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Bucho, goela e cangote: palavras do dialeto caipira do interior de SP estão caindo em desuso, aponta pesquisadora da USP

Uma pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) verificou que o dialeto caipira está caindo em desuso em pelo menos oito cidades do interior do estado.

Bucho, goela e cangote: palavras do dialeto caipira do interior de SP estão caindo em desuso, aponta pesquisadora da USP
Bucho, goela e cangote: palavras do dialeto caipira do interior de SP estão caindo em desuso, aponta pesquisadora da USP

Redação Publicado em 05/04/2022, às 00h00 - Atualizado às 07h42


Uma pesquisadora da Universidade de São Paulo (USP) verificou que o dialeto caipira está caindo em desuso em pelo menos oito cidades do interior do estado. Termos como bucho, goela, lombo, beiço e sovaco foram usados pelos entrevistados mais velhos, mas pouco lembrados pelos jovens, o que indica o desuso.

A pesquisa, da filóloga Lívia Carolina Baenas Barizon, teve a participação de moradores de Capivari, Itu, Piracicaba, Pirapora do Bom Jesus, Porto Feliz, Santana de Parnaíba, Sorocaba e Tietê.

Para realizar a pesquisa, Barizon se concentrou em palavras que descrevem partes do corpo humano. Com a ajuda de um desenho e munida de um questionário, ela entrevistou pessoas de diversas faixas etárias para saber como eles se referem a cada parte do corpo.

“Como se chama isto? Você conhece outro nome para isto? Quando a pessoa fica doente, às vezes, fica com dor no…?”, perguntava a pesquisadora.

“Eu chegava pros entrevistados e explicava o trabalho, de forma simples, antes de fazer as perguntas. Tem que ter muita sensibilidade para fazer esse trabalho de campo para a pessoa não ficar parecendo que está em um teste de conhecimento e não se sentir julgada”, explicou.

Vocabulário caipira: as variações mais citadas pelos entrevistados em pesquisa da USP — Foto: Arte/g1

Vocabulário caipira: as variações mais citadas pelos entrevistados em pesquisa da USP — Foto: Arte/g1

Seguindo esse método, o estudo verificou a frequência relativa de 85 termos – e quais as variações possíveis para cada um deles.

“Foi muito interessante ver como as partes íntimas foram as que mais tiveram variações e diversidade de vocabulário”, contou Barizon, autora da pesquisa.

“É engraçado porque a gente imagina que vai ter menos, que a pessoa vai ficar tímida, e ocorreu o contrário”, comentou.

Sob orientação dos professores Manoel Mourivaldo Santiago Almeida, da USP, e Maria do Socorro Vieira Coelho, da Unimontes, a pesquisadora apresentou os resultados do estudo em sua tese de doutorado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) em fevereiro deste ano.

Mapa da região do Médio Tietê, destacando as cidades de Capivari, Piracicaba, Tietê, Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaíba, Itu, Porto Feliz e Sorocaba — Foto: Reprodução/USP

Mapa da região do Médio Tietê, destacando as cidades de Capivari, Piracicaba, Tietê, Pirapora do Bom Jesus, Santana do Parnaíba, Itu, Porto Feliz e Sorocaba — Foto: Reprodução/USP

A tese mostrou uma maior tendência de desuso nos termos pesquisados. De um total de 60 léxicos selecionados, 58% apresentaram tendência ao desuso, enquanto 27% tiveram tendência de manutenção.

O desuso é verificado quando uma palavra é menos utilizada pelos jovens, e mais pelos idosos. Já a tendência à manutenção ocorre quando os jovens estão utilizando mais um item lexical que os idosos.

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G1

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