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China obriga islâmicos a trabalharem em fábricas que produzem para Apple e Nike

Alvo de perseguição étnica pelo governo chinês, os uigures estão sendo levados de suas casas e de campos de detenção para linhas de montagem sob condições que

China obriga islâmicos a trabalharem em fábricas que produzem para Apple e Nike
China obriga islâmicos a trabalharem em fábricas que produzem para Apple e Nike

Redação Publicado em 02/03/2020, às 00h00 - Atualizado às 12h25


Relatório de ‘think tank’ australiano denuncia trabalho forçado em fornecedores de 83 empresas

Alvo de perseguição étnica pelo governo chinês, os uigures estão sendo levados de suas casas e de campos de detenção para linhas de montagem sob condições que sugerem trabalho forçado, denunciou neste domingo (1º) o Instituto Australiano de Políticas Estratégicas (ASPI, na sigla em inglês).

Segundo reportagens do Financial Times e do Washington Post sobre o relatório do ASPI, as vítimas estariam sendo obrigadas a trabalhar em fábricas que fornecem produtos para pelo menos 83 companhias chinesas e estrangeiras, entre elas gigantes como Apple , Nike, Google, Huawei e General Motors.

Segundo a denúncia, mais de 80 mil pessoas da etnia uigur da região de Xinjiang – incluindo detentos de campos de “reeducação”, na definição do governo chinês – foram transferidos para fábricas que integram cadeias de suprimentos em uma série de setores, como indústria eletrônica, têxtil e automotiva.

Em seu relatório, o think-tank cita 27 fábricas em nove províncias chinesas como beneficiárias do esquema de transferência aparentemente forçada de mão de obra de Xinjiang desde que Pequim escalou a repressão contra a minoria islâmica uigur em 2017. Nos últimos três anos, estima-se que o governo chinês tenha detido 1,8 milhões de uigures em uma série de campos de detenção naquela região, onde seriam forçados a renunciar à religião islâmica e a adotar o mandarim. Pequim sustenta que a maioria já foi liberada depois de ter “se formado”.

Segundo o ASPI, os trabalhadores transferidos são submetidos a “doutrinação ideológica fora do horário de trabalho e a monitoramento constante e são proibidos de participar de rituais religiosos.”

Ao Washington Post , uma vítima de trabalho forçado contou que “a gente pode circular pela cidade, mas não pode voltar (para Xinjiang) por conta própria.”

De acordo com o jornal, o esquema de trabalhos forçados fazem parte da iniciativa do governo “Ajuda a Xinjiang”, cujo objetivo oficial é estimular a economia local mas que, na verdade, tem sido usada para aumentar o controle de Pequim sobre o território majoritariamente islâmico. O governo de Xi Jinping alega que as medidas são necessárias para previnir atentados terroristas.

Segundo o jornal, uma das fábricas mencionadas no estudo do ASPI, a Taekwang Shoes, na cidade de Qingdao, fornece produtos para a Nike há mais de 30 anos e é uma das maiores fabricantes de seus tênis no mundo. A unidade produziria modelos das linhas Shox e Air Max.

Perguntada pelo Post a respeito da denúncia, a Nike afirmou que “respeitamos os direitos humanos em toda nossa cadeia de valor e sempre nos esforçamos para conduzir nosso negócio de maneira ética e responsável.”

“Estamos comprometidos em sustentar globalmente as normas trabalhistas internacionais”, disse ao jornal norte-americano Sandra Carreon-John, porta-voz da Nike, acrescentando que seus fornecedores são proibidos de usar trabalho forçado em suas fábricas.

iG

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