“Melhor Corinthians de todos os tempos”: técnico lembra noite de terror no Pacaembu após 15 anos

O Corinthians viveu uma noite de terror no Pacaembu há exatos 15 anos, num contexto de eliminação nas oitavas de final da Copa Libertadores diante do River

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Redação Publicado em 04/05/2021, às 00h00 - Atualizado às 15h11

Com Tevez e Nilmar, Timão caiu na Libertadores e viu a torcida quebrar estádio em derrota para o River Plate; Ademar Braga comandava a equipe: “Quando saiu o terceiro gol, f…”

O Corinthians viveu uma noite de terror no Pacaembu há exatos 15 anos, num contexto de eliminação nas oitavas de final da Copa Libertadores diante do River Plate, com cenas de destruição das cadeiras do Pacaembu e uma quase invasão de centenas de torcedores ao gramado, o que fez a arbitragem encerrar o jogo aos 40 minutos do segundo tempo.

Seis anos antes da tão sonhada conquista da América, o poderoso Timão montado com os dólares da parceira MSI (Media Sports Investment) perdeu os dois jogos para o River Plate, da Argentina: 3 a 2 no Monumental de Núñez e 3 a 1 no Paulo Machado de Carvalho, este último em 4 de maio de 2006.

Capa da Folha de S.Paulo no dia seguinte a Corinthians x River Plate, em 2006 — Foto: Reprodução do Acervo

O técnico do Timão era Ademar Braga. Em entrevista por telefone ao ge direto do Rio de Janeiro, onde vive hoje aos 76 anos, ele lembrou o período de um Corinthians badalado por nomes como Carlos Alberto, Roger, Ricardinho, Mascherano, Nilmar e Carlitos Tevez. E não tem dúvidas em dizer:

– Foi o melhor time que o Corinthians fez até hoje, eram jogadores de seleção. O melhor de todos os tempos. Pode ter igual, mas melhor não teve. Era melhor do que o que foi campeão (da Libertadores em 2012), mesmo os de antes, com Sócrates, Casagrande. O time de 2006 era melhor – disse.

Torcedores do Corinthians no Pacaembu em 2006 — Foto: Reprodução

Técnico por acaso

Ademar Braga comandou o Corinthians por 15 jogos. Auxiliar de Márcio Bittencourt e depois de Antônio Lopes entre o fim de 2005 e março de 2006, herdou o time em meio a uma disputa de Libertadores depois de um pedido de demissão do Lopes numa derrota para o São Paulo, pelo Paulistão.

– Eu não queria ser o treinador. Fui para o Corinthians indicado pelo Carlos Alberto Torres para ser auxiliar. Eu era muito amigo dele e do Paulo Angioni (diretor de futebol). Quando o Lopes pediu para sair, o Corinthians ficou meio desnorteado. Kia Joorabchian tentou o Paulo Autuori e o Paulo César Gusmão, não conseguiu e decidiu me colocar. Eu não queria pegar, mas o Kia avisou: “Ou ele aceita, ou vai embora”. Então falei que eu ia pegar. O time era bom para caralho – lembra Braga.

Professor de Educação Física, formado também em Direito e Pedagogia, o treinador tinha 60 anos e uma vasta experiência como preparador físico em clubes do Brasil e do exterior. Havia tido uma experiência como técnico da seleção do Irã, também após a saída do treinador principal.

O Corinthians de Ademar Braga venceu os três jogos restantes da fase de grupos, inclusive diante da Universidad Católica, por 3 a 2, em Santiago, num jogo em que o Timão teve as expulsões de Wendel e Gustavo Nery. O time liderou o grupo e terminou com a terceira melhor campanha.

Rival das oitavas, o River Plate tinha como camisa 10 o meia Marcelo Gallardo, hoje técnico do time argentino. E o treinador era Daniel Passarella, que havia tido breve passagem pelo Timão em 2005. O primeiro jogo das oitavas foi na Argentina: derrota por 3 a 2.

