INVESTIGAÇÃO

Anielle se pronuncia após confirmar denúncia contra Silvio Almeida: "Só queria que aquilo parasse"

Durante uma entrevista à revista Veja, a ministra da Igualdade Racial confirmou o ocorrido e enfatizou o medo dos julgamentos sociais

Anielle se pronuncia após confirmar denúncia contra Silvio Almeida: "Só queria que aquilo parasse" - Imagem: Reprodução / Instagram / @aniellefranco

William Oliveira Publicado em 04/10/2024, às 12h44

Em entrevista à revista Veja, divulgada na sexta-feira (4), a ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, quebrou o silêncio e confirmou ter sido vítima de assédio envolvendo o ex-ministro dos Direitos Humanos, Silvio Almeida. Durante a entrevista, Anielle expressou seu receio em relação aos julgamentos públicos, destacando que as abordagens inapropriadas começaram durante a transição governamental de 2022.

Anielle declarou que até dezembro de 2022 não havia uma relação profissional com Almeida, e foi nesse período que as "atitudes inconvenientes" tiveram início, evoluindo para importunação sexual. No contexto legal brasileiro, tal crime abrange desde comentários indesejados até toques sem consentimento.

"Não tínhamos nenhuma relação profissional até a transição do governo, em dezembro de 2022. Ali começaram as atitudes inconvenientes, que foram aumentando ao longo dos meses até chegar à importunação sexual", afirmou a ministra.

Quando questionada sobre a ausência de denúncia imediata, a ministra revelou ter se sentido "paralisada", optando por concentrar-se nas responsabilidades do cargo. Ela destacou o medo do descrédito e dos julgamentos sociais, uma vez que muitas vezes a culpa é atribuída à vítima.

Refletindo sobre sua experiência, Anielle confessou ter desejado acreditar que estava equivocada quanto às suas percepções. Ela relatou noites sem dormir e o desconforto em permanecer calada diante da situação.

"Ninguém se sente à vontade ficando em silêncio em uma situação assim. Mas eu não queria a minha vida exposta e atravessada mais uma vez pela violência. Só queria que aquilo parasse de acontecer", desabafou.

Anielle ainda enfatizou que nenhuma vítima deve sentir-se obrigada a expor-se publicamente conforme a expectativa alheia. Sobre as respostas governamentais, ela mencionou um programa de prevenção e um grupo de trabalho voltado ao combate ao assédio no serviço público.

A ministra também comentou sua relação com a primeira-dama Rosângela da Silva, conhecida como Janja. No dia em que o caso ganhou publicidade, Janja demonstrou apoio publicando uma foto beijando a testa de Anielle.

"Janja é uma grande companheira de luta e, desde que cheguei ao governo, ela se tornou amiga e parceira. A postagem simboliza mais do que solidariedade. É uma manifestação de apoio e de compromisso com a agenda de proteção às mulheres, de tolerância zero à violência e à opressão", disse Anielle.

Silvio Almeida foi destituído do cargo em 6 de setembro, um dia após as denúncias serem trazidas à tona pela ONG Me Too Brasil. O ex-ministro rejeita as acusações e afirma ser alvo de perseguição.

Investigações

No âmbito das investigações, Anielle prestou depoimento à Polícia Federal (PF) na quarta-feira (2). Durante seu depoimento no inquérito sobre os supostos assédios por Almeida, ela detalhou as acusações previamente compartilhadas com ministros do governo, fornecendo datas e locais específicos dos eventos relatados.

Outras possíveis vítimas devem ser ouvidas pela PF, assim como uma representante da organização MeToo Brasil. O interrogatório de Silvio Almeida ainda aguarda agendamento.

Conforme informações da CNN, o ministro André Mendonça, do Supremo Tribunal Federal (STF), autorizou a abertura do inquérito sob supervisão da Suprema Corte após solicitação da PF e com aprovação da Procuradoria-Geral da República (PGR). O processo corre em sigilo.

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