Conheça a síndrome de Müller-Weiss, lesão de Rafael Nadal

O tenista Rafael Nadal anunciou que perderá o restante da temporada de 2021 devido a uma lesão no pé e não participará mais de campeonatos este ano. Em um comunicado publicado nas redes sociais, o tenista, que ocupa a posição de quarto colocado no mundo, disse que estava sofrendo “muito mais do que deveria” por conta da doença, por isso decidiu encerrar sua temporada de 2021. O atleta espanhol, que carrega 20 títulos de Grand Slam, informou, em junho, que não participaria de Wimbledon, das Olimpíadas de Tóquio, nem do US open, dizendo que queria prolongar sua carreira e continuar fazendo o que o faz feliz.

Sobre a síndrome

Nadal começou a sentir dores em 2005, quando foi diagnosticado com Müller-Weiss. A doença é uma displasia do escafoide do tarso, osso conhecido como Navicular, é degenerativa e evolui com deformidade desse osso do mediopé, que é essencial para a mobilidade.

A síndrome costuma ser difícil de diagnosticar até que chegar a uma fase avançada, pois os sintomas aparecem de forma lenta e traiçoeira. Na fase crônica, já apresenta a osteoartrose, quando conseguimos identificar nos exames de imagem.

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A articulação talo-navicular é essencial na biomecânica do pé. O Navicular é o último a se ossificar no nosso desenvolvimento, o que podemos dizer que torna Nadal mais vulnerável, uma vez que o tênis exige muito deslocamento lateral e impacto.

Müller e Weiss

Em 1927, Walther Müller descreveu essa condição. Ele inicialmente postulou que a doença se desenvolve devido à forte compressão do tarso. Um ano depois, propôs que a condição era devido a um defeito congênito. O radiologista Konrad Weiss também apresentou uma condição semelhante, mas sugeriu a osteonecrose como a causa da doença, um conceito particularmente apoiado por radiologistas.

O que é a síndrome de Müller-Weiss?

É uma doença rara, que afeta adultos, geralmente entre 40 e 60 anos de idade. É mais comum em mulheres e se caracteriza pela compressão do osso navicular entre o tálus e o osso cuneiforme lateral, levando à osteonecrose espontânea do osso navicular. Os sintomas são crônicos, com dor intensa no mediopé e deformidade progressiva.

Não deve ser confundida com doença de Koehler (osteonecrose do osso navicular em crianças). Quando diagnosticada precocemente, a progressão da síndrome de Müller-Weiss pode ser prevenida com tratamentos não cirúrgicos, produzindo uma melhora na qualidade de vida do paciente. É o que está sendo feito com Nadal.

Esquema sobre a síndrome de Müller-Weiss — Foto: Science Direct

Os estágios radiográficos variam desde alterações mínimas do osso navicular, desvio medial ou dorsal de parte ou de todo o osso navicular e uma deformidade em forma de vírgula, devido ao colapso da porção lateral, até a fragmentação completa do osso navicular, formando um talocuneiforme articular em casos mais graves.

Clínica

Os pacientes geralmente apresentam uma história de dor crônica no retropé. Pode haver edema e sensibilidade na face dorsomedial do pé médio e varo, com arco longitudinal medial normal ou baixo, dependendo da gravidade da doença.

Paradoxal pé plano varo sugere um estágio avançado da doença e costuma estar associado ao calcâneo proeminente posteriormente, devido ao avanço relativo da tíbia em relação às articulações do tarso. Os movimentos subtalar podem ser reduzidos.

Como funciona o tratamento

Dependendo do estágio, cabe um tratamento conservador, com uso de órteses e fortalecimento. Já temos algumas descrições de técnicas minimamente invasivas em uma tentativa de descomprimir ou até mesmo estimuar a revascularização osseao, além de alguns estudos com estímulos de biológicos.

Com base nas pesquisas disponíveis hoje, acreditamos que, em estágios avançados, a artrodese talonavicular-cuneiforme, com ou sem correção do retropé, é a melhor opção cirúrgica. Será que o Nadal precisará de cirurgia? Será que ele volta? Vamos aguardar, que seja valente!

Referências

1. W. Müller. Uber eine eigenartige doppelseitige Veränderung des os naviculare beim Erwachsenen Deutsche Zeitschrift fur Chirurgie Leipzig , 201 (1927 ) , pp. 84 – 87.
2. K. Weiss. Über die “malazie” des os naviculare pedis – Fortschritte auf dem der Gebiete Röntgenstrahlen , 45 (1927) , pp. 63 – 67.
3. Quintella DC, Calmon TR, Guimarães MF, Dos Santos AASMD, Reis M. Síndrome de Müeller-Weiss: aspectos radiográficos. Radiol Bras 2009;42(Supl 1):1-115.
4. Rosenberg ZS, Beltran J, Bencardino JT. From the RSNA Refresher Courses. Radiological Society of North America. MR imaging of the ankle and foot. Radiographics 2000;20(Spec No.):S153-79.
5. Haller J, Sartoris DJ, Resnick D, Pathria MN, Berthoty D, Howard B et al. Spontaneous osteonecrosis of the tarsal navicular in adults: imaging findings. AJR Am J Roentgenol 1988;151(2):355-8.

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Fontes: Ge – Globo Esporte.