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Blocos de rua driblam falta de apoio da prefeitura de SP e pedem PIX aos foliões para pagar banheiros químicos; veja fotos

Blocos de rua tradicionais conseguiram driblar a falta de apoio da Prefeitura e desfilaram pelo terceiro dia seguido em São Paulo. O g1 acompanhou a folia nas

Blocos de rua driblam falta de apoio da prefeitura de SP e pedem PIX aos foliões para pagar banheiros químicos; veja fotos
Blocos de rua driblam falta de apoio da prefeitura de SP e pedem PIX aos foliões para pagar banheiros químicos; veja fotos

Redação Publicado em 23/04/2022, às 00h00 - Atualizado às 19h11


Blocos de rua tradicionais conseguiram driblar a falta de apoio da Prefeitura e desfilaram pelo terceiro dia seguido em São Paulo. O g1 acompanhou a folia nas ruas da capital paulista neste sábado (23).

Apesar de não oficializar os cortejos, a gestão municipal declarou que eles não estão proibidos. A orientação dada a Guarda Civil Municipal (GCM) foi a de não coibir ou reprimir foliões. Oficialmente, o carnaval tem apoio da administração para ser realizado no sambódromo do Anhembi, com desfiles das escolas de samba. A sugestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) é organizar um circuito de blocos de rua nos dias 16 e 17 de julho.

Mesmo sem a estrutura de outros anos, os blocos deste sábado tiveram clima familiar, com bebês, crianças e idosos presentes nas ruas, e se concentraram em ruas e praças da Zona Oeste e região central.

Sem investimentos financeiros e logísticos da administração pública municipal, os organizadores dos blocos pediram a contribuição dos foliões, por meio de PIX (um tipo de transferência bancária), para alugar banheiros químicos e garantir a limpeza das ruas. Os blocos pediram ainda que latinhas de bebidas fossem deixadas em lixeiras públicas ou levadas pelos foliões.

Bloco na Zona Oeste de SP faz cartaz com orientações para foliões manterem a cidade limpa após curtição neste sábado (23) — Foto: Tiago Aguiar/g1

Bloco na Zona Oeste de SP faz cartaz com orientações para foliões manterem a cidade limpa após curtição neste sábado (23) — Foto: Tiago Aguiar/g1

Com parte do dinheiro que receberam dos foliões, alguns dos blocos conseguiram alugar banheiros químicos. Assim, quem foi para a festa se divertir não precisou pagar taxas para usar banheiros de bares próximos. Na quinta (21) e na sexta (22), alguns comerciantes chegaram a cobrar dos foliões pelo uso dos toaletes.

Bloco Cerca Frango

O Bloco Cerca Frango se reuniu neste sábado em torno da praça Araçatuba, na Lapa, Zona Oeste de São Paulo. O grupo, que se define como uma “agremiação ébria”, é formado principalmente por ex-alunos da Escola de Comunicação e Artes (ECA) da Universidade de São Paulo (USP) que se reúnem semanalmente para beber, há cerca de 35 anos. Em 2013, começaram a realizar os cortejos durante o carnaval.

Para que a festa não deixasse lixo no bairro, o bloco organizou uma vaquinha de limpeza. Os vendedores de cerveja e os convidados foram todos avisados sobre a arrecadação e o local da folia por canais de comunicação fechados, como o WhatsApp.

“Neste ano não postamos nada nas redes sociais”, contou Breno Castro Alves, produtor do bloco.

A reportagem notou a presença de vários ambulantes vendendo cervejas na região. “Fui num bloco ontem em que eu contei 56 vendedores de cerveja. Hoje tem um para cada grupo de amigos na praça”, falou Breno. O preço da latinha era comercializado por R$ 10.

A organização do bloco ainda instalou quatro banheiros químicos na praça onde a folia ficou concentrada. Sacos de lixo foram espalhados pelas ruas do entorno e, ao microfone, os organizadores pediram aos foliões que tomassem cuidado com a preservação do local. “Vamos cuidar do bem público”, disse um deles.

