gente que tem bichinho em casa e esquece que é um serzinho, que precisa de atenção, que não é um bichinho de pelúcia”.

Para Cacá, as obrigações vão além de alimentar e dar abrigo. Ela lembra de afazeres que devem fazer parte do dia a dia de quem tem animal de estimação.

“Vacinar. Levar para passear. Educar. Você precisar dar limite, mostrar o que pode e o que não pode”.

Na hora de escolher a filha favorita, Cacá sai pela tangente. “Todas são preferidas. Cada hora uma é a preferida”, diz.

Contudo, Cacá entregou Fabiana e contou que a Tapioca é a mais especial para a esposa.

“Ela fala que não, mas acho que ela gosta mais da Tapioca. Foi ela quem encontrou no Facebook, quando estavam pedindo ajuda”, relata. Tapioca é uma vira-lata cega e foi adotada.

‘Me considero mãe’

Nayran Belo Bueno, de 25 anos, é a mãe de Zara, uma golden retriever de um ano e quatro meses.

“Me considero mãe. Comparo com uma relação de mãe e filho. Tenho como referência a relação da minha mãe comigo: o cuidado, o dar bronca, chamar atenção, tentar ensinar o certo”, diz a analista de marketing.

Nayran ganhou Zara de Guilherme Bueno, com quem é casada desde março. A filha peluda foi, inclusive, daminha do casamento civil.

Eles pretendem ter filhos humanos daqui dois ou três anos, mas a analista de marketing não quer mudar o convívio com a Zara.

“Eu pretendo que não mude, da minha parte tenho certeza que não vai mudar. Quero que a Zara tenha relação de irmã com o bebê”, afirma.

Nayran também se recorda da mudança que houve na sua vida, com a chegada de Zara. Ela já tinha tido cachorro em outras fases, o que era diferente, já que a responsabilidade não era toda dela.

“Muda tudo. É como se tivesse um filho mesmo. Muda nossa visão. Nem tudo a gente pode fazer. Se está doente, não vai deixar sozinho. Tem a parte financeira, tem que cuidar para não faltar nada”.

Filhas cacatuas

A empresária Patrícia Maeoka, de 35 anos, é mães de duas cacatuas: a Chloe e a Maria. Ela tem as aves há cerca de um ano e meio. Três cachorros também fazem parte da família, mas eles moram em outro local.

As cacatuas vão junto para o trabalho de Patrícia. Ela é sócia e proprietária de um pet shop. Lá, as aves ficam em um viveiro.

“Preciso passar [pelo viveiro] de tempo em tempo, dando carinho, vendo se está tudo bem, se tem alimento, se tem água”.

Patrícia diz que as cacatuas ficam de ponta cabeça e gritam para chamar a atenção. E apenas os pais – ou seja, Patrícia e o marido Eduardo – que suprem a carência das aves. “Enquanto a gente não vai, elas não param”, afirma.

Uma das cacatuas de Patrícia (Foto: Arquivo pessoal)

Uma das cacatuas de Patrícia (Foto: Arquivo pessoal)

“Não imaginei que elas precisassem de tanta atenção”, relata a empresária.

Em casa, as aves ficam soltas pelo apartamento. Segundo Patrícia, sobem na cadeira, no sofá. “Gostam de ficar junto”, conta.

Sempre que possível, Patrícia leva as filhas cacatuas para onde vai.

Chloe e Maria são 'filhas' da empresária Patrícia Maeoka

Chloe e Maria são ‘filhas’ da empresária Patrícia Maeoka

“Família com bebê leva tudo que precisa. Com elas, não é diferente. Levo gaiola, alimento, brinquedo. O carro vai sempre cheio. A gente dá prioridade por viagens mais rápidas e que possa ir de carro para levar elas junto”, conta.

Apesar de o contato ser maior com as cacatuas, Patrícia diz que se sente mãe de todos os pets: “Pelo cuidado e carinho”, explica.

Família multiespécie

A professora do curso de psicologia da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) Cláudia Lúcia Menegatti explica que está havendo uma mudança cultural que ela considera grande e importante.

