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Nós não falamos da mesma forma como escrevemos

Nós não falamos da mesma forma como escrevemos - Imagem: Reprodução/Freepik

Reinaldo Polito Publicado em 11/08/2024, às 10h22

Você sabia que os palestrantes mais bem-remunerados e mais requisitados são aqueles que se preparam com disciplina e dedicação para falar em público?

Cada tese levantada, cada personagem interpretada, cada improviso desenvolvido foram cuidadosamente treinados antes que subissem no palco. Esse é o tema da nossa reflexão: a importância de rever, analisar e pôr em prática o que será apresentado em público.

Se você não se preparar de forma adequada para falar em público, correrá o risco de ter um branco e comprometer sua apresentação. Esses contratempos não ocorrem apenas com oradores principiantes, mas também com aqueles que já possuem certa experiência em apresentações públicas.

Mesmo pessoas com boa quilometragem de tribuna, ao tratar de assuntos que dominam, podem, em determinado momento, perder o controle da exposição e se desestabilizar.

As causas

É importante identificar as causas desses percalços. De forma geral, esses fracassos acontecem por falta de preparo conveniente.

Reflita sobre as apresentações que já realizou. Como você se preparou? Utilizou algum método para ensaiar o que diria? Para não correr riscos, decorou o discurso de ponta a ponta? Preferiu deixar por conta da inspiração do momento a sequência da exposição? Ou não se preparou porque não tem noção de como deveria agir?

Cada um com seu método

Qualquer escolha que o deixe à vontade e confiante pode ser utilizada. Cada orador tem suas características pessoais e se sente mais ou menos confortável de acordo com o método que utiliza.

Por exemplo, embora decorar um discurso palavra por palavra seja desaconselhável, algumas pessoas têm muita facilidade em memorizar toda a sequência da exposição, conseguindo falar como se as palavras surgissem naturalmente diante do público. Se esse for o seu caso, vá em frente. Já encontrou o seu caminho.

A regra é sua

Portanto, não siga uma regra só porque foi recomendada como a mais adequada. Talvez você goste de escrever algumas frases de apoio, e se valer dessas anotações para construir o raciocínio diante dos ouvintes. É um bom método.

Pode ser que prefira guardar na memória quatro a cinco etapas da mensagem e desenvolver as frases com mais liberdade. Em todas as situações, levando um recurso de apoio com as frases básicas, ou tendo em mente as etapas que serão seguidas, sempre você deverá treinar.

Recorde-se de que pensar, escrever e falar são atividades distintas. Por isso, é importante o ensaio. Quem apenas escreve sem ensaiar, acreditando que diante da plateia tudo sairá conforme o planejado, poderá estar se iludindo.

Tivemos um aluno com boa experiência em apresentações em público. Ele nos procurou porque em determinada circunstância, depois de escrever rigorosamente toda a sequência da apresentação, ficou nervoso diante dos ouvintes. Não conseguia entender o motivo daquela insegurança.

Após alguns minutos de conversa, foi possível identificar a causa. Ele havia escrito o discurso e se apresentou tentando falar da maneira como escreveu. Não estava preparado para efetuar adaptações a partir das mudanças produzidas pelos vocábulos que surgiram naturalmente durante a exposição. Nunca mais deixou de ensaiar o que iria dizer.

Atividades distintas

Quando escrevemos, nos valemos de vocábulos, pontuações e ritmo determinados. Para falar, todavia, as palavras, na maior parte das vezes, são outras, as pontuações são distintas e a entonação modifica o ritmo.

Essas mudanças decorrem da descarga de adrenalina causada pelo nervosismo, das surpresas nas reações dos ouvintes ou do ambiente diferente do imaginado. Devemos estar prontos para enfrentar esses desafios que interferem no desempenho do orador.

Os imprevistos

Só o fato de pronunciar uma palavra que não havia sido planejada já poderá modificar a linha de raciocínio que estava sendo seguida. Quando a pessoa não está preparada para enfrentar esses desvios, pode se desestabilizar. Por esse motivo, é necessário exercitar a atividade que irá praticar na frente da plateia - a verbalização.

Esse treinamento não requer necessariamente ensaios formais, como se estivesse diante de um auditório. Para exercitar a verbalização basta trocar ideias com alguém sobre o tema que irá desenvolver. Um familiar, amigo ou colega de trabalho pode ser útil para esse preparo.

Converse o máximo que puder a respeito do assunto. Dessa forma, estará se preparando para a atividade principal diante dos ouvintes: a verbalização. Como disse Mark Twain: “Para fazer um bom improviso preciso de pelo menos três semanas’

Diferentes ângulos

Durante a conversa, explore o tema sob diferentes ângulos, o que o municiará com diversas opções. Se durante a apresentação, o discurso seguir por um rumo não previsto, você terá condições de fazer modificações com base no que foi pensado e ensaiado. Quanto mais você discutir e compartilhar impressões sobre o conteúdo, maiores serão as suas chances de sucesso.

Tenha em mente também que, se conseguir se apresentar em público da mesma maneira como se expressou durante as conversas, irá falar com mais espontaneidade. Será preciso apenas acrescentar um pouco mais de entusiasmo para envolver o público.

Esse é o segredo dos maiores oradores da história: mesmo sendo extraordinários, eles sempre treinavam. E eram extraordinários porque treinavam. 

 

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