Guilherme Sartori: Trégua pelo Brasil

A situação sanitária do país se deteriora a cada dia. Como todos podemos acompanhar, a quantidade de casos de contaminação e de mortes, devido a complicações

Guilherme Sartori: O Brasil precisa de quem trabalhe e não atrapalhe -

Redação Publicado em 19/03/2021, às 00h00 - Atualizado em 27/03/2021, às 13h27

Trégua pelo Brasil

A situação sanitária do país se deteriora a cada dia. Como todos podemos acompanhar, a quantidade de casos de contaminação e de mortes, devido a complicações do Coronavírus, não param de subir. A nossa infraestrutura hospitalar está no seu limite; nossos médicos, enfermeiros e demais trabalhadores do sistema de saúde público e privado, de forma heróica, dão o seu melhor para fazer o que é possível por nossos doentes.

Mas o fato é que neste ritmo de novas contaminações e internações, temos pouco tempo para agir de forma decisiva para evitar o colapso total da saúde deste país. Pessoas já estão morrendo de forma agônica, pois não há leitos, médicos e equipamentos suficientes.

A humanidade foi pega de surpresa pela crise sanitária, mas, em tempo recorde, desenvolveu uma série de vacinas que diminuem drasticamente o contágio e o aparecimento de sintomas graves, que levam a morte.

Vacinar é preciso, mas ela não deve ser imposta pelo Estado! Não podemos desrespeitar nossas garantias individuais que foram conquistadas com muito sangue derramado. Para piorar, politizaram a vacina e o tratamento precoce dos infectados. Muitos médicos conceituados garantem que as drogas amenizam a carga viral e isso traz o mínimo de esperança, enquanto não temos a cura definitiva ou a imunização em massa.

Hoje somos um povo dividido, polarizado, incapaz de simplesmente conversar.

Isso não é um Palmeiras x Corinthians.

Não podemos escolher quem morre de COVID ou quem morre de fome! Pensar nos problemas econômicos é uma obrigação humana. Protocolos rígidos sanitários sim, mas não o lockdown, num país com economia fraca e tanta miséria.

Tem que haver um equilíbrio. Uma “ciência” para todos.

Se puder, fique em casa, mas respeite quem não tem o mesmo privilégio.

Pequenos negócios e populações mais vulneráveis são particularmente sensíveis a qualquer medida que impeça ou restrinja suas atividades. A miséria também deve ser combatida. Neste momento, a união de toda a sociedade se faz ainda mais necessária e com diálogo.

Não é hora de apontar o dedo. Não é hora para discutir os erros que nos trouxeram até aqui. O caos se instalou por inúmeros motivos. E, definitivamente, não é hora para disputa política.

Não podemos falhar como sociedade!

A população está cansada de ser marionete do dinheiro e do poder.

Será que é realmente tudo pela vida? Pela sua segurança, como eles dizem?

Será que é mesmo pela ciência?

Ou será tudo sempre por interesses pessoais, enquanto o povo adoece?

Chegou a hora da mídia e de todos os espectros políticos, da direita e esquerda, pensarem de forma pragmática e se unirem por um bem maior. As mais brilhantes mentes de todos os segmentos e setores da sociedade, seja de que lado forem, devem urgentemente trabalhar em equipe.

Uma trégua se faz necessária!

Não queremos um só herói, e sim a “Liga da Justiça” toda.

O Brasil precisa parar de se odiar e voltar a conversar, mesmo que por um período breve. Mesmo que as diferenças pareçam inconciliáveis.

Parece utópico, mas, dada a atual situação, ou agimos de forma decisiva e unida ou, em pouquíssimo tempo, a situação será irreversível, seja pelo vírus, seja pela fome.

Aos que pensam ser isso impossível, lembro que em 25 de dezembro de 1914, na primeira grande guerra, alemães, franceses e ingleses se enfrentaram em algumas das batalhas mais violentas da história da humanidade. O ódio era enorme de ambos os lados. Mas, naquela noite, as tropas destes três países, em vários pontos do front, declararam uma trégua informal.

Por algumas horas, ouviram-se cantos e risadas louvando o amor e a compreensão, ecoando das trincheiras; soldados de ambos os lados saíam de seus abrigos em direção a “terra de ninguém”, área mortal, que ficava entre os exércitos beligerantes, para conversar, se abraçar e trocar presentes com quem, até poucas horas antes, trocavam balas.

Se, ali, naquele local de morte e dor, se conseguiu, por um tempo, levantar bandeira branca e conversar, tenho fé, que neste momento sombrio da história brasileira, seremos capazes de fazer o mesmo, em prol do bem comum.

Mesmo que, como naquelas trincheiras, passada a tempestade, voltemos a guerrear.

Guilherme Sartori
Empresário, Analista Político e colunista do Jornal Diário de SP

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