Levantamento da Rede Nossa São Paulo, elaborado em parceria com o Ibope Inteligência e divulgado hoje (5), mostra que seis em cada dez pessoas pertencentes às
Redação Publicado em 05/05/2020, às 00h00 - Atualizado às 14h56
Levantamento da Rede Nossa São Paulo, elaborado em parceria com o Ibope Inteligência e divulgado hoje (5), mostra que seis em cada dez pessoas pertencentes às classes média e alta da capital paulista passaram a valorizar mais o Sistema Único de Saúde (SUS) com a pandemia de covid-19. Criado pela Constituição de 1988, sob os princípios do acesso universal e igualitário, o SUS é visto pela maioria (69%) desses habitantes como a estrutura que tem evitado que as consequências da crise sanitária sejam “muito piores”.
Das 800 pessoas das classes A, B e C que responderam ao questionário online da organização, 62% declararam não ter plano de saúde privado. O formulário foi aplicado no período 17 e 26 de abril, com pessoas de idade igual ou superior a 16 anos.
No total, 40% julgam que o governo federal deve destinar mais verbas à rede pública de saúde. Este é um dos principais fatores considerados cruciais para a mitigação dos impactos da pandemia, juntamente com as medidas de isolamento total da população (37%), a concessão de renda básica emergencial (32%) e a aplicação de testes de diagnóstico de covid-19 (30%).
O coordenador-geral da Rede Nossa São Paulo, Jorge Abrahão, avalia que a pandemia gerou reflexões essenciais sobre a responsabilidade dos governantes e as desigualdades sociais existentes no Brasil. Ao todo, 81% dos participantes acreditam que os moradores das periferias irão sofrer mais com a pandemia. “Fica, claramente, uma discussão que a sociedade tem tido, de alguma forma, sobre qual é o papel do Estado em um país em que três a cada quatro pessoas da população dependem do SUS. Então, se estamos dizendo que tem que se investir mais, valorizar o SUS, temos uma discussão sobre o papel do Estado nisso”, afirma Abrahão.
“Talvez seja um ponto de a gente fugir do debate do Estado máximo ou do Estado mínimo, mas existe um debate sobre um Estado necessário, sobretudo para um país como o Brasil, com as desigualdades que tem. O investimento público, a questão de políticas de austeridade, como você reequilibra esse processo, porque estamos vivendo com políticas de austeridade e isso hoje impede, até por conta da Constituição [Federal], com a emenda do teto [Emenda Constitucional n.º 95], que investimentos maiores sejam feitos. Como é que a gente soluciona isso diante de um problema como esse que surgiu para todo o planeta mas que estamos tendo aqui no brasil, lamentavelmente, um avanço muito forte”, complementa.
Para o coordenador, os males da pandemia no Brasil meramente exacerbam problemas que, há muito, afetam o país, como a falta de acesso ao saneamento básico e a má distribuição de renda. “Na Europa, quem mais sofreu com a crise foram os mais idosos. O recorte lá foi dado pela idade. Aqui, o que está comandando isso não é a idade, é o endereço. É o CEP que está comandando quem está correndo mais riscos. E, portanto, isso só mostra o grau de desigualdade que temos. Chama a atenção essa questão, porque esses espaços são aqueles em que as habitações são mais precárias, onde se tem menor acesso à água, ao esgoto, à saúde. É onde se reúne um grau deficitário maior”, analisa.
“É incompreensível que a desigualdade cobre vidas das pessoas. Não podíamos deixar chegar a esse grau a desigualdade. O que está acontecendo na cidade de São Paulo e no Brasil é que a desigualdade está cobrando com vidas. Portanto, não é só uma desigualdade material. Causa indignação. Não podemos nos conformar com isso, temos como resolver. O Brasil é um país rico. A cidade de São Paulo é a mais rica da América Latina. Nós temos como fazer isso, temos que ter algum tipo de pacto. Temos que ter coragem dos governos, na verdade, para poder inverter prioridades e fazer com que os tributos das pessoas mais ricas sejam direcionados para a solução dos problemas que temos”, emenda.
Os entrevistados também avaliaram as medidas adotadas até o momento pelos principais agentes públicos. Aproximadamente sete em cada dez entrevistados consideram adequadas as medidas adotadas pelo Ministro da Saúde (71%), pelo governador de São Paulo (68%) e pelo prefeito da capital paulista (68%). A pesquisa mostra também que uma parcela significativa não sabe opinar sobre as medidas adotadas pelos vereadores e deputados estaduais no combate à pandemia: 39% e 34%, respectivamente. Já as medidas adotadas pelo presidente da República são consideradas não adequadas por 57% daqueles que responderam a pesquisa. Sobre a troca do Ministro da Saúde feita recentemente, 30% dos respondentes apoiam a mudança.
A pesquisa também revela informações sobre as condições laborais das classes A, B e C. Sessenta e um por cento tiveram o expediente reduzido, 21% seguem com o mesmo número de horas de trabalho, 4% tiveram a carga levemente aumentada e 3% agora trabalham muito mais do que antes da pandemia. Outros 21% ficaram temporariamente sem trabalhar, por falta de clientes ou fechamento da empresa, e 6% foram demitidos.
A parcela que informou ter perdido parcialmente a renda durante a pandemia totaliza 42%, sendo que 25% tiveram uma grande diminuição e 17%, uma pequena queda. Além disso, 22% dos respondentes ficaram sem renda nenhuma. Do universo abordado, somente 1% declarou ter aumentado os rendimentos.
Destaca-se também que 32% das pessoas que tiveram a renda levemente reduzida tiveram a jornada de trabalho mantida ou mesmo aumentada. Entre os que ficaram sem renda, quase metade (42%) está desempregada.
A pesquisa trata, ainda, da percepção das três classes quanto aos impactos mais diretos na rotina, como convívio social e lazer, e identifica as principais preocupações manifestadas pelo grupo populacional. O material pode ser conferido no site da Rede Nossa São Paulo.
Agência Brasil
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