COLUNA

Natal em Gaza o retrato das brigas de família

Imagem ilustrativa de Isaque e Ismael. - Imagem: Reprodução | Quora

Fabiana Sarmento de Sena Angerami Publicado em 27/12/2023, às 08h24

Estamos em plena ressaca natalina e é de bom alvitre aproveitarmos esse momento de alquebramento para fazermos algumas reflexões.

O conflito estabelecido na faixa de Gaza, território palestino controlado pelo grupo extremista Hamas  e Israel, que teve inicio na primeira semana de outubro, teve um dos Natais mais sangrentos e letais dos últimos tempos, com cerca de cem mortos.

Independente de qualquer religião,  por uma análise histórica,  podemos afirmar que a briga entre judeus e palestinos nada mais é do que uma briga de familia iniciada acerca de 4000 anos.

Grosso modo, conforme se depreende do livro Gênesis da Biblia, o patriarca Abraão teria recebido uma promessa de  Deus de que seu filho com Sara (que era estéril) seria o pai de uma grande Nação. Como Abraão e Sara estavam muito velhos e,  portanto, duvidando  da profecia, Sara pediu que o marido tomasse a escrava egípcia Hagar como concubina, com quem teve um filho chamado Ismael.

Anos depois, cumprindo-se a promessa Divina Sara engravidou de Isaque. Com o passar dos anos, a relação conturbada entre Sara, Hagar e os filhos de Abraão fizeram com que o mesmo mandasse Hagar e Ismael para o deserto, o que acirrou ainda mais a disputa e rivalidade entre os irmãos.

Isaque foi  abençoado com uma aliança perpétua com Deus, o qual abençoou toda  sua descendência, uma vez que o mesmo seria o pai de uma grande Nação.  Ismael, por sua vez, não foi esquecido por Deus, sendo que ele seria responsável por uma numerosa Nação, sendo profetizado que seria um homem contra todos, e todos contra ele; mas que  viveria perto de todos os descendentes de seu pai.

Considerando que o povo judeu tem sua descendência em Isaque e que o povo mulçumano  provem da linhagem de Ismael, constatamos que os incontáveis e atrozes conflitos por terras, ideologias, religiões, costumes ou simplesmente pela "verdadeira descendência de Abraão" têm sua raiz em  uma disputa  desenfreada e sem propósito entre irmãos.

A estória de Isaque e Ismael é só um retrato do que há milênios temos visto acontecer entre familias de reis, príncipes, sheiks, políticos, empresários e pessoas comuns, como eu e você.

Significa  dizer que há milênios, independente de raça,  sexo, religião ou classe social, estamos a cada dia deixando de lado a ideia dos  laços de familia e de amor para priorizar a luta, muitas  vezes impiedosa e fatal,  por terras, dinheiro, bens e poder.

O Natal deveria ser um momento de reflexão,  amor e introspecção entre as famílias,  mas infelizmente as evidências e as estatísticas demostram que tem se tornado uma festa extremamente comercial, onde familiares se esquecem de sua verdadeira essência e se encontram em reuniões de pura ostentação, regadas a excesso de álcool e  comida; cenário propício  para relembrar antigas magoas e ressentimentos,  alimentando mais uma vez as tais brigas de família.

A tecnologia avança de forma vertiginosa e a inteligência artificial é o novo desafio e aposta mundial em termos de progresso.

No entanto,  precisamos fazer com que nossa ressaca natalina tenha o condão de se transformar em uma ressaca moral, para que possamos relembrar o verdadeiro Espírito de Natal, que é de amor incondicional e universal, e que mesmo com todas as nossas enormes diferenças, assim como Isaque e Ismael,  somos todos frutos da mesma árvore. 

Enquanto as brigas e incompreensões familiares persistirem, seja entre Nações, seja em nossos lares, não haverá progresso, mas apenas alta tecnologia para servir a  "quase seres humanos".

ISRAEL Natal HAMAS Faixa de Gaza ismael isaque

Leia também