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ONU 2024: Lula defende taxação dos super-ricos e regulação digital em discurso polêmico

Luiz Inácio Lula da Silva. - Imagem: Divulgação / Ricardo Stuckert

Agenor Duque Publicado em 25/09/2024, às 10h44

Na 79ª Assembleia Geral das Nações Unidas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou seu discurso para abordar temas globais urgentes como mudanças climáticas, fome, desigualdade econômica e a necessidade de uma reforma no Conselho de Segurança da ONU. Sem mencionar diretamente o empresário Elon Musk ou a rede social X (antigo Twitter), Lula fez duras críticas a plataformas digitais que, segundo ele, acreditam estar "acima da lei". Ele defendeu a regulação do ambiente digital por parte dos Estados, ressaltando que "a liberdade é a primeira vítima de um mundo sem regras", uma fala que foi interpretada como um posicionamento a favor de maior controle sobre redes sociais, algo que provocou reações globais, em especial da direita conservadora.

No cenário climático, Lula destacou os desafios que o Brasil enfrenta, como as queimadas que devastaram 224.381 km² em 2024, e reforçou seu compromisso de erradicar o desmatamento até 2030. A crítica à falta de compromisso das nações ricas com a crise climática foi um dos pontos centrais de sua fala, enquanto o presidente aproveitou a oportunidade para anunciar a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP30), que ocorrerá no Brasil em 2025.

Além da crise climática, Lula reforçou a necessidade de reformar o Conselho de Segurança da ONU, um órgão que considera desatualizado e pouco representativo. Defendeu a inclusão de mais países, especialmente da América Latina e da África, e questionou o poder de veto das potências globais. Embora essa proposta tenha ganhado apoio de figuras como o presidente dos EUA, Joe Biden, ela encontra resistência entre setores conservadores, que veem na ampliação do Conselho uma possível perda de influência do Ocidente.

Um dos temas mais polêmicos do discurso foi a guerra na Ucrânia. Lula defendeu o plano sino-brasileiro, que propõe um cessar-fogo negociado sem exigir a retirada imediata das tropas russas dos territórios ocupados. A proposta foi amplamente criticada por aliados da Ucrânia, que veem nisso uma postura leniente em relação ao regime de Vladimir Putin, sendo interpretada por conservadores como uma aproximação perigosa com regimes autoritários.

Outro ponto que atraiu críticas de setores conservadores foi o apoio de Lula à taxação dos super-ricos. Ele afirmou que enquanto corporações acumulam lucros gigantescos, o desenvolvimento sustentável fica para trás, e defendeu uma maior taxação de grandes fortunas para combater a desigualdade. Essa proposta é vista como um aumento do intervencionismo estatal, algo que vai contra os princípios do livre mercado defendidos por liberais e conservadores.

Lula também tocou em temas delicados ao criticar, ainda que indiretamente, o presidente argentino Javier Milei e as políticas econômicas ultraliberais que ele representa. Para Lula, essas "experiências ultraliberais" apenas agravam os problemas econômicos da América Latina, algo que vai contra a visão conservadora que vê em Milei um defensor das liberdades econômicas.

Por fim, o presidente brasileiro apresentou a criação da Aliança Global contra a fome e a pobreza, uma iniciativa que será lançada na Cúpula do G20, prevista para novembro de 2024 no Rio de Janeiro. Lula destacou que os países em desenvolvimento devem estar no centro das decisões globais para que políticas eficazes de combate à fome sejam implementadas.

A recepção ao discurso de Lula foi marcada por críticas em vários níveis da direita conservadora mundial. A defesa da regulação das redes sociais, vista como uma tentativa de censura, gerou preocupação entre os defensores da liberdade de expressão. A agenda climática, com seu foco na bioeconomia e no multilateralismo, foi recebida com ceticismo por aqueles que acreditam que políticas ambientais rigorosas podem sufocar o crescimento econômico. Além disso, a proposta de taxação dos super-ricos e a ampliação do Conselho de Segurança da ONU foram vistas como sinais de um maior intervencionismo estatal e de um afastamento das políticas liberais, algo que preocupa alguns setores.

No geral, o discurso de Lula reforçou seu papel como defensor de uma nova ordem global, mas também acentuou a polarização com a direita conservadora, que vê suas propostas como um sinal de maior controle estatal e uma aproximação perigosa com regimes autoritários. Para Lula, porém, é uma questão de justiça global e de construir um mundo mais inclusivo e sustentável.

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