COLUNA

Ensinamentos da neurociência para seu discurso vencer o celular

Ensinamentos da neurociência para seu discurso vencer o celular - Imagem: Reprodução | Freepik

Reinaldo Polito Publicado em 18/08/2024, às 06h00

As pessoas estão cada vez mais dispersas. Com tanta concorrência de informações, não é fácil conquistar e manter a atenção do público. Na primeira vacilada do profissional que apresenta suas ideias durante a reunião, os outros participantes não hesitarão em dar uma olhada no celular para verificar como andam as chamadas.

Esse pequeno desvio de atenção pode fazer com que a pessoa se desconecte da reunião por tempo prolongado, e, em casos mais graves, não volte mais a prestar atenção. Se a mensagem for uma informação que exige algum tipo de ação, assim que o participante responder ao questionamento, já estará com a cabeça fora daquele ambiente.

O Brasil é o vice-líder

Essa é uma realidade que precisa ser enfrentada nas mais diversas circunstâncias. O mundo está dependente dos dispositivos móveis. Segundo levantamento da “GSMA Intelligence”, cerca de 70% da população do Planeta possui um desses dispositivos.

Os números são estonteantes. Segundo estudo da “We Are Social” em parceria com a “Meltwater” os brasileiros consomem 9h13 por dia na internet. Só não foi para o topo do pódio porque na África do Sul esse tempo é um pouco maior, 9h24. Ou seja, as pessoas não conseguem se afastar dos aparelhos eletrônicos.

A neurociência

Como, então, manter a atenção dos ouvintes que estão o tempo todo de rabo de olho em seus smartphones, só esperando uma chance para consultar as mensagens que não param de chegar? O risco de perder a plateia deve ser considerado. Afinal, quais são os recursos para manter a atenção do auditório por tempo prolongado?

De acordo com conclusões da neurociência, nossos neurônios se conectam e formam redes neurais que atuam em conjunto. Essas redes se fortalecem com a “aprendizagem” e se baseiam em associações com experiências prévias. É por esse motivo, por exemplo, que desenvolvemos uma percepção seletiva.

As pesquisas provam

A explicação é simples. Se uma informação nos é conveniente, temos a tendência de aceitá-la sem resistência. É o que ocorre nos debates políticos, os eleitores assimilam as teses favoráveis ao seu candidato e as que são contra os adversários. Diversos estudos realizados desde os debates entre Richard Nixon e John F. Kennedy, em 1960, mostram que as opiniões dos eleitores não se alteram após a contenda.

Esse fenômeno se dá também com os fatos que tocam a nossa realidade por aproximação no tempo e no espaço. O local onde estamos inseridos e a época em que vivemos são o cenário de informações com o qual nos identificamos. Dessa forma, tudo o que esteja ligado a elas, a partir de associações produzidas pelas redes neurais, despertará nossa atenção e interesse.

Um exemplo

Vamos supor que ocorra uma inundação. Essa informação terá mais ou menos interesse para os ouvintes dependendo de onde e quando aconteceu. Se o fato ocorreu em 1926, mesmo que a tragédia tenha sido significativa, o interesse dos ouvintes será baixo, representando peso 1. Se foi há um ano, o interesse passa a ser de peso 3. Se aconteceu hoje, o interesse terá peso 10.

Supondo agora que a inundação tenha ocorrido em uma distante região, de outro continente, por maior que tenha sido, o interesse dessa informação para os ouvintes terá peso 1. Se ocorreu dentro do nosso país, o interesse terá peso 3. Finalmente, se ocorreu na nossa própria cidade, o interesse terá peso 10.

A proximidade das informações

Ou seja, quanto mais a informação estiver próxima das pessoas no tempo e no espaço maior será o interesse. Por isso, ao fazer uma apresentação, para conquistar e manter o interesse dos ouvintes procure associar a mensagem à realidade que eles vivenciam. Pergunte sempre a você mesmo: qual a adaptação que devo fazer para que as informações possam ir ao encontro do público?

Se você fizer uma apresentação sobre o mercado financeiro, avalie qual poderia ser o interesse da audiência. Diante de um grupo de agricultores, mostre como poderiam captar recursos para investir nas novas safras, ou como aplicar o resultado da colheita em operações mais vantajosas.

Essa associação do mercado financeiro com as ações produtivas e comerciais dos agricultores faz com que percebam a aplicação prática do tema em suas atividades, motivando-os a acompanhar mais atentamente a exposição. Esse é um princípio que pode e deve ser utilizado no dia a dia, tanto em palestras profissionais quanto nas reuniões corporativas, apresentando projetos e propostas.

Ao conectar a mensagem com as vivências pessoais do público, você ativa suas redes neurais de forma a gerar engajamento emocional e cognitivo, o que amplia significativamente a atenção e o interesse pela apresentação.

Descubra como o tema da exposição poderá ser associado às preocupações delas, como, por exemplo, à carreira, às aspirações profissionais, aos interesses sociais. Assim, terá a atenção da plateia e poderá vencer a concorrência do celular.

AFRICA DO SUL COMUNICAÇÃO neurociencia

Leia também