Mundial de handebol: 1ª grande competição da pandemia tem covid como rival e monta bolha

Vai ser um Mundial totalmente diferente. O coronavírus se apresenta como mais um adversário no caminho de 32 seleções - incluindo a do Brasil - que se reúnem

Mundial de handebol -

Redação Publicado em 12/01/2021, às 00h00 - Atualizado às 12h53

Competição no Egito reúne 32 seleções e enfrente barreiras do coronavírus, com direito a polêmica sobre a torcida e atletas cortados às vésperas da estreia após testes positivos

Vai ser um Mundial totalmente diferente. O coronavírus se apresenta como mais um adversário no caminho de 32 seleções – incluindo a do Brasil – que se reúnem no Egito a partir desta quarta-feira para a primeira grande competição da pandemia: o Mundial de handebol masculino. Uma bolha foi montada para isolar os atletas. Mas vai ser o suficiente para garantir a segurança até o dia 31 de janeiro?

Para ter essa resposta, o Comitê Olímpico Internacional (COI) observa de perto o Mundial, uma espécie de termômetro para os problemas que a pandemia pode causar nas Olimpíadas de Tóquio. Na planilha de anotações, antes mesmo de a competição começar, já tem polêmica sobre a presença de torcedores e o impacto do coronavírus no resultado final, com atletas sendo cortados às vésperas da estreia. São os desafios de um Mundial em tempos de pandemia.

Mundial do Egito de handebol não vai ter torcida nas arquibancadas — Foto: Reprodução/Instagram

Maior competição desde o início da pandemia

Reunir atletas de 32 países em meio à pandemia é o desfio dos organizadores do Mundial do Egito. Desde que o coronavírus se tornou uma questão sanitária internacional, apenas dois Mundiais foram realizados, o de triatlo e o de ciclismo mountain bike. As duas modalidades, porém, são individuais e em ambientes abertos. Bem diferente do handebol, um esporte de muito contato físico.

Por ser a primeira grande competição da pandemia, o Mundial do Egito é observado de perto pelo COI, que vai analisar a eficiência das medidas contra os coronavírus. O alemão Thomas Bach, presidente do COI, confirmou presença na competição.

A bolha

Para garantir a segurança dos atletas, o Mundial de handebol vai seguir o exemplo da bolha da NBA. Alguns hotéis do Egito foram destinados exclusivamente às equipes participantes. Para viajar ao Egito, todos precisam de um teste negativo do tipo PCR até 72 horas antes do embarque. As seleções são recebidas com medição de temperatura e um novo teste PCR. Quem está na bolha precisa repetir o teste PCR a cada 72 horas. Assim, a organização do Mundial prevê a realização de 20 mil testes do tipo PCR.

– Estabelecemos medidas e precauções médicas especiais duras e estritas a serem seguidas durante o Mundial do Egito, e não haverá lugar para aqueles que não aderirem a essas medidas – disse Hassan Moustafa, presidente da Federação Internacional de Handebol (IHF).

Japão passa por medição de temperatura antes do Mundial do Egito de handebol — Foto: Reprodução/Facebook

O uso de máscara é obrigatório dentro da bolha. É possível ficar sem máscara apenas em treinos e jogos. A organização do Mundial ficou responsável por disponibilizar sempre máscaras e álcool em gel. Na entrada dos hotéis, dos centros de treinamentos e das arenas de jogos, todos precisam passar por medição de temperatura.

– Vai ser uma prova de fogo para ver o que está dando certo, o que está dando errado e o que pode melhorar. Eu acho que é muito difícil acertar de primeira, vai haver coisas boas e coisas ruins, e a gente espera que a maior parte seja coisas boas – disse Thiagus Petrus, jogador da seleção brasileira.

Covid: mais um adversário

Qualquer pessoa que apresentar algum sintoma de covid-19 deve ficar em isolamento. Caso uma pessoa de uma seleção teste positivo, toda a delegação e também a última equipe adversária devem ser testadas. Pessoas infectadas pelo coronavírus só podem deixar o isolamento depois de dois testes negativos do tipo PCR com intervalo de 72 horas entre eles.

Assim, o coronavírus pode ser um fator decisivo no Mundial. O Egito sofreu com mais de dez casos em dezembro. A seleção brasileira também foi vítima da pandemia. Mesmo isolada no centro de treinamento da cidade portuguesa de Rio Maior, que tem parceria com o Comitê Olímpico do Brasil (COB), a delegação brasileira teve cinco casos positivos de covid-19, sendo um atleta e quatro membros da comissão técnica. O Brasil ainda aguarda testes negativos para viajar ao Egito na quarta.

– Está sendo um pouco desgastante. Temos que respeitar os protocolos, ninguém quer pegar corona, especialmente antes de um campeonato como esse. Estamos isolados aqui. Temos máscara, álcool em gel, fazemos todos os procedimentos de saúde. Tudo o que tem de precaução. Fomos pegos de surpresa com esses casos de covid – disse Henrique Teixeira, capitão da seleção brasileira para o Mundial do Egito.

