Quando o Palmeiras de Abel Ferreira migrou para um sistema com três zagueiros, imediatamente se instalou um debate sobre ofensividade versus defensivismo.
Redação Publicado em 30/04/2021, às 00h00 - Atualizado às 17h41
Quando o Palmeiras de Abel Ferreira migrou para um sistema com três zagueiros, imediatamente se instalou um debate sobre ofensividade versus defensivismo. Mudanças assim sempre alteram diversos comportamentos e funções de jogadores e, no caso do Palmeiras, alguns novos movimentos vão se tornando um padrão. E mostram que o novo esquema não se presta somente a criar uma forma de defender. Por trás dele, há mecanismos para fazer a bola chegar ao gol rival.
Duas mudanças, em especial, chamam atenção: as novas atribuições de Weverton e do zagueiro Gustavo Gómez. É habitual times fazerem a saída de bola com três jogadores, seja com três zagueiros, com um volante ou um lateral. Mas no caso do Palmeiras, Abel fez o time repetir diante do Universitario, no Peru, e do Independiente del Valle, no Allianz Parque, uma rotina bem menos habitual.
Embora jogasse com três zagueiros, só dois deles participavam da primeira etapa da construção: Luan e Alan Empererur em Lima, e Luan com Renan em São Paulo. Nos dois jogos, o terceiro homem desta primeira etapa da construção de jogadas era o goleiro Weverton. Não chega a ser inédito, mas a adaptação originou outra modificação bem menos comum: quando o time saía jogando, o zagueiro Gustavo Gomez se adiantava, buscava as costas dos adversários que faziam a primeira pressão e praticamente se alinhava ao volante Danilo.
A imagem abaixo mostra um destes momentos, no jogo disputado no Peru. Weverton é o homem central na saída de bola, com Luan à direita e Alan Empereur à esquerda. Gustavo Gómez deixa a linha de zaga e já ocupa um espaço por trás da primeira pressão peruana, próximo a Danilo.
A manobra tem algumas finalidades, como a criação de linhas de passe com mais um homem por trás da pressão rival. Mas, fundamentalmente, busca a geração de superioridade numérica. Para tal, Weverton vem sendo trabalhado com especial atenção.
– Quando o adversário te marca homem a homem, tens que ter movimentos diferentes e amplos. Queremos ter sempre dois a mais do que o adversário. Se nos pressionam com dois centroavantes, temos o goleiro e mais três, formando um 4 a 2, por exemplo. Temos insistido para que o Weverton seja mais um jogador de campo com a bola nos pés. Com calma, ele vai evoluindo – disse Abel Ferreira ao blog.
A imagem a seguir mostra uma espécie de “gatilho” para que o movimento aconteça. A bola é recuada para Weverton, e Gómez parte para ocupar uma posição adiantada.
Aqui, quatro segundos depois, ele já chegou ao seu espaço junto a Danilo. Neste momento do jogo, o Universitario colocava três homens na primeira linha de marcação. O Palmeiras tentava ter Weverton, dois defensores ao seu lado, além de Gómez e Danilo mais à frente.
Aqui, o modelo de saída de bola se repete contra o Independiente Del Valle, na última terça-feira, com Gómez por trás do centroavante e gerando uma situação de quatro contra dois.
A seguir, ele já se alinha com Danilo como duas opções de passe, atraindo a marcação rival. A ideia é gerar espaços às costas da marcação.
Aí reside outro debate que se colocou em torno do Palmeiras: a velha divisão entre time “reativo” ou “proativo”. É fato que o Palmeiras tem como grande virtude ofensiva a capacidade de fazer ataques rápidos, com aceleração nos espaços às costas do rival. No entanto, isso não significa que seja necessário esperar o adversário atacar. Há mecanismos para fazer estes espaços surgirem, atraindo o oponente para seu próprio campo.
– Atrair curto para ganhar espaço nas costas quando o adversário nos pressiona. Se ele não pressiona, aí vamos jogar dentro e fora, curto e longo – diz Abel, em referência a mecanismos de ataques como a alternância da bola pelo centro ou pelos lados, ou a alternância entre passes curtos e longos.
Na imagem abaixo, o modelo de saída de bola do Palmeiras atrai jogadores do Universitario e ao menos seis estão posicionados a partir da intermediária. Patrick de Paula ocupa uma posição mais adiantada, junto aos volantes peruanos. Até atacar o espaço às costas.
Aqui, no desfecho do lance, ele ataca o espaço para infiltrar na área e finalizar a jogada.
Embora o foco de seu trabalho tenha recaído sobre a capacidade defensiva, Abel Ferreira diz que “a criatividade ofensiva e a arte de atacar são tao importantes como a arte de defender”. E destaca a importância que dá à criação de superioridades numéricas em todos os setores e momentos do jogo.
– Se dividires o campo em três, tens defesas, médios e avançados. O segredo com a bola é criar vantagens numéricas em cada uma das três zonas. E a mesma coisa sem a bola – afirma.
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Fonte: Ge – Globo Esporte.