Rodrigo Sayeg Publicado em 06/12/2022, às 09h34
“Em 1958, eu caminhava pelas ruas pensando em cumprir a promessa que fiz ao meu pai. Sei que hoje muitos fizeram promessas parecidas e também vão em busca da sua primeira Copa do Mundo. Assistirei ao jogo do hospital e estarei torcendo muito por cada um de vocês. Boa sorte!”
Esta foi a mensagem do Rei Pelé, o melhor jogador de todos os tempos, à seleção Brasileira falando de promessas aos pais e ao povo brasileiro.
Milhões de Brasileiros estão vidrados esperando o cumprimento da promessa do Hexa. Acompanhando os altos e baixos. Desde a Derrota para o Camarões até a vitória por goleada da Coreia.
Acho que falo por todos, quando digo que torcemos para nossa nação ao ponto de ficar com medo da seleção ficar empolgada, se achar invencível e não levar os próximos desafios a sério.
Esta lição inclusive, de não deixar as vitórias nos deslumbrarem, é fundamental e foi ensinada a mim por meu Pai, que me mostrou claramente que às vezes nosso maior inimigo somos nós mesmos.
Desta forma, devemos tomar cuidado pois a copa e essa promessa de conquista e certeza de vitória nos cega, especialmente este povo que é apaixonado por Futebol.
Foram impactantes os protestos das Federações de Futebol do mundo contra as violações de direitos humanos. Porém, com todo o respeito, mas aos poucos estamos sendo cegados pela vitória de termos outra copa do mundo que esquecemos o contexto que está por de trás.
Infelizmente, como falei em minha última coluna, o Catar não era para ser a nação escolhida em realizar esse evento. E estava na hora de tomarmos condutas mais concretas em face da própria FIFA e sua forma de seleção.
Especialmente depois das declarações prestadas pelo Presidente da Fifa, Gianni Infantino, que pediu para as 32 federações participantes que tivessem "concentração no futebol" e não nas incontáveis questões políticas e de direitos humanos que cercam a Copa do Catar; até o discurso de uma hora para defender o Catar do que ele considera ataques injustos por parte do Ocidente, especialmente da Europa.
E talvez, ele esteja certo, é injusto atacar o Catar. Quem devia ser o alvo dos protestos e das indignações é a FIFA, principal responsável por este fiasco e por este endosso às violações de direitos humanos. Afinal, foi ela quem o escolheu, sob várias suspeitas de irregularidades, um País que claramente viola os direitos de milhares de pessoas.
Assim, talvez seja a hora do Brasil em sua busca pelo hexa, adicionar mais um pedido ou um desejo deste colunista de, além de ser campeão, se inspirar em outro atleta lendário e heroico.
A Alemanha, de Adolf Hitler, organizou os Jogos Olímpicos de Berlim-1936 com a intenção de promover a ideologia do partido nazista e, principalmente, a supremacia da raça ariana. Coube, no entanto, a um neto de escravos nascido no Alabama, nos Estados Unidos, calar o ditador anfitrião ao ganhar quatro medalhas de ouro: Jesse Owens. As vitórias do velocista americano o tornaram símbolo da luta contra o racismo.
Quando fez história em Berlim, Jesse Owens tinha apenas 23 anos. Ele colocou no peito as medalhas de ouro dos 100 m rasos, salto em distância, 200 m rasos e revezamento 4 x 100 m, com direito a quebra do recorde mundial nos dois últimos. O americano calou Hitler sem usar palavras, mostrando com seus resultados que a supremacia branca pregada pelo ditador não passava de balela.
Pede-se à Seleção Brasileira que siga este exemplo, caso venha a vencer, não apenas mostre ser campeã do mundo, mas também assuma seu papel de campeã da humanidade, denunciando publicamente o sistema da FIFA.
Talvez seja utópico e sonhador de minha parte torcer por isso? Talvez. Mas uma coisa tenho certeza. O mundo imortalizou Jesse por sua bravura nas olimpíadas. Se o Brasil assumir sua função de farol da humanidade, com certeza absoluta o mundo irá torcer e imortalizar a nossa Seleção.
Realmente, o Brasil seria não apenas o País do Futebol, mas também o País defensor dos vulneráveis.
Homenagem melhor que essa ao Rei do Futebol não existe.