Os responsáveis também pediram que os frequentadores “foquem nas latinhas” de bebida, evitando embalagens de vidro. “Isso ajuda os catadores e ajuda a gente na limpeza”.

Enquanto isso, a folia seguiu pacificamente com a presença de pais e mães com crianças e bebês de colo.

Bloco Bastardo

Tocando marchinhas tradicionais e uma canção tema do grupo, o cortejo do Bloco Bastardo saiu neste ano pelas ruas da Vila Ipojuca, na Zona Oeste da capital paulista — desde 2013, o bloco costumava marcar presença na região de Pinheiros durante o carnaval.

O grupo segue a tradição das charangas, antigos grupos de marchinhas: sem trio elétrico e com os músicos e cantores seguindo a pé.

A divulgação do ponto de concentração dos foliões ocorreu pelas redes sociais “sem grandes alardes, em trajeto alternativo”.

Com apoio de cerca de meia dúzia de garis enviados pela prefeitura, além de um carro da CET, os vizinhos do bairro da Zona Oeste foram às suas varandas para conferir o bloco, e alguns jogaram água para refrescar os foliões.

Morador refresca foliões com mangueira d'água na Zona Oeste de SP, neste sábado (23)

Morador refresca foliões com mangueira d’água na Zona Oeste de SP, neste sábado (23)

Diferentemente do bloco Cerca Frango, o Bastardo não recorreu a pedidos de Pix dos foliões, e sim doações de um grupo de organizadores e frequentadores. Ao g1, um dos organizadores informou que o bloco também conseguiu patrocínio de uma marca de uísque para sair às ruas.

Na praça Claudino César, localizada na região onde os foliões estavam concentrados, foram instalados quatro banheiros químicos.

Ao microfone, uma das organizadoras agradeceu a presença do público.

“Estamos fazendo esse cortejo porque estamos vivos. Estamos aqui com muito carinho, muito amor e muito tesão pela cultura popular brasileira”, disse.

A organização também agradeceu à “comunidade da Vila Romana”, pedindo para que os foliões tomem cuidado com o lixo: “não queremos lixo na rua, não queremos vidro no chão”.

Bloco do Fuá

No Bloco do Fuá, que se concentrou na rua Conselheiro Ramalho, no Bixiga, organizadores também reforçaram o pedido para que os foliões optassem por latinhas e não garrafas de bebida.

“Garrafa é lixo, é caco de vidro no chão e é arma, nós não queremos garrafa no nosso bloco”, disse um dos organizadores, ao microfone. “Já latinha é dinheiro, é arroz e feijão para as famílias”, completou.

A organização também pediu a colaboração para que os presentes não jogassem lixo na rua. “Neste carnaval atípico, não temos estrutura, não tem gente para varrer”, disse.

Fundado há nove anos com o objetivo de levar cultura popular para as ruas do Bixiga, o bloco sugeriu que os foliões viessem de vermelho ou de amarelo em homenagem ao dia de Ogum e São Jorge, celebrado neste sábado (23).

O grupo se define como um bloco laico e democrático. No microfone, um dos organizadores fez um discurso sobre democracia e destacou que ainda há tempo para jovens de até 18 anos tirarem o título de eleitor para votar nas eleições de outubro.

“Precisamos tirar aquele inominável do poder”, disse ele, em referência ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

“Nós não falamos o nome dele nesse bloco”, emendou, puxando um grupo de “fora genocida”, que foi acompanhado pelos foliões.

Fantasias

Fantasias tradicionais e algumas com críticas políticas passaram pelos cortejos neste sábado. Entre elas, a de um homem que utilizava um chapéu alusivo a militares e vestia uma caixa de Viagra, remédio usado para ajudar homens a manter a ereção durante uma relação sexual.

Recentemente as Forças Armadas foram criticadas nas redes sociais pelo compra de 35 mil unidades de Viagra, usado em casos de disfunção erétil. Segundo as Forças Armadas, o remédio é empregado no tratamento de militares com hipertensão pulmonar arterial (HPA).

