A procuradora-geral da República Raquel Dodge pediu a reabertura do processo da Lava Jato que investiga a participação de uma empresa com sede em Bauru, no
Redação Publicado em 15/08/2018, às 00h00 - Atualizado às 16h28
A procuradora-geral da República Raquel Dodge pediu a reabertura do processo da Lava Jato que investiga a participação de uma empresa com sede em Bauru, no interior de São Paulo, em um esquema de propina que beneficiaria partidos políticos e empresários.
As investigações do Ministério Público Federal apontam que a empresa Bauruense, do empresário Airton Daré, falecido em 2011, tinha relações com a Hidrelétrica de Furnas, no estado de Minas Gerais.
Com base em delações premiadas do doleiro Alberto Youssef, uma das principais testemunhas do caso, os procuradores descobriram que Daré tinha relações próximas com Dimas Toledo, que foi presidente de Furnas entre 1990 e 2000.
De acordo com MPF, essa relação tinha como base pagamento de propina a integrantes do PSDB e do PP, partidos que, segundo os procuradores, dividiam influência política na diretoria de hidrelétrica.
O agravo regimental da Procuradoria-Geral da República pede que seja reconsiderada a decisão do Supremo Tribunal Federal de arquivar o inquérito.
Ainda de acordo com o MPF, havia um esquema de corrupção e lavagem de dinheiro em Furnas Centrais Elétricas que contava com a participação dos senadores Aécio Neves (PSDB) e do então deputado federal José Janene (PP), falecido em 2010.
Ainda conforme a procuradoria, os dois partidos tinham influência na nomeação e manutenção de diretores de Furnas. A empresa foi comandada entre 1997 e 2005 por Dimas Fabiano Toledo, a quem o senador Aécio Neves daria sustentação política para permanecer no cargo em troca de propina vinda de contratos celebrados pela estatal.
Na delação premiada, Youssef disse que o dinheiro do esquema recolhido por Janene vinha de São Paulo e de Bauru, onde ficava a sede da Bauruense. O documento da procuradoria mostra que a empresa prestava serviço de locação de veículos, limpeza e segurança para Furnas.
Segundo o delator, um funcionário de Janene coletava dinheiro na empresa em Bauru. Youssef afirmou também ter presenciado ocasiões em que Airton Daré entregou valores diretamente ao ex-deputado federal.
“O José Janene tinha algumas operações que ele dividia com o então deputado Aécio Neves e alguns serviços que empresas prestavam para Furnas, e uma delas era a Bauruense, onde alguns dos funcionários do seu José [Janene] retiravam valores e entregavam para o seu José, e ele entregava a mim para distribuir em Brasília, fazer alguns pagamentos”, contou o doleiro na delação premiada em 2015.
O documento aponta também que a participação de Airton Daré no esquema de propina resultou em grande crescimento da empresa durante a gestão de Dimas Fabiano Toledo. Ele foi apontado como o administrador dos contratos de terceirização de Furnas.
A procuradoria cita que 80% dos serviço terceirizados de Furnas eram prestados pela empresa Bauruense que entre 2000 e 2006 recebeu R$ 826 milhões em 28 contratos. Em pelo menos cinco contratos, de acordo com o Ministério Público Federal, não houve licitação.
Em nota, a atual gestão de Furnas afirmou que “adota as melhores práticas de governança ética, profissional e transparente”. Informou também que a companhia está à disposição para prestar os esclarecimentos necessários na investigação da PGR.
Também por meio de nota, Aécio Neves afirmou que a PGR não determinou a reabertura do processo, “apenas se manifestou da mesma forma que o fez em inúmeros outros casos”. Ainda em nota, o político afirmou que Yousseff não o conhece e “que nunca fez qualquer operação que envolvesse o PSDB”.
Segundo o polícia, a Polícia Federal detalhou no inquérito a falta de provas, o que resultou no arquivamento, e que “a decisão do STF seguiu esse mesmo entendimento”. Por fim, Aécio disse que a PGR “não traz nenhuma informação nova, já que se remete apenas a investigação que já havia sido arquivada pela própria instituição”.
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