Diário de São Paulo
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CARNAVAL 2024

Canaval na Sapucaí terá atração de homem chicoteado

Vítima de agressão em 2023, entregador encontrou no enredo da Paraíso do Tuiuti uma oportunidade de conectar passado e presente contra o racismo

Carnaval na Sapucai em 2018, escola Paraíso do Tuiuti. - Imagem: Reprodução | Flickr - Nêggo Tom
Carnaval na Sapucai em 2018, escola Paraíso do Tuiuti. - Imagem: Reprodução | Flickr - Nêggo Tom

Marina Milani Publicado em 22/01/2024, às 08h42


Max Ângelo dos Santos, o entregador que sofreu agressão em 2023 ao ser atacado com uma coleira de cachorro por uma mulher branca, terá uma participação emblemática no Carnaval do Rio. Desfilando pela escola de samba Paraíso do Tuiuti, Max representará o almirante negro João Cândido, líder da Revolta da Chibata, conectando assim diferentes épocas de violência contra corpos negros.

O convite para desfilar foi uma surpresa para Max, que nunca participou de um desfile de escola de samba. Ele expressou sua satisfação em representar um herói nacional, ressaltando a importância de dar visibilidade a figuras como João Cândido, muitas vezes esquecidas na história.

O enredo da escola de samba, intitulado "Glória ao Almirante Negro!", é desenvolvido pelo carnavalesco Jack Vasconcelos. Destacando a vida de João Cândido, o enredo aborda a revolta de marinheiros brasileiros em 1910 contra os açoites, maus-tratos e má alimentação na Marinha, evidenciando que a abolição de 1888 não foi completa.

Max Ângelo destaca a relevância da história de João Cândido em relação às questões contemporâneas, afirmando que a dor física da violência racial é acompanhada por uma dor mental profunda. O samba-enredo enfatiza a ideia de liberdade incompleta para a população negra, ressoando o grito de resistência: "Lerê lerê, mais um preto lutando pelo irmão. Lerê lerê e dizer nunca mais escravidão".

Para Max, que após as agressões recebeu apoio financeiro e encontrou um novo emprego, desfilar no Carnaval representa uma oportunidade de dar voz às vítimas de violência racial. Ele enfatiza a importância de não se curvar diante do racismo e espera inspirar outros a enfrentarem situações semelhantes.

Aos 38 anos, Max Ângelo reconhece sua posição como uma voz relevante contra o racismo no Brasil. No desfile, ele pretende transmitir a mensagem de que ninguém está sozinho e incentivar a resistência.

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