Djokovic revela desejo de voltar ao Brasil, e Guga desafia amigo “Djokinho”: “Amo o Guguinho”

Atenção: 311 semanas - praticamente seis anos. Quantas pessoas passaram tanto tempo como melhores do mundo naquilo que fazem? Sim, o tenista Novak Djokovic

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Redação Publicado em 14/03/2021, às 00h00 - Atualizado às 14h58

Recordista de semanas como número um do mundo, em entrevista exclusiva, Novak Djokovic diz que Guga Kuerten é um de seus tenistas e pessoas favoritas, e o brasileiro manda mensagem com desafio ao sérvio

Atenção: 311 semanas – praticamente seis anos. Quantas pessoas passaram tanto tempo como melhores do mundo naquilo que fazem? Sim, o tenista Novak Djokovic vive essa doce e duradoura realidade.

– Estou na Sérvia, neste momento, e quando acordei parecia que era um dia normal, mas não foi normal por causa de todos que o tornaram especial. Me dei conta pela primeira vez do significado do que faço, de que o meu sucesso é também o das pessoas ao meu redor e de um país inteiro – disse o tenista com exclusividade ao ge, na última segunda-feira, no dia em que se tornou o recordista de semanas como número um do mundo.

– É o esporte que eu amo com todo o meu coração, então claro que eu estou extramente feliz e orgulhoso dessa façanha. Eu divido com a minha família, meus amigos e minhas pessoas mais próximas na vida. E muitas pessoas me disseram que esse sucesso é o sucesso delas também, é como eles se sentem. É provavelmente o que me fez mais feliz hoje, ver a emoção de outras pessoas. Dez anos atrás, quando eu realizei meu sonho de infância ao ganhar em Wimbledon e me tornando o número um do mundo no tênis, eu voltei para comemorar na Sérvia e tinha muitas pessoas aqui nas ruas de Belgrado e ao redor do país. Eu fiquei muito surpreso com isso. Então é uma responsabilidade enorme também, mas é uma grande alegria, um grande prazer de representar o meu país e estar no meu país nesse dia tão especial – explicou Djokovic.

Djokovic e Guga juntos em gravação — Foto: Reprodução/SporTV

Um feito ainda mais impressionante na era dos supertenistas. O suíço Roger Federer, dono da marca anterior com 310 semanas, e o espanhol Rafael Nadal há muito disputavam o posto de melhor jogador de todos os tempos até Djokovic transformar a dupla de gênios em um trio. Nunca houve uma época que reunisse três jogadores com tantos títulos de Grand Slam, os torneios mais importantes do tênis mundial. São 58 ao todo. 40 divididos igualmente entre Federer e Nadal e outros 18 de Djokovic.

– Eu ainda estou tentando entender e me dar conta disso porque eu ainda sou, obviamente, no mundo profissional do tênis, competindo, então você é treinado e programado pra pensar qual será o próximo objetivo, qual é o próximo torneio. É por isso que pra mim é tão difícil identificar esse sentimento com clareza e eu provavelmente vou refletir sobre isso e viver isso mais profundamente só daqui alguns anos – ponderou o sérvio.

federer tenis wimbledon djokovic — Foto: Getty Images

Alcançar os melhores sempre foi a motivação. Desde o tempo em que superar a rede ainda era um grande desafio. Mas o pequeno Novak já sonhava com o topo do esporte que amava.

– Eu olhava para Pete Sampras, Lendl, McEnroe, Becker, Agassi, esses eram os caras que eu admirava quando era criança na Sérvia, crescendo em um país que passava por guerras e tantos momentos difíceis. Mas é algo que trouxe força e inspiração pra mim. Então sempre fui motivado a ser um dia como eles, estar no centro da quadra de Wimbledon e talvez ter a chance de colocar minhas mãos naquele troféu – recordou.

Novak Djokovic, da Sérvia, com o troféu recebido por ter terminado 2020 como número um do mundo — Foto: TPN/Getty Images

No começo dos anos 90, o país de Djokovic vivia em meio a uma guerra que culminou na separação e independência de territórios da antiga Iugoslávia. Trinta anos depois, as luzes são para saudar o maior atleta sérvio. Logo depois da entrevista ao ge, centenas de pessoas se reuniram para celebrar “Novak Djokovic – o melhor tenista do planeta”, mas sem respeitar o distanciamento social. O próprio tenista teve dificuldade em alguns momentos para entender a necessidade das regras de combate à pandemia do novo coronavírus. Em junho do ano passado, ele promoveu uma série de eventos com presença de público e sem recomendação do uso de máscaras. Pelo menos quatro atletas foram contaminados, entre eles o próprio Djokovic.

– A maior lição que eu tiro do último período é que nós temos que ter a mente aberta, sermos flexíveis e nos adaptarmos. E, no final das contas, aceitar as circunstâncias que temos na vida, porque quando aceitamos somos capazes de seguir em frente. E eu sei que é muito difícil, especialmente se você é acostumado a um certo ritmo de vida, a um certo estilo de vida, a certos padrões e depois algo com isso acontece, com o coronavírus, que pegou todos de surpresa, varreu o mundo nos últimos 12, 15 meses. Muitas pessoas estão sofrendo, em vários aspectos, então seu grato por estar aqui hoje, falando com você sobre minha façanha, poder jogar o esporte que eu amo. Meu coração, compaixão e amor vão para todas as pessoas ao redor do mundo que estão sofrendo no momento – afirmou o número um do mundo do tênis.

