Laudo aponta que sushiman foi morto pela PM de SP com 4 tiros pelas costas, diz delegado

O sushiman que surtou e ameaçou esfaquear colegas funcionários e clientes de um restaurante japonês, na semana passada, num bairro nobre da Zona Sul de São

Laudo aponta que sushiman foi morto pela PM de SP com 4 tiros pelas costas, diz delegado -

Redação Publicado em 27/11/2018, às 00h00 - Atualizado às 07h30

Polícia Militar matou Leandro Santos após ele ameaçar esfaquear clientes e funcionários de restaurante. Delegado analisa vídeos do Jam para saber se policiais cometeram excessos.

O sushiman que surtou e ameaçou esfaquear colegas funcionários e clientes de um restaurante japonês, na semana passada, num bairro nobre da Zona Sul de São Paulo, foi morto pela Polícia Militar (PM) com quatro tiros pelas costas, aponta laudo necroscópico.

A informação acima foi confirmada nesta segunda-feira (26) ao G1 pelo delegado que investiga o caso. Leandro Santana dos Santos foi morto na última quarta-feira (21) no Jam, no Itaim Bibi. Ele tinha 26 anos e havia retornado recentemente de férias.

“O laudo necroscópico apontou o que a família da vítima já tinha avisado e veiculado na imprensa: que os tiros que o atingiram, atingiram pelas costas”, disse nesta segunda-feira (26) o delegado Fábio Pinheiro Lopes, titular do 15º Distrito Policial (DP). A reportagem não conseguiu localizar a família de Leandro para confirmar a informação do delegado.

Por conta da repercussão do caso, a Ouvidoria da Polícia informou nesta segunda que cobra uma apuração rigorosa Polícia Civil e da Corregedoria da PM para avaliar a conduta dos policiais envolvidos na morte de Leandro (leia ao final desta matéria).

Restaurante Jam, no Itaim Bibi, Zona Sul de São Paulo, onde sushiman foi morto a tiros pela PM — Foto: Kleber Tomaz/G1

O 15º DP já instaurou inquérito para apurar as causas e eventuais responsabilidades pela morte do sushiman. O boletim de ocorrência foi registrado como homicídio “decorrente de oposição à intervenção policial”, resistência e lesão corporal.

O delegado, porém, quer saber se os PMs agiram com excesso ou se o sushiman foi mesmo morto em legítima defesa. Na primeira hipótese, os agentes seriam responsabilizados pela morte, na segunda, o caso seria arquivado.

“Esse inquérito está sendo feito para apurar circunstâncias da morte desse sushiman e as circunstâncias que se deu a intervenção policial: se os policiais militares agiram em legítima defesa e se não houve nenhum tipo de excesso por parte deles”, falou Fábio.

O delegado ainda pretende ouvir nos próximos dias funcionários, gerentes e responsáveis do Jam, além de receber laudos periciais sobre o caso. “A gente está aguardando a chegada dos demais laudos e a oitiva das testemunhas e das eventuais vítimas”, disse Fábio.

A polícia quer saber de colegas de trabalho e parentes do sushiman, se Leandro surtou porque sofria ameaças, perseguições ou bullying no restaurante. Somente após essa etapa é que serão ouvidos os PMs.

Vídeos das câmeras de segurança do Jam, no Itaim Bibi, gravaram ação policial e já estão com a investigação. “Elas [as imagens] mostram isso aí: o sushiman bastante alterado. Ele atirou uma faca nos policiais. Os policiais revidaram e ele acabou sendo morto”, disse Fábio, que, no entanto, não divulgará os vídeos alegando que isso pode atrapalhar a investigação.

O caso

A confusão começou por volta das 23h da quarta passada. Testemunha disseram que 50 pessoas jantavam no Jam quando Leandro segurou o colega que estava na cozinha e o ameaçou com uma faca. Ele chegou a machucar o cozinheiro no pescoço, que foi libertado em seguida depois da chegada dos PMs.

“Cheguei até a pia para começar a lavar a mão pra ir embora, ele me agarrou, me deu uma gravata por trás e já colocou a faca no meu pescoço”, disse à TV Globo o cozinheiro ferido, que pediu para não ser identificado. “Ele foi me arrastando, puxando pra fora do sushi bar e me levou pro salão, pediu pra todo mundo se afastar. Quem chegava perto, ele apontava a faca para sair de perto.”

