Fabiana Sarmento de Sena Angerami Publicado em 01/12/2023, às 05h33
Há cerca de três meses foi lançado no Brasil o filme Sound of Freedom, em tradução para o português, O som da Liberdade.
Em linhas gerais, o filme baseado em fatos reais, conta a estória de um policial americano que trabalhava no combate à pedofilia e se depara com uma organização criminosa voltada para o tráfico humano, no caso o tráfico de crianças e adolescentes com o fim de exploração sexual. Após salvar um menino hondurenho vítima da organização, o policial vai em missão para tentar resgatar sua irmã na Colômbia, também vítima do mesmo crime.
O filme é uma produção independente, produzido pela produtora cristã Angel Studios, e gerou muita polêmica nos Estados Unidos e em outros lugares do mundo, o que não foi diferente no Brasil.
Dentre as principais críticas está o fato do mesmo ter sido apoiado e até financiado por setores da igreja evangélica e simpatizantes de direita, que inclusive teriam comprado e distribuído ingressos. Alguns criticam a conduta de produtores do filme e do próprio policial que inspirou o personagem principal. Outros reclamam que a estória não é completamente fidedigna, o que por si só parece patético, posto que baseado significa embasado em determinada coisa, e, em se tratando de cinema, é sabido que qualquer fato recebe uma dose extra de fotografia e dramatização para o objetivo evidente, qual seja, alcancar a maior bilheteria possível. Há, também, alguns trechos da produção que possam ter desagradado a uns ou outros, como falas do tipo "filhos de Deus não podem ser vendidos" ou a cena em que rebeldes armados colombianos compram uma menina para fins de escravidão sexual...
Mas enfim, considerando o universo de horror da problemática apresentada, qual é a real utilidade de tais críticas? A avalanche de críticas, verdadeiras ou não, se torna simplesmente irrelevante e impertinente quando se coloca na tela do mundo o real e constante abjeto comércio de criancas e adolescentes para fins de escravidão e exploração sexual.
Atualmente, o tráfico humano possui muitas vertentes, como trabalho escravo, trafico de órgãos, adoção ilegal e a exploração sexual.
A abordagem do filme, mostra de maneira realista e cruel o aliciamento de crianças e adolescentes, normalmente em condições de extrema vulnerabilidade e pobreza, onde os criminosos por meio de promessas de riquezas, rapto ou mesmo compra de crianças, roubam-lhes a liberdade e a inocência, confinando-as em qualquer canto ignóbil do mundo, sem documento ou qualquer chace de fuga; transformando-as, desde tenra idade, em escravos sexuais, geralmente até o fim de suas vidas.
Sem sombra de dúvidas o tráfico de pessoas para fins de escravidão sexual é uma das maiores violações de direitos humanos da contemporaneidade, que macula quase todos os países, seja como fornecedores das vítimas, seja como receptores/consumidores desse comércio macabro.
Segundo a ONU mais de 2,5 milhões de pessoas são traficadas por ano ( 80 % mulheres e criancas), sendo que esse tipo de crime é considerado como uma das cinco atividades criminosas mais lucrativas do mundo, movimentando cerca de 32 bilhões de dólares por ano.
Portanto, não se trata de gostar ou não da produtora do filme, do protagonista da obra, da fidelidade da estória ou de pender para uma determinada ideologia ou religião...
A questao pricipal é retirar a venda dos olhos do mundo para uma problemática real e global, onde países (desevolvidos) e pessoas (abastadas ou acima de qualquer suspeita) se valhem de países (com problemas socioeconômicos) e pessoas (em situação de extrema vulnerabilidade) para se imiscuirem em um submundo degradante em nome de uma volúpia infame.
O que não se pode, o que não é humano e democrático, é se valer de concepções individividualistas ou de classes, para cerrar os olhos para um crime de caráter nacional e transnacional, de modo a tentar ignorar ou silenciar os clamores de socorro que ecoam pelo mundo ou, ainda, fazer ouvidos moucos para a importância e urgência do som da liberdade.