Djokovic entrou no circuito profissional em 2003, aos 16 anos. Foi ganhando jogos e subindo. Dois anos depois, estava pela primeira vez entre os cem melhores. Em 2006, quando conquistou o primeiro torneio da ATP, era o número 28 do ranking mundial. Em 2007, já era um dos dez melhores. No ano seguinte, o número 3 do mundo. E foi assim até 2010.

Novak Djokovic com máscara de Darth Vader, em 2012 — Foto: Dean Mouhtaropoulos/Getty Images

Até esse momento, Djokovic tinha conquistado um torneio de Grand Slam. Seu talento era reconhecido, mas encontrava dificuldades para enfrentar partidas longas e decisivas. Até que decidiu investigar o próprio corpo. Com a ajuda de nutricionistas, descobriu que era alérgico a glúten e a laticínios. Trocou a alimentação e a partir daí cruzou a linha que separava o ótimo jogador de um superatleta.

A temporada seguinte começou com 43 vitórias seguidas, a maior sequência de um tenista desde 1968. De repente ele conquistou o Aberto da Austrália sem perder um set sequer. Derrotou Federer em Dubai, depois na semifinal de Indian Wells, vencendo Nadal na final – algo que repetiu em Miami, em Madri, em Roma e em Wimbledon. Bateu a dupla e levou os títulos.

– Eu agradeço. Sim, eu tento ter a mente aberta pra tudo o que a vida apresentar pra mim. Penso que há um plano de Deus pra todos nós, eu acredito nisso. Ao mesmo tempo eu acredito que nós temos as chaves das nossas vidas e dos nossos destinos em nossas mãos. Nós podemos criar. Temos o poder de criar a vida e a realidade que queremos viver. Então eu vivo seguindo esse tipo de filosofia, de sentir esse tipo de satisfação, de alegria e de paz também. E serve como uma ótima motivação pra tudo o que vier pela frente pra mim – refletiu.

Novak Djokovic com a medalha de bronze nas Olimpíadas de Pequim 2008 — Foto: Getty Images

A primeira vez como número um foi exatamente em 2011. E ficou por lá um ano. Depois, perdeu a posição por um tempo até recuperá-la e ficar mais dois anos na liderança do ranking. Aí, uma lesão no cotovelo fez o sérvio cair até o 22º lugar, a pior posição em uma década. Mais uma vez, teve que provar sua resistência. Recuperou a forma, retomou a posição de número um e, depois de 18 títulos de Grand Slam já prepara o novo objetivo: O inédito ouro olímpico.

– Tóquio certamente é uma das grandes prioridades no meu calendário. Vou buscar a medalha, não há honra maior do que representar seu país nos Jogos Olímpicos – afirmou Djokovic.

Um recordista, campeão, compenetrado em vencer e em ser feliz. A quadra para Djokovic também é local de brincadeira e diversão. Ele se tornou um mestre em imitar rivais. Mesmo aqueles que nunca enfrentou no circuito, como Gustavo Kuerten, o Guga.

Djokovic Guga Rocinha — Foto: André Durão/GloboEsporte.com

– Fala, Djokinho, meu amigo! E aí, o português tá afiado? Entendendo tudo? Cara, parabéns, obrigado por essas novas páginas do tênis. Lembro do bate-bola, já tinha muita ambição do outro lado lá em Roland Garros. A gente dando adeus e tu começando. Já dava para perceber os sonhos, as metas, os objetivos e o que viria pela frente. Mas confesso que… será que tu imaginavas ir tão longe assim? Ainda mais com esses dois grandes gênios do tênis da mesma era, Federer e Nadal, e conseguir façanhas extraordinárias? Tenista maior do mundo! Maior tempo feito em toda a trajetória do esporte – disse Guga em mensagem enviada a Djokovic por meio do ge.

– Guguinho é um cara fantástico, uma lenda do nosso esporte. É um amigo querido. Eu amo o Guga, ele é um dos meus tenistas favoritos de todos os tempos, mas também uma das minhas pessoas favoritas de todos os tempos. A energia positiva que ele espalha é incrível – respondeu Djokovic.

Os dois já estiveram juntos no Brasil, em 2012, em uma exibição no Maracanãzinho com direito a show de tênis e diversão. Na entrevista, Djokovic revelou que deseja voltar ao Brasil para encontrar Guga e tomar água de coco.

– Vindo pra cá, para gravar esse vídeo, eu comentei com meu filho, Luís Felipe, que estava indo mandar uma mensagem para o Djokovic. E ele disse: “Meu favorito, pai!”, então pra mim tem um saborzinho… Ainda brasileiro, desse temperinho, arroz, feijão, picanha, diversão, alegria! Fiquei sabendo que tu quer voltar pra cá e tô esperando. Esse vai ser o desafio e você não vai conseguir superar: cadê a peruca? Cabelo tá maior agora, haja peruca para imitar o Guguinha – brincou Guga em meio a um novo convite a Djokovic.

Dono de recordes, o sérvio será lembrado como um dos maiores da história para orgulhar os pequenos sonhadores, como Novak foi um dia.

– Essa a mensagem que eu queria passar a todos os jovens, não só na Sérvia, mas em todo mundo. Se você realmente acredita nos seus sonhos, se você se empodera dele, se você coloca pessoas no seu entorno que te motivem, te inspirem, te encorajam, tudo é possível.

Djokovic e Gustavo Kuerten gravam comercial — Foto: Reprodução / Twitter

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Fonte: GE – Globo Esporte.

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