‘Só o tempo vai curar’, diz vendedora que postou fotos após apanhar do namorado

A jovem que publicou fotos das agressões sofridas pelo ex-namorado no Facebook, ação que, segundo ela, foi para alertar e encorajar outras mulheres a

‘Só o tempo vai curar’, diz vendedora que postou fotos após apanhar do namorado -

Redação Publicado em 17/11/2017, às 00h00 - Atualizado às 09h36

A jovem que publicou fotos das agressões sofridas pelo ex-namorado no Facebook, ação que, segundo ela, foi para alertar e encorajar outras mulheres a denunciarem, diz que está se recuperando da violência que nunca imaginou passar com aquele que seria seu companheiro de vida e atribui ao tempo o remédio das feridas.

“Emocionalmente eu estou bem, mas só o tempo vai curar meu coração”, afirma a vendedora Carla Regina Januário, de 29 anos, sobre a humilhação que sentiu ao ser agredida pelo ex, em Votuporanga (SP).

Em entrevista ao G1, ela contou que relatou a agressão e publicou as fotos dos ferimentos na rede social na terça-feira (14), para conscientizar outras vítimas. “Normalmente, quando acontece, a gente fica calada. A gente nunca quer contar para as pessoas, porque a gente se sente muito humilhada”, diz.

O ex-namorado de Carla, com quem teve relacionamento por mais de dois anos, responde em liberdade pelos crimes de ameaça e lesão corporal. A TV TEM entrou em contato com o rapaz, mas ele afirmou que foi orientado por seu advogado de defesa a não se pronunciar.

Segundo Carla, a denúncia contra o ex-namorado não foi feita antes por causa da dependencia financeira que tinha, pois ela relata que não sabia como manter o aluguel da casa onde o casal morava. “Em quatro meses morando juntos, ele me agrediu por três vezes e esta última foi a mais grave. Então decidi não ficar mais calada.”

“Agora eu sei que, se partir para a agressão pela primeira vez, eu já falo para a pessoa cair fora. Porque se aconteceu uma, duas, três vezes, pode chegar o momento que a pessoa vai se descontrolar e pode tirar uma vida.”

A vendedora afirma, ainda, que pensava no suicídio a cada agressão. No entanto, após a denúncia, o apoio de familiares, amigos e de muitas mulheres lhe deu forças para atingir os objetivos. “Eu estou feliz. Nesta sexta-feira (17) volto a trabalhar e a me relacionar com meus amigos. Meu rosto ainda tem marcas, mas não fiz nada de errado. Ele [o ex-namorado] tem que ter vergonha, não eu.”

Carla conta que após a repercussão do caso, o ex-namorado passou a ser ameaçado. “Ele está trabalhando e não quero saber dele. É bom que trabalhe para ocupar a cabeça. Vi que ele excluiu o Facebook porque as pessoas começaram a ameaça-lo. A maior parte das pessoas diz que virou a cara para ele”, diz.

Publicação viralizou

“E assim termina a realização do sonho de dividir o mesmo teto com a pessoa que você ama, seus sonhos, suas conquistas e até seus defeitos. Você fica sem chão, não sabe o que fazer e se pergunta o por que de tudo isso estar acontecendo. Por vezes perde até a vontade de viver. Se sente um lixo, um nada. Uma dor profunda, que dói na alma.”

O desabafo acima foi escrito por Carla ao relatar as agressões do namorado em seu perfil do Facebook. Nas fotos, Carla mostra o lábio e olho direito machucado e inchado. Ao final da publicação, ela conclui: “Desculpem pelo desabafo, mas se você, mulher, estiver passando por isso, é hora de acordar. Diga ‘não’ a qualquer tipo de violência.”

A publicação de Carla tem mais de 3 mil curtidas até esta sexta-feira (17), mais de 240 compartilhamentos e comentários de amigos, familiares e até mesmo pessoas desconhecidas que se solidarizaram com a declaração e apoiaram a vítima.

“Fiquei sabendo que tem mulher que acha que apanhar é normal, e não é. Estou contente com toda a repercussão e em poder conscientizar outras pessoas a denunciar os agressores. Nós, vítimas, temos todo o apoio. No começo tive medo de denunciar e as pessoas imaginarem que eu queria aparecer. Mas aconteceu o contrário. Estou recebendo apoio e elogios de muitas mulheres. Minha cabeça está bem mais aberta.”

Amigos, familiares e demais internautas se solidarizaram à Carla Januário (Foto: Carla Januário/Reprodução/Facebook)

Agressão

De acordo com Carla, ela e o namorado se relacionavam há dois anos e, há quatro meses, passaram a morar juntos. Neste período, ela foi agredida por três vezes.

“Antes de morarmos juntos ele já tinha me dado um esbarrão. Achei que fosse normal e fui morar com ele contra a vontade da minha mãe”, conta.

A última agressão ocorreu quando Carla e o companheiro voltavam para a casa e o combustível do carro acabou. Segundo a vendedora, as discussões do casal eram motivadas pela bebida. “Nossas brigas eram sempre para ele parar de beber. Para a família dele, eu era a chata.”

O casal começou a discutir dentro do veículo e houve a agressão. Segundo a vendedora, ela só parou de apanhar quando saiu do carro para pedir socorro. Duas mulheres que passavam pela rua acionaram a polícia.

No mesmo dia, os policiais localizaram o namorado de Carla e ele foi encaminhado para o plantão policial. “Nós fomos em viaturas diferentes para a delegacia e ele não fugiu. A família dele contratou um advogado, ele pagou fiança e foram todos embora. Ninguém falou nada ou prestou auxílio a mim. Tudo isso aconteceu e as pessoas da família dele foram as únicas que não me apoiaram”, lamenta.

Dispositivo não suportado.

Infelizmente, não foi possível encontrar um vídeo compatível com o seu dispositivo.

Delegada fala da importância de denunciar casos de violência contra a mulher

Denúncias

De acordo com a delegada Edna Rita de Oliveira, a denúncia é fundamental para combater a violência contra a mulher. As agressões podem ser denunciadas em qualquer delegacia e também é possível ligar no telefone 180.

“A violência costuma ser gradativa. O homem as vezes começa com violência verbal que atinge o psicológico, então a mulher apresenta baixa autoestima e aí o homem parte para a agressão física”, explica a delegada.

No Centro de Referência de Atendimento à Mulher (CRAM), em Votuporanga, as vítimas recebem atendimento de psicólogos e assistentes sociais após casos de violência. Neste ano, mais de 500 mulheres, entre 19 e 59 anos, passaram pelo local. O principal desafio é recuperar a autoestima das vítimas.

“A gente faz o acompanhamento com o intuito de que a mulher entenda, compreenda e identifique a violência. Muitas mulheres não conseguem identificar que estão sendo vítimas de violência. Com o acompanhamento, ela vai saber a melhor maneira de agir para tentar evitar determinadas situações e superar a violência”, afirma Kelli Regina Kamikawachi, coordenadora do CRAM.

Dados da Secretaria de Segurança Pública (SSP) mostram que, de janeiro a setembro deste ano, quase 38 mil mulheres foram agredidas no estado de São Paulo. Mais de 24 mil vítimas são do interior.

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