Henrique Teixeira vai ser o capitão do Brasil no Mundial — Foto: Reuters

Torcida e polêmica

Antes do Mundial, uma polêmica foi formada em torno da presença de torcedores. Os jogadores se posicionaram por uma competição com portões fechados. Quatro jogadores alemães pediram dispensa (Hendrik Pekeler, Steffen Weinhold, Finn Lemke e Patrick Wiencek). Três vezes eleito o melhor jogador do mundo e atual campeão mundial e olímpico, o dinamarquês Mikkel Hansen também cogitou cancelar a ida ao Egito.

– Eu estaria mentindo se dissesse que não pensei em cancelar. Não sei se o torneio deve ser cancelado, mas não deve haver torcedores. Isso não faz sentido. Em países como Dinamarca, França e Alemanha, onde acredito que a pandemia corona está sendo levada a sério, jogamos semana após semana em frente a arquibancadas vazias. No Egito, por outro lado, você deve jogar para uma multidão de pessoas – disse Hassen, em entrevista ao jornal dinamarquês “Jyllands-Posten”.

Estádio do Cairo vai sediar a final do Mundial de handebol do Egito — Foto: Reprodução/Facebook

A organização do Mundial já havia reduzido a presença dos torcedores a 20% da capacidade das arquibancadas, mas os jogadores não ficaram satisfeitos. A Comissão de Atletas da União Europeia de Handebol (EHF) enviou uma carta à IHF pressionando para que os jogos do Mundial sigam as regras de segurança das partidas que estão sendo realizadas na Europa, com portões fechados. Às vésperas da estreia da competição, a IHF cedeu à pressão.

Brasil em quadra

O Brasil conquistou no Mundial de 2019 a inédita nona posição, e os jogadores acreditam que é possível superar essa campanha para chegar às quartas de final. Não vai ser uma missão fácil em um Mundial que passou de 24 para 32 seleções. O Brasil está no Grupo B e estreia na sexta-feira, às 14h (de Brasília), contra a Espanha, atual campeã europeia e uma das favoritas ao título no Egito. Polônia e Tunísia completam a chave. Os três melhores avançam para a segunda fase e carregam seus resultados em uma nova chave com os três melhores países do Grupo A (Alemanha, Hungria, Uruguai e Cabo Verde). Apenas os dois melhores na segunda fase avançam para as quartas de final.

– Não tracei meta de resultado, tracei de jogo. Temos que jogar bem. Estamos em um grupo que podemos ser primeiro ou não classificar. Sabemos aonde podemos ir, mas a meta é ir evoluindo jogo a jogo. É o grupo mais difícil do Mundial. A meta é fazer essa seleção jogar bem, aguerrida, alegre, fazer com que represente bem o Brasil e ganhe confiança para o pré-olímpico – disse o técnico Marcus Oliveira, o Tatá, que vai ter no Mundial seu primeiro desafio no comando do Brasil.

Com técnico novo, Brasil mantém a base em busca de melhor campanha da história no Mundial, mas está em grupo da morte — Foto: REUTERS/Sergio Moraes

O Mundial do Egito também vai servir de preparação para o Brasil encarar o pré-olímpico da Noruega, entre 12 e 14 de março. Duas vagas para os Jogos de Tóquio vão estar em disputa. Além de Brasil e da anfitriã Noruega, Coreia do Sul e Chile estão no páreo.

Convocados do Brasilhandebol

Goleiros
Leonardo Terçariol (CB Benidorm)
Maik dos Santos (Liga Taubateana de Handebol SP)
Rangel da Rosa (Club Balonmano Ciudad De Logroño)

Centrais
Henrique Teixeira (CSM Bucharest)
João Pedro da Silva (Club Balonmano Puente Genil)
Arthur Patrianova (Atletico Valladolid)

Laterais Direito
Gustavo Rodrigues (Pontault-Combault Hanball)
José Guilherme Toledo (CS Minaur Baia Mare)

Laterais Esquerdo
Haniel Langaro (Barcelona)
Leonardo Dutra (Orlen Wisla Plock)
Thiago Ponciano (Club Balonmano Ciudad Encantada)
Thiagus Petrus (Barcelona)
José Luciano Costa (Benfica)

Pivôs
Guilherme Borges “Santista” (Liga Taubateana de Handebol SP)
Rogério Moraes (Veszprém)
Vinícius Teixeira (Liga Taubateana de Handebol SP)

Pontas Direita
Fábio Chiuffa (Dobrogea sud Constanta)
Rudolph Hackbarth (Club Balonmano Ciudad De LogroÑo)

Pontas Esquerda
Cleber de Andrade (Liga Taubateana de Handebol SP)
Felipe Borges (US Créteil Handball)

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GE – Globo Esporte.

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