O surto de Leandro assutou funcionários do restaurante, que disseram ao G1 que o sushiman era sempre quieto.

Funcionário relata que sushiman o ameaçou em restaurante no Itaim Bibi — Foto: TV Globo/Reprodução

4 tiros

As imagens dos vídeos do restaurante mostram o momento em que o sushiman foge correndo dos policiais segurando uma faca e sobe até o mezanino, tentando se esconder atrás do balcão de um bar. Lá ele diz algo para os agentes, pega outra faca e atira na direção deles.

Eram cerca de PMs armados com equipamentos para conter distúrbios (escopeta calibre 12 com balas de borracha e teaser, que é uma arma de choque, e escudo) além de armas de fogo letais (pistolas .40).

As filmagens mostram aos menos três policiais reagindo na sequência. Um deles atira seis balas de borracha na direção de Leandro, mas não o atinge. Outro tenta acertá-lo com o teaser, mas erra o alvo. Em seguida, são feitos quatro disparos, provavelmente de uma das pistolas de um dos agentes que participaram do cerco ao sushiman.

Leandro é atingido por balas de .40 e cai ferido. Ele chegou a ser socorrido, levado ao Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), onde morreu. Foram encontradas perfurações nas nádegas e perto da lateral do corpo.

Foto do site oficial do Jam mostra como é interior do restaurante no Itaim Bibi, onde sushiman foi morto pela PM após surtar — Foto: Reprodução/site oficial do Jam

Vídeos

O delegado analisará os vídeos para saber se os PMs seguiram o uso progressivo da força para tentar conter o sushiman. A investigação vai apurar, por exemplo, se o emprego da pistola foi necessário já que Leandro estava sozinho, sem reféns, quando foi encurralado pelos PMs.

“Vou precisar chegar esse laudo para ver quadro a quadro para a gente ter uma afirmação definida”, disse Fábio sobre a versão que os PMs sustentam de terem feito uso escalonado da força. Ele também irá investigar se o emprego da arma de fogo pela PM “foi necessário e se foi legítimo.”

O delegado ainda pedirá os vídeos sejam analisados por um setor específico do Departamento Estadual de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) e pelos peritos do Instituto de Criminalística (IC) da Superintendência da Polícia Técnico-Científica.

“Agora nós vamos pedir um laudo pericial dessas imagens e também vamos pedir para o DHPP, que tem um laudo que eles fazem lá que é quadro a quadro das imagens, que é bem ilustrativo”, comentou Fábio.

Parte superior do Jam, onde PM atirou em sushiman após ele ameaçar colegas e funcionários com facas — Foto: Reprodução/Site oficial do Jam

Jam e Ouvidoria

Em nota, o restaurante Jam lamentou a morte do funcionário, que trabalharia havia sete anos no local. “Lamentamos profundamente a perda do colaborador Leandro e permanecemos solidários com a família, entes queridos e demais membros da equipe neste momento de muita dor. Que sua alma descanse em paz”.

O Ouvidor da Polícia, Benedito Mariano, afirmou ao G1 que instaurou um procedimento para cobrar, analisar e acompanhar as investigações da Polícia Civil e da Corregedoria da PM sobre a conduta dos agentes.

“É um caso que vamos acompanhar de perto porque tem dúvidas a serem esclarecidas. Se realmente era necessário usar arma de fogo”, disse Benedito. “A vítima estava com arma branca. Eu até fiz recomendação para a o comando da PM que situações de arma branca não se utiliza arma de fogo, mas armas não letais”.

Segundo colegas do sushiman, Leandro era solteiro, mas deixa uma filha de sete meses. Nesta segunda, o restaurante funcionava normalmente, com um pianista tocando para clientes. Apesar disso, amigos da vítima ainda estavam abaladas com a morte do funcionário. “Todos ainda estão em choque”, disse à reportagem um empregado que pediu para não ser identificado.

Sushiman tem surto durante trabalho, ameaça clientes e acaba morto pela PM em São Paulo

SP DIARIO Sao Paulo

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