O processo licitatório prevê a aquisição de comprimidos de 25 mg e de 50 mg de Viagra. O Ministério da Defesa informou que o uso do medicamento para esse tratamento de HPA é aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

Especialistas ouvidos pelo g1, entretanto, apontaram que a doença é incomum e que a licitação comprou comprimidos com doses indicadas para disfunção erétil, não HPA.

Uma foliã se inspirou no meme “Reage, bota um cropped” para curtir a folia em um dos bloco na capital. Utilizando um cropped e uma placa com um emoji impresso, pendurada no pescoço, ela foi para a rua aproveitar o dia ensolarado deste sábado.

Cortejos começaram na quinta

Os cortejos de blocos de rua começaram na quinta-feira (21), feriado de Tiradentes, em São Paulo. A TV Globo registrou a presença de blocos carnavalescos na cidade durante a semana. Um deles, o Bloco Saia de Chita, estava na Praça Rio dos Campos, na Pompéia, Zona Oeste da capital. Foliões fantasiados se divertiam pacificamente.

Foliões contrariam prefeitura e saem às ruas na zona oeste de SP

Foliões contrariam prefeitura e saem às ruas na zona oeste de SP

Conforme o g1 adiantou no início da semana, pelo menos 50 blocos de rua haviam demonstrado interesse em desfilar na cidade, contrariando a orientação da prefeitura.

Em janeiro, a prefeitura chegou a anunciar o cancelamento do carnaval de rua alegando que não tinha tempo suficiente para organizar cortejos relâmpagos com a estrutura necessária para o atendimento dos foliões. A administração chegou a informar ainda que os blocos que quisessem sair no feriado de Tiradentes procurassem as subprefeituras. Elas dariam apoio ao desfile, realizando as limpezas das ruas depois da folia.

Apesar de Ricardo Nunes ter dito que, mesmo sem autorização, não proibiria os blocos de rua de desfilarem na capital, os organizadores desses grupos decidiram realizar os festejos sem comunicar as autoridades. No dia 13 de abril, o prefeito disse que havia afirmado que “jamais usaria a força” contra manifestações culturais na cidade de São Paulo.

Os organizadores do bloco, no entanto, temem represálias por parte das autoridades e repressão pelas forças de segurança da cidade, a Guarda Civil Municipal, e do estado, a Policia Militar (PM). Até a última atualização desta reportagem nenhuma ocorrência envolvendo blocos de rua havia sido registrada pela GCM ou PM.

g1 apurou que a estratégia usada por alguns blocos será a de não divulgar o endereço dos cortejos previamente para não atrair grande número de foliões e também para impedir que o Poder Público impugne os desfiles com liminares judiciais, ou com o auxílio da GCM e da Polícia Militar.

Durante os desfiles das escolas de samba no sambódromo, Nunes afirmou que não houve queda de braço entre a Prefeitura e os organizadores de blocos de rua da cidade, que insistiram em desfilar nas ruas da capital neste feriado de Tiradentes.

“Não teve queda de braço não [com os blocos]. Tem aperto de mão e beijinho. Os grande blocos foram muito conscientes e aceitaram o apelo da prefeitura. O que a gente está tendo são pequenos movimentos nos bairros, sem nenhum problema até agora. Altamente natural, o que mostra uma responsabilidade maior ainda [dos blocos]”, disse o prefeito, nesta sexta-feira (22).

Por causa do impasse com o Poder Público em relação aos desfiles, alguns blocos vão trocar os desfiles de rua por festas em lugares fechados, como é o caso do Baixo Augusta, que vai se apresentar no Novo Vale do Anhangabaú no domingo (24), ou o Bangalafumenga e o Tarado Ni Você, que vão se apresentar no Komplexo Tempo, na Mooca, no sábado (30), com cobrança de ingresso.

Mesma situação do Bloco MinhoQueens, que vai se apresentar em festa privada em Moema nos dias 21 e 23 de abril, em um clube privado de Moema.

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G1

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