“Os animais estão deixando a posição de animais de companhia e sendo adotados como filhos”, afirma.

“A família se tornou multiespécie pela posição que os animais passaram a ocupar. Há um vínculo muito amoroso e intenso”, relata.

A professora explica que esse fenômeno sempre aconteceu, porém, agora é mais intenso devido às questões culturais.

Para a psicóloga, essa relação com os pets é positiva no ponto de vista afetivo e da saúde.

“É uma maneira de lidar com a solidão em uma sociedade cada vez mais individualista. Os animais, principalmente os cães, dão carinho e afeto”, afirma.

De acordo com Cláudia, essa ligação é inclusive protetiva para a saúde, sobretudo para os idosos: “Representa envolvimento com a vida”.

Cláudia considera como principal ponto negativo, nessa relação mais humanizada com os bichinhos, a morte deles.

“Quando há essa perda, é sentida como a de uma pessoa muito próxima. Algumas pessoas dizem que perderam o filho, e se sabe que uma das maiores dores é a perda de um filho”, explica.

A sociedade ainda não está preparada para amparar esse sofrimento, conforme a professora. “É necessário acolher a dor das pessoas que perdem os animais de estimação”.

“Existe um tabu social sobre a manifestação dessa dor. A relação com os animais faz muito bem. O risco é a sociedade que não acolhe as pessoas que perdem”, afirma.

Cláudia ainda pondera: “É importante incentivar essas relações com os animais e também as relações humanas”.

Ponto de vista animal

Segundo a veterinária Jaqueline Silveira de Souza, a humanização dos pets deve ser cautelosa. “Se não, perde o sentido de ser bicho. Se passa a ser humanizado demais, isso é ruim para ele”, afirma.

“Alguns tutores tratam como criança, bebê. O animal precisa agir como um bicho, ter contato com outros bichos, ter contato com o sol, a grama”, diz a veterinária.

Jaqueline relata que há casos de animais que só passeiam no colo ou que não se alimentam da forma correta, por causa dos cuidados exagerados dos tutores. Esses tipos de atitudes podem acarretar predisposição para doenças, de acordo com a veterinária, pois os pets acabam não criando imunidade ao externo.

“Precisa cheirar, comer porcaria, para criar imunidade. Além disso, vai ser um cãozinho estressado, que vai viver dentro de um espaço pequeno, já que cada vez mais moramos em apartamentos menores”, explica.

Cachorros devem fazer passeios regulares e ter contato com outros animais e outras pessoas, conforme enfatizou a veterinária.

Jaqueline também explica a necessidade de o tutor educar e exercer o papel de líder perante o pet. “Educar é importante para ele ter uma vida saudável”.

A proximidade entre os animais e os seres humanos pode favorecer a transmissão de doenças – tanto dos pets para os tutores, como vice-versa.

“Então, é preciso tomar mais cuidados: vermifugação em dia, vacinação em dia, ida ao veterinário em dia”, afirma.

Outra cautela considerável é a alimentação, para evitar males aos animais.

“A gente nota que as doenças estão se tornando cada vez mais humanas. Hoje é muito maior a taxa de obesidade e diabetes porque as pessoas dão comida para os bichinhos porque ‘eles olham com vontade’ enquanto os tutores estão comendo. Isso causa malefícios”.

Por outro lado, a veterinária diz que a aproximação dos pets com os tutores proporciona uma dedicação maior, refletindo em visitas mais frequentes ao veterinário, entre outros cuidados.

“Hoje eles são considerados filhos literalmente. Antes, era cão de guarda, passarinho de enfeite. Hoje, eles fazem parte da família”, acredita.

Animais de estimação em números

Curitiba tem 450 mil cachorros, de acordo com a Secretaria Municipal do Meio Ambiente. Deste total, 13,5 mil são abandonados.

No Brasil, são mais de 50 milhões de cães e 22 milhões de gatos de estimação, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O país, conforme a Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), é o 4º maior em população de pets.

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