Após denúncia sobre "rachadinha" de Lucas Sanches, Comissão de Ética faz foto com o acusado; processo fica para depois

Depois de receber oficialmente a denúncia sobre prática de "rachadinha" pelo vereador Lucas Sanches (PL), candidato a prefeito, no dia 28, quarta-feira, o presidente e membros da Comissão de Ética e Decoro Parlamentar, antes de abrir o processo preferiram faz uma foto com o acusado, no plenário da Câmara. A foto foi feita durante a sessão ordinária, na quarta-feira, após as 14 horas. O presidente da Comissão, vereador Laury Rocha (PSD), não respondeu aos questionamentos da reportagem.

A DENÚNCIA

O ex-chefe de gabinete de Lucas Sanches, Caique Marcatti, que atuou com o vereador por três anos, denunciou o esquema de "rachadinha" e citou pelo menos dois casos que, segundo ele, podem ser comprovados. Marcatti nega que tenha participado do esquema. "Sempre falei para o Lucas não mexer com isso", disse. A denúncia foi enviada por e-mail, às 11 horas da quarta-feira (28).

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Com a denúncia protocolada na Comissão de Ética e Decoro Parlamentar, os membros da Comissão, responsáveis pela investigação, decidiram, antes de abrir o processo, fazer uma foto com o vereador acusado de "rachadinha". A foto passa a impressão de uma comemoração entre os envolvidos.

Procurado pela reportagem, nesta segunda (2), a partir das 10h40, até o fechamento deste texto (16h), o presidente da Comissão de Ética, Laury Rocha (PSD), não respondeu às mensagens deixadas em seu aplicativo.

OS "FANTASMAS"

Na denúncia protocolada na quinta-feira (29), Marcatti disse que Maria Aparecida Giudice, nomeada em dezembro de 2021, para o cargo de assessora de gabinete do vereador, era "fantasma", com uma remuneração de R$ 9,5 mil, mais benefícios. Maria permaneceu no cargo até o início das investigações de “rachadinha”, sendo exonerada há dois meses.

Pelos cálculos de Caique Marcatti, a mulher teria causado um prejuízo superior a R$ 300 mil. Além dela, Marcos Guilherme Carvalho Alves, também "fantasma", foi contratado em março de 2023, para o cargo de assessor parlamentar de assuntos legislativos, com um salário de R$ 9 mil, além de benefícios. Essa nomeação gerou um prejuízo total aos cofres públicos superior a R$ 144 mil. 

Entre as provas que Caique diz ter juntado para fortalecer a denúncia, ele apresentou o vídeo onde supostamente aparecem assessores contando dinheiro, supostamente devolvido pelos funcionários "fantasmas", tendo ao fundo o vereador Lucas.

LUCAS COM MEIO MILHÃO

Na denúncia, Marcatti afirma que o esquema de “rachadinhas” realizado pelo vereador Lucas Sanches rendia aproximadamente R$ 18 mil mensais. Segundo a denúncia, o esquema teria rendido ao vereador Lucas Sanches o montante próximo de R$ 500 mil.

Como chefe de gabinete, Caique diz na denúncia que sempre questionou o vereador sobre o assunto, sobre principalmente o fato de os contratados nunca terem aparecido para trabalhar. "Onde estavam aquelas pessoas que não se apresentavam para trabalhar?", perguntava. O vereador, segundo o ex-assessor, não respondia e ainda mandava ficar quieto.

Na denúncia, Caique Marcatti disse que, com a campanha de Lucas para prefeito, diz que o vereador pediu que o então chefe de gabinete assumisse a responsabilidade pelas contratações dos "fantasmas".

Segundo Marcatti, quando ele se negou a assumir a responsabilidade pelas contratações irregulares, a amizade dos dois foi rompida. Com o fim do relacionamento, Caique diz que passou a ser ameaçado. "A partir desse momento, eu, familiares e amigos passamos a sofrer diversas ameaças. Primeiro, meu sogro na porta da empresa dele na zona leste de São Paulo, depois, o meu melhor amigo, o jornalista Valdir Pimenta, também foi ameaçado e por fim, minha esposa", afirma. Ele junta documentos dessas ameaças.

Segundo Caíque, as ameaças foram cumpridas no dia 5 deste mês. Ele e Pimenta Júnior foram agredidos com golpes de pau, socos e chutes. Os dois não foram assassinados, porque houve intervenção de seguranças de uma padaria.

Na denúncia, Caíque fez questão de registrar o que deixou registrado na Polícia Civil sobre o que os agressores diziam durante o ataque. "Não cruzem mais o caminho do Lucas Sanches e nem do Carlos Santiago”. Santiago é amigo de Lucas.

No inquérito sobre as agressões, que na versão de Marcatti "foi cumprimento das ameaças", disse. A investigação está a cargo do delegado Fulvio Mecca, chefe do 5º Distrito Policial da cidade. Marcatti disse que informou ao delegado quem seriam os supostos mandantes do crime, citando o vereador Lucas Sanches e o candidato a vereador Carlos Santiago. Os dois negam com veemência qualquer envolvimento.

Veja os questionamentos que o presidente da Comissão de Ética deixou de responder:

1 - O senhor já instaurou algum procedimento para apuração? 2 - Trata-se de um processo ou apenas um procedimento preliminar que poderá gerar um processo?

 2 - Pelo que o senhor já viu da denúncia, é possível avaliar o valor de cada indício apresentado?

 3 - Como a Comissão/Conselho de Ética procede a partir de agora, e quanto tempo terá para apurar?

 4 - Na sua avaliação, os documentos juntados à denúncia são provas da prática de "rachadinhas" no gabinete do vereador Lucas?

 5 - Considerando que o ex-chefe de gabinete, Caíque Marcatti, ocupava o cargo quando os fatos teriam ocorrido, ele também pode ser enquadrado por algum ilícito?

 6 - A Comissão/Conselho de Ética fez uma foto com o vereador Lucas, no plenário da Câmara, logo após o ex-chefe de gabinete protocolar a denúncia. Qual é sua relação com Lucas Sanches?

 7 - A foto, considerando as circunstâncias que a rodeiam, não compromete a isenção que a Comissão/Conselho de Ética deve ter? Na foto, pelas informações que apurei, o vereador denunciado está com toda a Comissão/Conselho de Ética. Isto não compromete a apuração?