Procura por vacinas cai cerca de 70% e coloca crianças em risco durante pandemia

Desde o início da pandemia, médicos e especialistas alertam para a queda na taxa de vacinação para outras doenças em todo o mundo, o que pode colocar em risco

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Redação Publicado em 25/04/2021, às 00h00 - Atualizado às 07h45

De acordo com o presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBI), dados mostram queda de 60% a 70% na cobertura vacinal após o início da pandemia de Covid-19

Desde o início da pandemia, médicos e especialistas alertam para a queda na taxa de vacinação para outras doenças em todo o mundo, o que pode colocar em risco a saúde de milhares de pessoas, principalmente de crianças . Doenças como a hepatite B, poliomielite, tuberculose, entre outras, são evitadas por meio de vacinas recebidas ainda na infância.

A procura por imunizantes já vinha em declínio nos últimos anos, mas a pandemia fez com que essa busca caísse ainda mais. “Nos últimos 5 anos essa queda na imunização vinha se acentuando de ano a ano. Com a pandemia, em 2020, ela foi muito maior. Os dados baixam de 60% a 70% da cobertura vacinal, sendo a maior parte nas vacinas do primeiro ano de vida “, explica o médico infectologista Renato Kfouri, presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBI).

Segundo Kfouri, além do receio de contaminação pela Covid-19, a falta de percepção de risco também leva as pessoas a retardar a vacinação. “As pessoas não se sentem mais ameaçadas por essas doenças que foram eliminadas ou controladas. Se elas não se sentem ameaçadas, atrasam a vacinação. Esse é o maior fator, na minha opinião. Se as pessoas estivessem se sentindo muito ameaçadas ou com medo, elas dariam um jeito e as coberturas [de vacinas] não estariam baixas”, acrescenta.

Além do risco pessoal de adiar a vacinação e contrair essas doenças, o infectologista explica que há também o coletivo. “Muitas pessoas adoecendo, a doença voltando a ocorrer com mais frequência na comunidade e o cenário favorável para a reintrodução dessas que já estavam controladas, esses são alguns dos riscos. Tem a questão individual e a de saúde pública também, que essas comorbidades podem voltar e figurar entre as causas principais de mortalidade infantil, hospitalização e todas as consequências delas”.

Rosana Camargo, mãe do Guilherme, seu filho mais novo, preferiu não arriscar. O menino de 2 anos e meio está com algumas vacinas em atraso devido à pandemia de Covid-19. Além do receio de contaminação, a autônoma e dona de casa disse que a demora no cadastro do filho no posto de saúde também fez com que a vacinação fosse adiada.

“Quando o Guilherme nasceu, ele teve uns probleminhas respiratórios, então ficou na UTI. Ele começou a passar no pediatra e fazia fisioterapia no hospital e, quando recebeu alta, me falaram ‘olha, aqui com a gente terminou, agora você pode fazer a carteirinha dele e começar a passar com ele no postinho’. Aí nessa correria de tentar fazer a matrícula, eu chegava no posto e não tinha data, outra hora não tinha a documentação necessária para fazer o registro…. Foi passando, passando e em seguida veio a pandemia”, conta a mulher.

Rosana não encontrou a carteira de vacinação de Guilherme, mas disse que o filho só deixou de tomar os imunizantes depois que a quarentena foi decretada no Estado de São Paulo, em março de 2020. “Não consigo fazer ideia da última vacina, mas ele tomou todas certas, as que ele deixou de tomar foi a partir do início da pandemia, e eu deixei de dar por medo mesmo”.

A autônoma mora em Itapecerica da Serra, município localizado na região metropolitana de São Paulo, e disse que conhecidos que trabalham nos postos de saúde da região relataram saber de casos de funcionários que estavam indo trabalhar com sintomas da Covid-19 ou que retornavam à função apenas uma semana após testar positivo para a doença.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em caso de sintomas, a pessoa deve seguir em isolamento social por pelo menos 13 dias, sendo que os últimos três devem ser livres de sinais de contaminação.

“A última vez que eu fui nesse postinho onde ele toma as vacinas, fui levar um pedido médico e conversei com uma conhecida minha de lá, que me disse que estava com muita dor de cabeça. Quando perguntei o motivo ela falou que teve Covid, não sabia se estava tendo de novo, se estava voltando ou se era uma recaída. Então eu perguntei se ela não tinha tirado licença, e ela respondeu que tirou uma de sete dias. Ninguém se cura em sete dias”, conta.

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Fonte: iG

SP DIARIO DIÁRIO DE S. PAULO

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