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Programas de prevenção contra doenças crônicas não-transmissíveis podem favorecer o crescimento do Brasil

Imagem ilustrativa. - Imagem: Reprodução | Freepik

Mara Machado Publicado em 20/08/2024, às 06h00

As doenças crônicas não-transmissíveis (DCNT), como câncer, hipertensão arterial, diabetes, obesidade e enfermidades cardiovasculares, são hoje responsáveis pela maioria das doenças e mortes em muitos países, seja de alta, média ou baixa condição socioeconômica. Elas representam a maior causa de morte no mundo.

Essas doenças já são consideradas uma verdadeira epidemia, e agravada pela transição demográfica acelerada que vem ocorrendo em muitos países, incluindo o Brasil, onde mudanças que levaram 100 anos para acontecer na Europa, estão ocorrendo em duas ou três décadas.

Por exemplo, a proporção de pessoas com 65 anos ou mais dobrou no país em apenas duas décadas recentes; o percentual de pessoas idosas maiores de 65 anos, que era de 2,7% em 1960, passou para 5,4% em 2000 e alcançará 19% em 2050, superando então o número de jovens.

Os efeitos econômicos das DCNT acabam por se tornar um significativo dreno no potencial econômico das sociedades, afetando negativamente os principais fatores do crescimento econômico, como o trabalho, a produtividade, o investimento público e a educação. Por exemplo, na América Latina o aumento de 50% nas DCNT prevista até 2030 corresponde a uma redução de dois pontos percentuais anuais no crescimento econômico.

No Brasil, o forte impacto socioeconômico das DCNT e seus fatores de risco estão afetando o alcance das Metas de Desenvolvimento Sustentável, que abrangem temas como saúde, educação e combate à pobreza.

Programas de prevenção da saúde populacional são necessários para reduzir a prevalência de doenças crônicas. No entanto, sustentar programas em nível populacional é desafiador. A saúde populacional é altamente influenciada por ambientes sociais, econômicos e políticos e é vulnerável a essas mudanças em nível de sistema.

A redução da carga populacional de DCNT requer investimento prolongado na prevenção, pois as mudanças no comportamento ou nos resultados de saúde podem ser evidentes somente após a entrega sustentada de programas de prevenção populacional.

A sustentabilidade também depende em grande parte da natureza da intervenção e dos resultados, pois muitas mudanças na saúde populacional podem não ser detectáveis ​​até pelo menos 3 a 10 anos após a implementação.

Programas eficazes podem evoluir ou ser encerrados, à medida que o financiamento, as prioridades políticas ou organizacionais, ou o apoio público mudam ao longo do tempo. No entanto, mais frequentemente os programas são encerrados como resultado do fim do financiamento, ou da falta de apoio dos decisores políticos, dos líderes das agências ou da comunidade. Os programas que são encerrados prematuramente não conseguem obter benefícios individuais para a saúde ou um retorno positivo sobre o investimento.

Investir em intervenções para prevenir as DCNT é a melhor saída. Os custos da inércia aumentam à medida que tais doenças prosperam, ameaçando os sistemas de saúde, a seguridade social e o desempenho econômico.

“Intervenções eficazes de prevenção trazem benefícios econômicos efetivos, por custarem menos do que o tratamento de doenças. Estima-se, com efeito, que produzir reduções nos riscos das DCNT, em torno de 2% ao ano, possa aumentar o crescimento econômico em até 1% ao ano, após uma década”, de acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde). No Brasil, por exemplo, isso traria ganhos anuais estimados em 16 bilhões de dólares, muito mais do que seria gasto com as principais intervenções de prevenção e tratamento.

OMS EUROPA DCNT

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