Polícia faz reconstituição do caso de PM que dirigia Uber e matou 3 que tentaram roubá-lo em SP

A polícia faz na manhã desta quinta-feira (29) a reconstituição do caso do policial militar que fazia bico como motorista de Uber e matou a tiros três

Polícia faz reconstituição do caso de PM que dirigia Uber e matou 3 que tentaram roubá-lo em SP -

Redação Publicado em 29/11/2018, às 00h00 - Atualizado às 11h02

Policiais e peritos marcaram reprodução simulada para a manhã desta quinta-feira (28) na Zona Leste da capital. Policial alega que atirou em passageiros armados em legítima defesa.

A polícia faz na manhã desta quinta-feira (29) a reconstituição do caso do policial militar que fazia bico como motorista de Uber e matou a tiros três passageiros que tentaram assalta-lo em 2016 durante uma corrida na Zona Leste de São Paulo.

Vídeo de câmera de segurança gravou naquela época a reação do então tenente da Polícia Militar (PM), Flávio Azevedo Cavalcante em Cidade Líder.

A reprodução simulada, nome técnico dado a esse procedimento, foi determinada pela Justiça para esclarecer eventuais dúvidas a respeito da conduta do agente da Polícia Militar (PM), como, por exemplo, se ele agiu em legítima defesa ou se cometeu excessos.

Flávio, que está com 43 anos, responde em liberdade por homicídio simples e trabalha normalmente na corporação. Ele foi promovido após o episódio e atualmente é capitão.

Policial participa de reconstiuição de caso em que ele atirou em três assaltantes — Foto: Divulgação/Polícia Civil

O oficial é investigado pela Polícia Civil pelas mortes de Maycon Fabrício de Oliveira, de 19 anos, e Bruno Rodrigues Otacílio, de 18; e Bryan Robert Rocha da Silva, 15. Flávio alegou que atirou nos três para se defender. Dois deles estavam armados, segundo contou ao Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP).

De acordo com a sua defesa informou ao G1, o policial não quer dar entrevistas para comentar o caso, mas estará presente na reconstituição para dar sua versão dos fatos.

“Analisando por várias vezes o vídeo dos fatos, não tenho dúvidas de que ele agiu em legítima defesa”, disse o advogado João Carlos Campanini, que também irá ao local acompanhar a reconstituição. “Estava dominado por três bandidos e se não reagisse, iria morrer”.

Documento da Polícia Científica mostra que reconstituição do caso do PM que matou três durante tentativa de assalto a Uber foi marcada para esta quinta-feira (29). — Foto: Reprodução/Polícia Técnico-Científica

Reprodução simulada

A reprodução ocorrerá na Rua Tilburis e será conduzida por peritos do Instituto de Criminalística da Superintendência da Polícia Técnico-Científica.

Há dois anos, no dia 5 de novembro, Flávio era tenente da PM, mas estava à paisana, sem uniforme, dirigindo seu carro particular, um Toyota Corolla bege. Ele usava o veículo para trabalhar pelo Uber, aplicativo de celular que oferece viagens de passageiros e cobra por isso.

Por segurança, ele andava armado no automóvel. Deixava sua pistola .40, da própria corporação, no assoalho do Corolla, próximo ao banco do motorista.

Naquela tarde, recebeu a mensagem de uma mulher para uma corrida de Uber que partiria da região leste da capital paulista. Como o endereço do ponto de encontro apareceu no celular sem numeração, Flávio resolveu ligar para a solicitante e saber onde ela estava.

Mas quem atendeu ao telefonema foi um homem, que disse que estava com a mulher e aguardava o motorista chegar na Avenida Antonio de Souza Queiroz.

Vídeo gravado por câmera de segurança mostra PM à paisana (com marcações em amarelo) atirar em criminoso (marcação vermelha) após roubo durante corrida de Uber com seu carro (azul). — Foto: Reprodução/Montagem/Inquérito policial

O caso

Flavio foi então com seu carro até a região. Lá encontrou três jovens ao invés de um casal. Mesmo assim, concordou que o trio entrasse no veículo: dois foram para o banco traseiro e outro sentou-se ao seu lado.

Os rapazes não suspeitavam que o motorista do Uber era PM à paisana e estava armado. O destino deles era a Avenida Jacu Pessêgo, em Itaquera.

Entretanto, durante o percurso, o jovem que estava no banco do carona pediu para Flávio parar no meio da caminho na casa que seria de uma amiga sob a alegação que ela daria dinheiro para pagar a viagem.

O garoto desdeu do Corolla e foi até a residência, bateu palmas, mas ninguém saiu dela. Enquanto isso, os dois ocupantes do banco de trás anunciaram o roubo. Um deles encostou a arma na nunca do motorista.

Em seguida, o garoto que havia deixado o carro retorna e volta a sentar ao lado de Flávio. Um dos comparsas que estava atrás saiu do automóvel e se aproximou da janela do motorista.

Em outra foto a partir da imagem da câmera de segurança, PM (marcações em amarelo) observa criminoso baleado (marcação vermelha) após tentar roubá-lo durante corrida de Uber com seu carro (azul). — Foto: Reprodução/Montagem/Inquérito policial

Câmera de segurança

Pelas imagens da câmera de segurança é possível ver esse comparsa armado abrir a porta do condutor. Em seguida, ele sai correndo e foge enquanto Flávio aparece armado atirando em sua direção.

O vídeo ainda mostra o garoto que estava no banco do carona abrir a porta e tentar correr pela calçada em direção à rua. Flávio ainda tem tempo de abrir a porta traseira.

Segundo ele, o assaltante tinha apertado o gatilho da arma, mas ela falhou e não disparou. O motorista então atira no criminoso, que abre a outra porta traseira e cai ferido na calçada.

Depois o que se vê é Flávio atirando e correndo pela rua atrás dos dois outros bandidos. As imagens não mostram eles sendo baleados.

Após isso, o policial avisa a PM, que socorre os criminosos e os leva a hospitais, onde eles morreram. Flávio não soube informar se o trio conseguiu atirar. Ele, porém, não foi ferido.

Secretário da Segurança vai investigar se houve excesso do PM que matou suspeitos no Uber

Repercussão

O resultado da reconstituição será anexado ao inquérito policial do DHPP para depois ser encaminhado ao Ministério Público (MP), que decidirá se oferece denúncia contra o policial ou se arquiva o caso.

Posteriormente, a decisão da Promotoria será levada a Justiça, que concordará ou não com o que o MP sugerir.

A reação do policial militar repercutiu por causa do vídeo. O secretário da Segurança Pública (SSP) de São Paulo, Mágino Alves, chegou a dizer em 2016 que era “nítido” que o agente que matou três ladrões em tentativa de assalto, durante corrida do Uber, agiu em legítima defesa.

Apesar disso, a Corregedoria da PM informou naquela ocasião que iria apurar a conduta de Flávio na esfera administrativa porque ele estava trabalhando como motorista de Uber durante sua folga, o que seria proibido pela corporação.

A empresa Uber chegou a anunciar que iria excluir o policial do seu rol de parceiros após saber que ele trabalhava armado. Especialistas ouvidos pelo G1 disseram há dois anos que teria ocorrido “aparente excesso” e “conduta inadequada” do agente. Um político havia elogiado a reação do PM: “três vagabundos a menos”.

SP DIARIO polícia

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