No apito estava o paraguaio Carlos Amarilla, que sete anos depois seria protagonista em Corinthians x Boca Juniors em 2013, anulando gols e ignorando um pênalti para o Corinthians. Para Ademar, o árbitro influenciou no resultado final.

– Mascherano marcaria o Gallardo e deixamos o Marcelo Mattos na sobra. Esse Amarilla deu uma falta que não existiu e deu amarelo para o Mascherano. Aí invertemos o marcador. Só que numa batida de lateral, Gallardo dominou no peito, o Mascherano chegou e ele, malandro, caiu. O juiz deu o segundo amarelo, expulsou e quebrou o esquema todo. Tirei um atacante (Nilmar) pra botar o Xavier, que jogava muito pouco no clube. Ele até fez um gol de cabeça. Na volta, falei: ele está com moral, vou ter que escalar. No Pacaembu, não acertou nenhum passe (risos) – recorda-se.

O Corinthians entrou em campo no segundo jogo com Sílvio Luiz, Coelho, Marcus Vinícius, Betão e Rubens Júnior; Xavier, Marcelo Mattos, Carlos Alberto e Ricardinho; Nilmar e Tevez. O meia Roger, que vinha de lesão, entrou na segunda etapa.

O Timão foi para o intervalo vencendo por 1 a 0, com gol de Nilmar. No início do segundo tempo, o River empatou com um gol contra de Coelho. O atacante Gonzalo Higuaín, que depois jogaria pelo Real Madrid, marcou duas vezes e fechou o placar.

Nilmar comemora primeiro gol do Corinthians contra o River: depois, Timão levaria três… — Foto: Eduardo Nicolau/Estadão Conteúdo

– Com 1 a 0, estava como a gente queria, era jogar no contra-ataque com Nilmar, Tevez e Carlos Alberto, esse era o nosso forte. Quase fizemos o segundo. Mesmo quando tomamos o 2 a 1 ainda dava, era empatar pra virar e levar para os pênaltis. Lembro que Roger perdeu um gol embaixo dos paus. Quando saiu o terceiro, f…

– A invasão só não se consumou, pois meia dúzia de policiais seguraram o portão principal. Foi nossa salvação, iam meter a porrada na gente. Lembro que um invadiu e eu encarei, aí o Betão veio me tirar: “Vamos embora, professor”. Só saímos do estádio umas três ou quatro da manhã.

Embora considere um Corinthians cheio de craques, Ademar Braga admite que o time tinha problemas defensivos:

– Como atacava sempre, tinha a posse de bola e dois caras muito bons no meio, que eram Mascherano e Marcelo Mattos, compensava. Betão jogava bem, mas tínhamos um problema na quarta zaga. Marcus Vinícius era novinho, tinha aquele Sebá Domínguez que não jogava nada. Faltou contratar um zagueiro experiente, um cara tipo Ricardo Rocha – disse Ademar.

Mascherano foi titular do Corinthians durante a Libertadores de 2006 — Foto: AFP

A passagem pelo Corinthians durou mais dois jogos: uma derrota por 3 a 1 para o São Paulo e uma vitória por 2 a 1 diante do Paraná Clube. Quem assumiu em seu lugar foi Geninho.

– Muita gente fala que fui demitido contra o São Paulo, mas não é verdade. Eu já sabia que ia sair mesmo se ganhasse do São Paulo. Perdi a Libertadores, os caras estavam focados nela. Aquela foi minha última experiência como técnico. Dois meses depois, virei gerente da base do Mirassol.

Ademar Braga depois teve experiências no departamento de futebol do América-RJ e, mais recentemente, na campanha do título e acesso Botafogo na Série B de 2015. Professor de Educação Física por 35 anos e profissional do futebol por 40, hoje curte a aposentadoria no Rio de Janeiro.

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Fonte: Ge – Globo Esporte.

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