Três meses: o que esperar?

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Redação Publicado em 02/07/2022, às 00h00 - Atualizado às 09h55

Se você acompanha esta coluna, sabe que ela virou quase exclusivamente uma contagem regressiva. Mas não tem jeito, em ano eleitoral, quem fala de política brasileira tem que esperar pelas eleições. E a pergunta que a gente tem para tentar responder é: em três meses, o que é possível?

É possível que a disputa pela Presidência saia da polarização Lula contra Bolsonaro? Não acredito. Afinal, nem outros nomes têm se mostrado competentes no ambiente político, nem os eleitores parecem querer apostar em incertezas.

Dá para cravar que não haverá segundo turno? A tendência é que não haja. Mesmo Ciro, que mantém um patamar perto dos 10%, se chegar lá com isso, automaticamente desidratará devido ao voto útil. Até porque os eleitores vão estar cansados.

E nos Estados, os nomes indicados por Lula e Bolsonaro tendem também a polarizar? Sim, em geral, isso vai acontecer, com raras exceções. São Paulo é um desses lugares, em que é possível que não haja a polarização. Se souber usar a máquina e atacar a origem não-paulista de Tarcisio, pode ser que Rodrigo Garcia, que herdou o cargo de João Doria, apareça para disputar com Fernando Haddad. Isso já está aparecendo nas pesquisas. E, como Márcio França não será candidato a governador, a vaga ao Senado está quase garantida para ele, com a desistência de Datena. O palanque do presidente, em São Paulo, não será fácil.

No Congresso, as forças bolsonaristas tendem a ter mais espaço no Senado, enquanto a Câmara vai depender da capacidade dos grandes puxadores de voto, que estão aparecendo em todos os Estados. Mas, claro, o Centrão continuará tendo muita força e se sentará à mesa com qualquer um que ganhar a Presidência.

Mas, no meio desse tempo, que parece curto, tem agosto, o mês em que as coisas mais terríveis acontecem na vida política brasileira. Isso quer dizer que não dá para ter toda essa certeza quando lembramos que, em processos eleitorais anteriores, grandes surpresas aconteceram.

Vamos esperar. Três meses passam rapidamente, mesmo que neste ano nem tenha uma Copa do Mundo no meio para tirar o foco do processo eleitoral.

No fundo, o ideal seria que tivéssemos esse tempo para discutir projetos, falar de economia, de sustentabilidade ambiental, da capacidade de aumentar a produtividade no trabalho, das soluções para a educação, da definição das estratégias para a saúde e a proteção social. Mas não. A tendência é que tenhamos trocas de ofensas, xingamentos, cancelamentos, violência e, de vez em quando, tentativas de populismo bem-humorado nas redes sociais, com piadinhas, motociatas e imagens de candidatos fazendo atividades físicas.

É o que merecemos. Pelos próximos três meses, e muito além.

Kleber Carrilho é professor, analista político e doutor em Comunicação Social
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