A expulsão de Felipe Sabará, o ex-candidato à prefeitura de São Paulo pelo Novo, no último dia 21 , foi o pivô da abertura de um racha político no partido de
Redação Publicado em 31/10/2020, às 00h00 - Atualizado às 10h06
A expulsão de Felipe Sabará, o ex-candidato à prefeitura de São Paulo pelo Novo, no último dia 21 , foi o pivô da abertura de um racha político no partido de direita que se coloca como defensor de políticas liberais. Sabará alega perseguição por apoiar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e, em entrevista ao iG, reclamou de retaliação.
No dia 25 de outubro, Sabará teve a candidatura indeferida pelo TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) após a Justiça acatar pedido do partido, que justificou a desistência da vice na chapa, Maria Helena, para suspender a campanha. O ex-candidato foi expulso sob acusação de fraudar o currículo com um suposto curso de Relações Internacionais na FAAP, que foi desmentido pela instituição. O Novo realiza processos seletivos para escolher os seus candidatos.
A saída de Sabará está no centro de uma disputa interna na legenda , levantada pelo próprio ex-candidato expulso, que alega ser perseguido pelos dirigentes da sigla – integrantes da ala liberal – por conta do seu apoio ao governo do presidente Jair Bolsoaro (sem partido).
“Fui expulso do Partido Novo por não aceitar ser obrigado a pensar como um dos fundadores, João Amoedo , que ataca o Presidente Bolsonaro o tempo todo (no Twitter). E defendi as boas ações do governo federal, sempre que entendi que deveria”, declarou em nota enviada à imprensa.
Antes mesmo da expulsão, Sabará já havia sido alvo do movimento interno de pré-candidatos a vereador em São Paulo que não apoiavam a sua candidatura. Os postulantes ao Legislativo Municipal criaram um grupo no Whatsapp intitulado ” Tentando Salvar o Novo ” em que o ex-candidato era duramente criticado por seu alinhamento ao governo federal.
Um dossiê apócrifo com acusações contra o ex-candidato à Prefeitura de São Paulo circulou nos grupos de WhatsApp do partido neste período. Além do apoio a Jair Bolsonaro, Sabará foi duramente reprimido por filiados, como o presidente João Amôedo e o deputado estadual de São Paulo Heni Ozi Cukier, ainda no início da campanha como pré-candidato, por eleger Paulo Maluf – de perfil punitivista e conservador que relembram Bolsonaro – como o melhor prefeito da história da capital paulista.
A ala bolsonarista capitaneada por Sabará não se manifestou publicamente em defesa das posições do candidato. As críticas feitas ao ex-filiado indicam que os dirigentes do partido são frotalmente contra o apoio ao governo federal para além da agenda liberal do ministro da Economia Paulo Guedes . Eventuais defesas ao ex-candidato e a Jair Bolsonaro poderiam gerar retaliações internas.
A economista Maria Helena, vice de Sabará na chapa dissolvida, comentou as divergências internas no partido em seu discurso de desistência da candidatura: “Eu queria deixar um agradecimento muito especial ao Felipe Sabará e ao partido Novo. Eu sei que nesses últimos tempos existem diferenças entre eles, mas sei que eles compartilham o mesmo propósito que me trouxe à política, que é transformar a vida das pessoas através de valores liberais e do combate à corrupção”.
Apesar de enfrentar o bolsonarismo dentro da organização política, o partido Novo é um dos 12 partidos que compõem a base aliada do governo e possuem alinhamente praticamente instântaneo aos textos enviados pelo Executivo ao Legislativo.
Segundo o Índice de Governismo dos Parlamentares, desenvolvido pelo Radar do Congresso, plataforma de coleta de dados do Congresso em Foco, o Novo votou de acordo com a orientação do governo em aproximadamente 90% das votações nominais.
Os dados foram obtidos com base no levantamento dos votos registrados em 347 votações nominais realizadas entre fevereiro de 2019 e fevereiro de 2020, na Câmara. O Novo não possui senadores eleitos.
Sabará encaminhou o seu pedido de desfiliação apresentado ao partido na última quinta-feira (29) Procurado pela reportagem, respondeu às perguntas feita pelo iG via Whatsapp.
Na carta enderaçada aos diretórios nacional, estadual e municipal do Novo, o ex-filiado afirmou ter sido alvo de um “processo inquisitório, que desrespeita a liberdade de expressão, o devido processo legal, o direito de defesa, o contraditório, a presunção de inocência, a dignidade da pessoa humana”.
” Muitos não se manifestam com medo de retaliação . Eu enfrentei e decidi falar o que penso”, disse Sabará em entrevista ao iG . “A questão é falar do presidente. O Amoêdo crítica o tempo todo. Se for contra (as posições do Amoêdo) sofre retaliação”, revelou.
” Os dirigentes me alertavam o tempo todo a não elogiar nada do Bolsonaro “, complementa.
Em outro trecho da carta de desfiliação, Sabará reitera a perseguição sofrida por se posicionar em defesa do governo federal dissonantes:
“Não é porque um partido se chama Novo que suas ações serão modernas. A Nacional do Partido Novo tem revelado velhas práticas , postura autoritária e violadora dos mais básicos compromissos constitucionais”.
O iG procurou os representantes dos diretórios nacional e paulista do Novo para ouví-los sobre a existência de racha de facções ideológicas dentro do partido, bem como sobre as declarações de Filipe Sabará, mas nenhum dos acionados retornou o contato.
O doutor em ciência política pela USP e professor do Insper, Leandro Consentino, de 34 anos, repercutiu os impactos do bolsonarismo na política partidária e o que o racha do partido Novo pode indicar para o futuro das siglas de direita em uma entrevista que você confere abaíxo:
No longo prazo, a presença do Bolsonaro nessa raia da direita como a grande liderança acaba sendo prejudicial à própria direita. A direita liberal perde claramente, porque não tem alguém liberal pautando o debate, e as pessoas vão colocar toda a direita no mesmo bolo quando tiverem que rechaçar esse rótulo e essa figura. Os conservadores também acabam perdendo porque o Bolsonaro também não é alguém que tem convicções conservadoras o tempo todo. Pode soar estranho, mas dá para notar que ele é muito mais pragmático do que conservador, basta pensar na indicação dele para a Suprema Corte. Muitos esperavam um juiz conservador, mas veio um Kassio Nunes. Muitos esperavam que outras indicações dele se pautassem nessa área, ou que pelo menos ele brigasse por essa pauta de costumes e ele joga ela e deixa de lado. Bolsonaro cria muito mais balões do que de fato banca essas pautas. No longo prazo, os próprios conservadores terão uma decepção, maior com o Bolsonaro já estão tendo. A figura de um outsider como ele, de alguém que é muito mais pragmático e pensa muito mais na sobrevivência política do que na ideologia para pautar as suas políticas públicas, acaba enfraquecendo a própria direita, muito mais do que ela esperava com a liderança do Jair Bolsonaro.
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IG
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