Shogun mira mais duas lutas para aposentadoria e acredita em Jon Jones campeão do peso-pesado

Maurício “Shogun” Rua planeja sua despedida do MMA com no máximo mais duas lutas. Aos 39 anos de idade, quase 21 de carreira, o curitibano ainda se vê em boa

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Redação Publicado em 24/05/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h34

Em reta final de carreira, curitibano projeta volta ao octógono no segundo semestre deste ano, celebra expansão de sua rede de academias e prevê sucesso de “Bones” na nova divisão

Maurício “Shogun” Rua planeja sua despedida do MMA com no máximo mais duas lutas. Aos 39 anos de idade, quase 21 de carreira, o curitibano ainda se vê em boa forma no UFC, mas elenca as lesões como maior desafio enfrentado na profissão e um motivo a mais para pendurar as luvas.

— Quero ter calma e tranquilidade para decidir isso sozinho. Vou fazer minha luta (a próxima) como se fosse a última, mas pode ser que não seja. Então, não quero fazer cerimônia nem nada. Quero lutar sem carga alguma e pode ser que seja a última ou a penúltima — afirma Shogun, que já ostentou o título de campeão do Ultimate.

Em entrevista ao Combate.com, ele fala sobre o atual momento da carreira e celebra a expansão de sua franquia de academias pelo Brasil, a “Shogun Team”. A rede já conta com 50 filiais vendidas até o início deste mês e teve a inauguração de sua maior unidade neste sábado, no Rio de Janeiro, com a presença do atleta.

O ex-campeão do Pride também analisa a subida de Jon Jones ao peso-pesado do UFC, prevê um caminho bem sucedido a “Bones” e detalha os caminhos para Glover Teixeira vencer Jan Blachowicz na disputa do cinturão até 93kg, em 5 de setembro, no UFC 266.

Confira abaixo a entrevista completa

Qual tipo de filosofia e metodologia tenta implementar nas suas academias?

— Quando meus irmãos (Murilo Ninja e Marcos Shaolin) e eu começamos com as franquias, queríamos quebrar dois tabus: o de que academia de arte marcial é fedorenta e o de que você vai se machucar. Conheço muitas pessoas que querem fazer muay thai, jiu-jítsu, mas não fazem por medo de entrar na academia, se machucar, e não poder ir trabalhar depois.

Ex-campeão do UFC inaugurou a Shogun Team no Rio de Janeiro no último sábado — Foto: Arquivo Pessoal

— A gente sabe diferenciar o aluno profissional daquele que treina por esporte, físico, coordenação motora… 95% dos alunos treinam por esporte, e o nosso foco é esse. Claro que o profissional também tem espaço, mas a gente sabe diferenciar o cara que é empresário, médico, a mulher… Então a gente quebrou esses dois tabus.

Você encara as academias também como uma forma de deixar o seu legado como atleta de MMA?

— Meus irmãos e eu tivemos uma grande experiência como alunos. Aprendemos tudo com o mestre Rafael Cordeiro e Rudimar (Fedrigo) na Chute Boxe. O Ninja é um cara que parou, e eu também não vou lutar por muito tempo. Então a gente pensou em ter uma academia… mas depois pensei em algo maior, em ter academias espalhadas por todo o Brasil. Eu fui um atleta muito privilegiado por ter treinado com o mestre Rafael Cordeiro. Então é algo que quero passar para outras gerações.

— Se as pessoas tiverem um pouco do treinamento que tive, tenho certeza que vão ver como a arte marcial é importante para a vida e para o caráter da pessoa. Quando o cara se torna faixa-preta, se torna também um faixa-preta na vida. Tem que ser exemplo dentro e fora do tatame. Essa é a filosofia que a gente passa para todas as filiais.

E o que você traz dos ensinamentos e do espírito da Chute Boxe para as suas academias?

— Acho que a filosofia da arte marcial. De você respeitar quem é mais graduado que você. Arte marcial é como exército, você sabe a sua patente e respeita quem é maior que você. Na luta é assim também. Meus irmãos e eu somos todos faixas-pretas mas o Ninja foi o primeiro, então o respeitamos dentro do tatame por ser mais graduado. Na arte marcial tem que ter sempre isso, respeitar o professor e quem é mais graduado que você.

Shogun (ao centro, na segunda fileira), com os companheiros de Chute Boxe e ao lado dos mestres Rafael Cordeiro (à esquerda) e Rudimar Fedrigo (à direita) — Foto: Marcelo Alonso

Como você está fisicamente e como tem sido os treinamentos desde a última luta?

— Na última luta eu machuquei o braço, então voltei devagar aos treinos. O braço está cada vez melhor, melhorou bem, mas ainda não posso treinar 100% a parte de grappling e wrestling. Aos poucos vou forçando mais. Estou bem, fazendo bastante muay thai sem dor alguma e jiu-jístu e wrestling quase 100%.

