Vilarejo ‘deserto’ tem 11 moradores e construções antigas que sobreviveram ao tempo

As pinturas das casas e prédios são desbotadas e as rachaduras das paredes são aparentes. As ruas são desertas e as placas chegam a apresentar ferrugens. É

Vilarejo ‘deserto’ tem 11 moradores e construções antigas que sobreviveram ao tempo -

Redação Publicado em 31/10/2017, às 00h00 - Atualizado às 06h32

As pinturas das casas e prédios são desbotadas e as rachaduras das paredes são aparentes. As ruas são desertas e as placas chegam a apresentar ferrugens. É com esse cenário que as 11 pessoas que moram em Japurá, distrito de Tabapuã (SP), convivem diariamente.

Por causa do pouco movimento e aparência de abandono, o local lembra o cenário de um filme de terror. Mas os poucos moradores garantem que o local não é assombrado e que já foi palco de muitas histórias.

Em 1920, o distrito rodeado por pasto e árvores e distante da poluição, trânsito e demais fatores que fazem parte do dia-a-dia de uma grande cidade, Japurá chegou a ter quase três mil habitantes e o desenvolvimento econômico era crescente.

Mas na década de 1940, a crise do mercado do café e uma grade epidemia de malária foram os principais motivos que fizeram com que Japurá ficasse praticamente abandonada.

O jornalista e pesquisador Geraldo Bellinelo afirma que os trilhos da linha férrea que passava pela região foram arrancados por medo de que o mosquito transmissor da doença entrasse no trem de passageiros. A linha foi desviada a um quilômetro e meio da região.

Poucas construções resistiram ao tempo em Japurá (Foto: Reprodução/TV TEM)

A doença também causou a morte de muita gente, segundo o pesquisador Carlos Roberto Ferreira.

“A malária fez muitas vítimas. Em alguns dias eram de 11 a 12 pessoas sendo enterradas. A doença eliminou muita gente e, quem sobreviveu, foi embora sem a doença. E Japurá não vingou. Ficou tudo abandonado”, explica.

São poucas as construções da época que resistiram ao tempo. A antiga cadeia e o velho armazém são algumas delas. Poucos moradores também decidiram ficar no distrito. É o caso da dona Ana Idalina Braz da Silva, conhecida como “dona Petita”. Ela sobreviveu à malária e hoje é a moradora mais antiga do local.

‘Dona Petita’ é a moradora mais velha de Japurá, distrito de Tabapuã (Foto: Reprodução/TV TEM)

Há 78 anos, dona Petita é a moradora da casa número 4, em um total de 11 imóveis. Debruçada sobre a janela de sua casa cor-de-rosa e com o olhar distante, ela relembra o passado. “Aqui mudou muito. No tempo que eu era criança tinha muita casa, mas conforme foi crescendo virou uma miséria”, diz.

Com a tranquilidade de hoje, ela assegura as saudades do velho trem, que não passa mais ao lado da janela de sua casa.

“Dá saudade da Maria Fumaça passando aqui. O apito que a gente ouve hoje é diferente e agora eu fico só eu e Deus dentro de casa”, conta dona Petita.

Poucas construções de Japurá ficaram intactas (Foto: Reprodução/TV TEM)

Para não dizer que a cidade é tomada pelo silêncio fantasmagórico, uma família que produz espetinhos de bambu também vive na pacata Japurá e garante o barulho do distrito. “Aqui é um lugar quieto, sossegado, não tem barulho de muita coisa. Devido ao trabalho que a gente faz, que usa a serra, aqui é um lugar muito bom porque pode fazer barulho que ninguém reclama”, pontua a autônoma Renata da Silva.

Os demais moradores são velhos solitários e é o caso do aposentado Olavo Delfino. Ele mora na estação férrea e é conhecido como um guardião do prédio. O local tem cozinha, água encanada e cômodos grandes. O “quarto” do guardião do prédio antigo fica na antiga bilheteria da estação.

Olavo Delfino é o ‘guardião’ da estação férrea de Japurá (Foto: Reprodução/TV TEM)

“Graças a Deus não tenho medo de ficar aqui sozinho. Algumas pessoas dizem que o lugar é meio assustador, mas nunca vi nada”, afirma.

O lugar aparentemente assombrado e abandonado por muitos, mas não por todos, por enquanto não vai ficar deserto. Os que moram em Japurá não sairão do vilarejo com facilidade, pelo menos, é o que dizem. “Só penso em deixar esse lugar quando eu morrer”, conclui dona Petita, a moradora mais velha e nostálgica do local.

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