Museu de Arte Sacra fechado há 14 anos em Sorocaba

Trancado há 14 anos, misterioso e palco de lendas urbanas que atiçam a imaginação dos sorocabanos desde os anos 80. O Museu de Arte Sacra de Sorocaba (SP)

Museu de Arte Sacra fechado há 14 anos em Sorocaba -

Redação Publicado em 18/08/2017, às 00h00 - Atualizado às 09h47

Trancado há 14 anos, misterioso e palco de lendas urbanas que atiçam a imaginação dos sorocabanos desde os anos 80. O Museu de Arte Sacra de Sorocaba (SP) guarda muito mais que poeira e objetos resistentes ao tempo: abriga a memória da Igreja Católica na região há 43 anos.

O G1 teve acesso na semana do aniversário da cidade, com autorização do arcebispo Dom Júlio Endi Akamine, às instalações por trás das fechaduras. Local que abriga mais de 3 mil fotos e relíquias no piso superior da Catedral, localizada na região central.

De acordo com o padre Tadeu Rocha Moraes, o espaço idealizado por Dom José Melhado Campos foi inaugurado no dia 15 de agosto de 1975, ocasião em que a Diocese celebrava 50 anos de fundação.

G1 visita Museu de Arte Sacra fechado há 14 anos em Sorocaba

“As peças ficavam nas galerias da catedral e era de forma provisória. Desde então, permaneceu [no local] e até houve a oportunidade de visitas. Sempre funcionou na base do voluntariado porque nunca houve um grande investimento para a sua manutenção”, diz o pároco.

A visitação, segundo o padre, é restrita pela dificuldade de acesso. Para chegar ao primeiro andar da Catedral – onde as peças estão expostas – existe uma escada em espiral considerada perigosa. O problema é tido como grave, porém sem solução até o momento.

Para ter acesso é preciso subir uma escada em espiral (Foto: Carlos Dias/G1)

“Todo mundo deseja vir aqui, mas o museu demanda muito investimento. O que nos é claro é que o lugar é impróprio. Para onde ir até existem questionamentos, mas nenhuma definição”, explica.

Enquanto o novo endereço não é providenciado, todas as relíquias são catalogadas e algumas restauradas. Conforme o padre, é uma maneira de agilizar a preservação dos objetos até que sejam transportados para outro local.

“Eu e o novo arcebispo, Dom Júlio Endi Akamine, estamos empenhados em descobrir tudo o que envolve o museu e ter uma visão clara do que realmente é artístico, e o que é uma peça comum que não convenha estar aqui”, afirma Tadeu.

Padre Tadeu afirma que o acervo está no local desde a inauguração (Foto: Carlos Dias/G1)

Acervo

A origem dos objetos é diversa e, apesar de tudo estar sendo revisto, as prateleiras guardam peças únicas, como um álbum de fotos de paróquias que compõem a região de Sorocaba.

Ao todo, são cerca de 3 mil fotos e cerca de 400 itens entre imagens de séculos passados, livros em latim, documentos e móveis. Embora grande parte do material seja de igrejas, algumas peças foram doadas por fiéis e agora fazem parte do acervo do museu.

Peças são de paróquias da região de Sorocaba (Foto: Carlos Dias/G1)

“Existem dois báculos, que são cajados que o bispo usa. Um pertenceu a Dom Aguirre – com cerca de 100 anos – e outro de Dom José Melhado Campos. Algumas vestes são lindas e também não podem estar expostas, pela atual localização”, detalha Tadeu.

Entre os móveis acolhidos no pequeno espaço estão a cadeira de Frei Galvão, um grande órgão – restaurado no Rio Grande do Sul -, uma imagem em madeira de São Jorge e peças moldadas em papel do século XVII.

“Temos peças maravilhosas e que trazem história nos traços. Vão de itens pequeninos até os móveis que precisam de restauração.”

Documentos, missais e móveis fazem parte do acervo (Foto: Carlos Dias/G1)

‘A lenda da boneca’

No fim dos anos 80, a história de que uma boneca teria sido possuída e estaria presa dentro do museu, se espalhou pela cidade. Após o boato ganhar os quatro cantos do município, até hoje a história é uma das mais conhecidas lendas sorocabanas.

Segundo a imprensa local na época, curiosos se aglomeraram na Catedral para ver a suposta boneca que teria matado uma criança. Ainda segundo o registro, a mãe teria levado o brinquedo até a igreja e pedido que, na época, o monsenhor Mauro Vallini a guardasse.

A lenda ganhou duas versões. Em uma delas, a boneca teria sido possuída e sufocado a menina.A outra, entretanto, é ainda mais folclórica, pois a garota assistia uma propaganda e teria pedido para a mãe comprá-la. Sem dinheiro, ela teria “pedido dinheiros às forças do mal”.

“Acho isso uma bobagem. Não tem cabimento termos no museu, um local onde estão peças sagradas, uma boneca que lhe atribuem histórias absurdas. As forças do mal no mundo não vão agir por aí. Agem muito mais no nosso egoísmo, no espírito corrupto e na maldade que nos comportamos”, esclarece Tadeu.

Imprensa local na época noticiou que público curioso apareceu na Catedral de Sorocaba (Foto: Carlos Dias/G1)

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