Já tem ideia de quando volta a lutar? Pensa em algum adversário específico?

— Em agosto ou setembro, é o objetivo que tenho com a minha equipe. E não penso no adversário, meu empresário cuida disso com o UFC. Está nas mãos dele, nunca me envolvi muito nessa parte.

Em 2019 você já falava que fazia cada luta com se fosse a última. Já se passaram dois anos disso. Como está a sua cabeça com relação à aposentadoria?

— Minha cabeça está tranquila. Sou um cara realizado com a minha carreira, quando eu parar serei grato pelas bênçãos que tive. Quero fazer mais uma ou duas lutas, não sei ao certo ainda. Quero ter calma e tranquilidade para decidir isso sozinho. Vou fazer minha luta (a próxima) como se fosse a última, mas pode ser que não seja. Então não quero fazer cerimônia nem nada. Quero lutar sem carga alguma e pode ser que seja a última ou a penúltima, então não sei.

Shogun teve sua última vitória em julho de 2020, quando bateu Rogério Minotouro em final de trilogia que marcou aposentadoria do rival — Foto: Getty Images

Mas então você tem essa ideia certa de fazer no máximo mais duas?

— Sim, o objetivo é no máximo mais duas.

E como você chegou a esse número?

— Eu não me considero um cara velho. Treino bem e faço bons sparrings com todo mundo. Tem atletas com mais de 40 anos que estão bem, como o Demian Maia e o Fabrício Werdum. A maior dificuldade que tive na minha carreira foram as lesões. Então prezo pela minha saúde pós-luta e por isso penso em fazer no máximo mais duas.

Nesse grupo de quarentões que estão bem tem também o Glover Teixeira… Como você vê o confronto dele com o Jan Blachowicz?

— O Glover é um cara duríssimo, venceu e convenceu nas últimas lutas. Lutou com uns caras muito bons, ganhou do Marreta que estava sempre nas cabeças. Acho que ele merece a chance de disputar o título e tem grandes chances de ser campeão. Ele tem um bom single leg e se derrubar pode vencer qualquer um. Tem um jiu-jítsu afiado e eu apostaria nele para essa luta. Eu acho que o forte do Glover é o ground and pound, então essa estratégia (levar para o chão) seria uma boa.

E como você vê os caminhos que a divisão tomou desde a saída do Jon Jones?

— Acho que abriu bastante com o Jones subindo, e o Cormier parando, a categoria ficou bem ampla. Agora quem está ali no top 5 tem mais chances. Acho que isso é legal, mexe com a divisão, motiva a galera e faz com que o pessoal tenha mais gana para vencer as lutas (risos).

Jon Jones vai se dar bem no peso-pesado?

— Acho que sim. É um cara que luta de uma forma muito inteligente e vai incomodar muitas pessoas no peso-pesado. Tem grandes chances de ser o campeão. Pela história dele e por ser o maior campeão do UFC, ele merece já lutar pelo cinturão.

E como você vê um confronto entre Jones e Francis Ngannou?

— O Stipe Miocic mostrou na primeira vez em que enfrentou o Ngannou qual pode ser o caminho para vencê-lo. Ficou desgastando com ele nas grades e acabou facilitando o caminho para vencer a luta. Acho que o Jones tem que buscar a parte do wrestling, em que ele é muito bom, para derrubar, buscar o corpo a corpo e desgastar o Ngannou, que tem as mãos pesadas e é muito perigoso no boxe. Isso com certeza o Jones vai evitar.

Por falar em Jon Jones, em março fez dez anos da sua luta contra ele. Qual sentimento você traz daquele período da sua carreira, das suas lutas contra o Lyoto, a conquista do título, e depois a derrota para o americano?

— Um sentimento de felicidade, por ser o campeão, e ao mesmo tempo de tristeza, porque lutei com um cara duro como o Jon Jones e não consegui colocar o meu jogo. Essa luta para mim foi muito frustrante. Mas luta é assim mesmo, um ganha e outro perde. E o Jon Jones provou para o mundo todo que é um cara muito bom, inteligente, estrategista.

Jon Jones conquistou cinturão do peso-meio-pesado do UFC contra Maurício Shogun em 2011 — Foto: Getty Images

— Se olhar para a minha carreira como um todo, tenho muito orgulho de mim, mesmo nas derrotas. Porque são as derrotas que te fazem crescer. Então tenho sempre a sensação de missão cumprida. Quando comecei a lutar não imaginava que chegaria onde cheguei.

De onde vem a motivação para continuar ativo depois de tudo o que você já conquistou?

— Tiro motivação da minha família e dos meus fãs. Encaro cada luta como um sonho pessoal. E sou um cara sadio, não bebo, não fumo… estou sempre no gás, bem treinado. Então tiro motivação dos meus fãs e principalmente do meu sonho pessoal de vencer cada luta.

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Fontes: Ge – Globo Esporte.

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