Mesmo com reservatórios em recuperação, custo da conta de luz deve seguir elevado em 2022

Mesmo com a melhora do nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas e com o menor acionamento das termelétricas, as contas de luz devem se manter com

Mesmo com reservatórios em recuperação, custo da conta de luz deve seguir elevado em 2022 -

Redação Publicado em 26/12/2021, às 00h00 - Atualizado às 11h54

Tarifas são pressionadas pelo custo das medidas emergenciais para evitar racionamento, por preços dos combustíveis, alta do dólar e inflação. Aneel busca saídas para amenizar impacto.

Mesmo com a melhora do nível dos reservatórios das usinas hidrelétricas e com o menor acionamento das termelétricas, as contas de luz devem se manter com valores elevados nos próximos anos, projetam especialistas consultados pelo g1.

Somente as medidas emergenciais adotadas para evitar um racionamento de energia neste ano e para socorrer o setor elétrico durante a pandemia deixaram uma conta de, ao menos, R$ 69 bilhões a serem pagos pelos consumidores nos próximos cinco anos, distribuídos da seguinte maneira:

Aneel prevê conta de luz 21% mais cara em 2022

Além dos custos deixados pela pandemia e pela crise energética, há fatores adicionais de pressão sobre a tarifa, especialmente em 2022:

Medidas para amenizar

A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) avalia medidas para reduzir o impacto tarifário em 2022. A área técnica da agência vê a necessidade de um reajuste médio de 21%, levando em conta o custo deixado pela crise hídrica e nenhuma medida de mitigação.

Segundo a Aneel, além da Conta Escassez Hídrica – que deve reduzir o impacto tarifário em 2022, mas deixar uma conta com juros a ser paga nos próximos anos –, pelo menos outras três medidas estão no radar para reduzir a alta na conta de luz:

A agência não informou em quanto essas medidas devem ajudar a reduzir o impacto tarifário.

Especialistas avaliam

Maurício Tolmasquim, professor do Programa de Planejamento Energético da UFRJ e ex-presidente da Empresa de Pesquisa Energética, diz que, apesar do alívio momentâneo para as contas de luz, os empréstimos feitos pelo setor acabam, na verdade, empurrando o problema para frente.

“Claro que sobre cada uma dessas dívidas incide juros, e você só está empurrando o problema para mais adiante. Isso deixa um problema para o próximo governo que vier, porque tem uma série de efeitos dessas dívidas. É uma espécie de pedalada elétrica”, diz Tolmasquim.

O professor também afirma que o leilão emergencial foi precipitado, porque contratou energia por um preço muito elevado.

“Foi uma contratação muito cara, foram contratadas térmicas, a maior parte funcionando o tempo todo, com um valor de tarifa de mais de R$ 1,5 mil por MWh. Hoje, os leilões de eólica e solar estão na casa de R$ 100 e R$ 150. As térmicas tradicionais [custam] menos de R$ 400”, compara.

“É claro que térmicas têm vantagens, podem ser operadas quando necessárias, mas se o objetivo é encher os reservatórios, você pode gerar energia com fontes mais baratas e renováveis”, completa.

De acordo com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), apesar de o preço médio de contratação do leilão emergencial ter sido de R$ 1.563,61 por MWh, houve deságio – isto é, o preço a ser pago pelo governo será inferior ao valor de mercado da energia.

Segundo a agência, o leilão resultou em economia de R$ 474 milhões para os consumidores e estão previstos R$ 5,2 bilhões em investimentos.

Entenda a sua conta de luz

Para Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), o Brasil continua muito refém do clima.

“O Brasil continua muito refém do clima na matriz elétrica, com quase 65% da energia gerada sendo por água. A gente teve um crescimento muito grande da geração eólica, mas que depende de vento.”

O especialista avalia que parte da conta deixada pela crise energética poderia ser menor se o governo tivesse ligado antes as usinas termelétricas mais baratas, que cobram em torno de R$ 400 por MWh.

“Você lá atrás poderia ter ligado térmicas de R$ 350, R$ 400 para encher os reservatórios, o que teria ajudado para que a crise não fosse tão profunda e assustadora em 2021, quando teve que ligar térmicas de R$ 2 mil”, explica.

O Ministério de Minas e Energia (MME) afirma que desde outubro de 2020 o país vem ligando térmicas a fim de preservar águas nos reservatórios, além de importar energia da Argentina e do Paraguai.

Sobre as medidas de mitigação em estudo pela Aneel, Tolmasquim lembra que algumas já foram adotadas em 2020 e que não será possível contar com isso para sempre. “São medidas pontuais e incertas”, afirmou.

Pires acredita que, se o país corrigir as suas deficiências no setor elétrico, a partir de 2026 será possível ter mais segurança energética e preços menores.

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G1
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