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Conteúdos violentos: como falar com crianças e adolescentes sobre séries como Round 6

O avanço tecnológico e as plataformas de streaming popularizaram o consumo de produções audiovisuais do mundo todo, mas também possibilitaram o consumo de

Conteúdos violentos: como falar com crianças e adolescentes sobre séries como Round 6
Conteúdos violentos: como falar com crianças e adolescentes sobre séries como Round 6

Redação Publicado em 16/10/2021, às 00h00 - Atualizado às 18h31


Cenas de sexo e violência podem impactar desenvolvimento psíquico e levar crianças a reproduzir conteúdos de filmes e séries.

O avanço tecnológico e as plataformas de streaming popularizaram o consumo de produções audiovisuais do mundo todo, mas também possibilitaram o consumo de séries e filmes com conteúdo violento por crianças e adolescentes.

Recentemente, a escola Aladdin, no Rio de Janeiro, por exemplo, chegou a enviar um comunicado a pais e responsáveis alertando sobre conteúdos de violência, sexo e suicídio apresentados na série que é a febre do momento, “Round 6”, da Netflix. A série tem classificação indicativa de 16 anos.

No comunicado, ao qual o g1 teve acesso, a escola diz que se preocupa com a “facilidade com que as crianças acessam esse material” e reforça que as produções possuem “restrição de visualização por classificação etária, uma ferramenta preciosa para que nossas crianças acessem somente o conteúdo apropriado à sua idade”.

“Sabemos que é responsabilidade da família decidir o que é melhor para suas crianças, mas enquanto educadores temos o dever de alertar e honrar o compromisso com a educação” – Jardim Escola Aladdin.

O problema não é recente. Séries como ‘The Walking Dead’, não indicada para menores de 16 anos, e ‘Sobrenatural’, não indicada para menores de 14, já foram muito populares entre crianças mais novas. No entanto, psicólogos e educadores reforçam a importância de haver um controle, ou, no mínimo, orientação sobre o acesso a conteúdos sensíveis por crianças.

Patricia Bignardi, coordenadora pedagógica da Escola Tarsila do Amaral, em São Paulo, diz que a responsabilidade de verificar o que as crianças consomem em seu tempo livre é principalmente dos pais, mas que a escola tem o dever de orientá-los tanto quanto aos alunos sobre a forma de interpretar e lidar com conteúdos inadequados.

“A escola tem um papel fundamental não só de conversar com as crianças, mas também de alertar as famílias sobre os riscos e consequências de expor a criança a cenas de violência e sexo, por exemplo. Porque, por mais que ela não entenda exatamente do que se trata, vai notar que não é algo presente no seu dia a dia e pode querer reproduzir, mesmo que por brincadeira, com os colegas.”

Segundo ela, o que deve ser feito caso isso aconteça é conversar com a criança para explicar que se trata de uma ficção e que não é algo que deva ser reproduzido na vida real.

Na outra ponta, os pais também precisam ficar alertas para garantir que os filhos não acessem tais conteúdos e que estejam preparados para elucidar questões que podem não ser devidamente absorvidas pelas crianças.

A psicóloga Iolete Ribeiro defende que o respeito à classificação dos conteúdos aos quais crianças e adolescentes têm acesso é indispensável. “O desenvolvimento psíquico de criança e adolescente difere em vários domínios psicológicos do desenvolvimento adulto. Então, o modo de pensar e de interpretar é característico e vai passando por transformações.”

Ela explica que a autonomia intelectual para distinguir o que é realidade e o que é fantasia está em formação em crianças de menos de 12 anos. Por isso, elas ainda não conseguem analisar o efeito das escolhas que fazem, nem mesmo têm capacidade para interpretar esses conteúdos de modo que não tragam prejuízos para seu processo de desenvolvimento.

Iolete, no entanto, não defende a responsabilização de pais e professores e opina que é o estado quem deve regular o acesso e a classificação dos conteúdos.

Confira outras dicas dos profissionais ouvidos pelo g1.

Evite conteúdos inadequados

Não assista conteúdos inadequados a crianças na presença delas. Dê preferência a conteúdos infantis quando estiverem assistindo juntos. Isso mostra que o conteúdo que elas assistem é divertido e interessante e não gera curiosidade sobre assuntos inadequados.

Crie um perfil infantil

Os serviços de streaming oferecem perfis infantis com filtro de conteúdos. Crie uma conta para seu filho e mostre o tanto de conteúdo legal que ele tem acesso. Explique que ele pode assistir o que estiver ali e, caso queira ver algo de outro perfil, é preciso pedir permissão antes. Alguns serviços de streaming oferecem a possibilidade de criar senhas para restringir o acesso a perfis –o que impede crianças de abrir conteúdos dos pais, por exemplo.

A carioca Kathlen da Cunha é mãe de Saulo, de 4 anos, e toma os cuidados necessários para que o filho só assista produções próprias para sua idade. “Ele tem um perfil infantil, então conto com a configuração de segurança que os streamings proporcionam. De minha parte, eu programo, administro e supervisiono pela TV e também assisto junto.”

Confira o que a criança está assistindo

Também é possível acessar o histórico do aplicativo e verificar o que foi acessado anteriormente. Faça isso e confira o que a criança assiste quando está sozinha.

Converse

Se a curiosidade surgir, converse com a criança sobre os conteúdos inadequados. Explique, sem detalhes, o assunto em questão. Por exemplo, diga que agressão é crime e não deve ser cometida, aceita ou reproduzida. Explique que o que ela viu é uma ficção e não deve ser feito na vida real. E se a curiosidade persistir, diga que ela pode sempre perguntar para um adulto de confiança.

Guia da classificação indicativa

No Brasil, as produções audiovisuais veiculadas na TV, em cinemas, distribuídos digitalmente ou por outros meios de comunicação precisam ser devidamente classificadas de acordo com a faixa etária indicada. A orientação é do Ministério da Justiça e está descrita no guia prático de classificação indicativa.

As classificações podem ser:

  • Livre para todos os públicos
  • Não recomendado para menores de 10 anos
  • Não recomendado para menores de 12 anos
  • Não recomendado para menores de 14 anos
  • Não recomendado para menores de 16 anos
  • Não recomendado para menores de 18 anos

Na TV aberta, por exemplo, cenas de sexo, consumo ou alusão a drogas ou violência só podem ser veiculadas a partir de horários específicos e sempre deve apresentar a classificação indicativa. O objetivo é informar aos pais e responsáveis se o que está sendo exibido é ou não recomendado para crianças e adolescentes.

Conteúdos disponibilizados por serviços de distribuição ou de streaming também precisam ser classificados. Mas, como nestes casos o horário de exibição não é controlado, as profissionais ouvidos pelo g1 reforçam a necessidade de um controle parental para evitar o consumo indiscriminado de produções não recomendadas.

Apesar disso, o consumo de conteúdos inadequados não é proibido, desde que seja permitido por um responsável legal que assuma os riscos da exposição não indicada.

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G1

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