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Litoral Norte

De prisão de segurança máxima a ponto turístico: conheça a Ilha Anchieta

Localizada em Ubatuba, a Ilha Anchieta, já foi uma prisão de segurança máxima no Litoral Norte de São Paulo

Localizada em Ubatuba, a Ilha Anchieta, já foi uma prisão de segurança máxima no Litoral Norte de São Paulo - Imagem: Reprodução/Vídeo G1: Ilha que já foi prisão de segurança máxima no litoral agora tem hotel e restaurante em SP
Localizada em Ubatuba, a Ilha Anchieta, já foi uma prisão de segurança máxima no Litoral Norte de São Paulo - Imagem: Reprodução/Vídeo G1: Ilha que já foi prisão de segurança máxima no litoral agora tem hotel e restaurante em SP

Ana Rodrigues Publicado em 29/09/2023, às 11h28


Localizada em Ubatuba, a Ilha Anchieta, já foi uma prisão de segurança máxima no Litoral Norte de São Paulo, atualmente vive hoje um momento muito diferente do seu passado histórico. Com os atrativos concedidos à iniciativa privada, o local agora conta com um hostel e restaurante para receber turistas. 

Anchieta é a segunda maior ilha do estado, com cerca de 826 km². Em 1942, começou a manter os presos mais perigosos, tornando-se uma prisão de segurança máxima. Também foi palco de uma das mais sangrentas rebilões do país, onde deixou 25 mortos e ficou conhecida como a "chacina de Anchieta".

Em abril deste ano, a Fundação Florestal, do governo de São Paulo, que segue à frente da gestão da Ilha Anchieta, assinou um contrato para permissão do uso por 10 anos, com uma empresa chamada Ebram Fiore, vencedora da concorrência, segundo o G1. Porém, o contrato não transfere a gestão total da ilha para iniciativa privada, apenas permite a operação de serviços turísticos, como hospedagem, alimentação e atividades de lazer em estruturas já existentes, que não eram exploradas pela Fundação Florestal. 

Isso significa que o patrimônio natural, histórico e cultural do Parque Estadual Ilha Anchieta continua sob gestão direta da Fundação Florestal, e a empresa vencedora fica responsável apenas pela execução dos serviços de apoio ao ecoturismo, que é fiscalizada.

O objetivo da permissão de uso à inicativa privada é fomentar o tursimo e fortalecer o desenvolvimento socioeconômico da região, gerando renda e emprego.

O projeto valorizará ainda a produção e mão de obra local, uma vez que a empresa terá que contratar 70% de colaboradores residentes em Ubatuba ou Caraguatatuba e priorizar a comercialização de pescados e frutos do mar obtidos da pesca artesanal local”, disse em nota.

Não são permitidas novas construções na ilha e no espaço histórico, onde estão as ruínas do antigo presídio também não pode ser usado comercialmente. A operação começou oficialmente no dia 23 de setembro.

Atualmente, o Parque Estadual da Ilha Anchieta conta com três edificações destinadas a hospedagem, uma lanchonete, banheiros e churrasqueiras para locação. As hospedagens estão localizadas onde funcionavam unidades de saúde e uma escola na época em que a ilha era um presídio. Segundo o contrato, a permissionária não tem permissão para construir nada novo e nem usar ruínas das celas, por isso, foi usada e adaptada a estrutura que já era utilizada antes do contrato.

Além das praias que cercam a Ilha Anchieta, o local conta com outros atrativos naturais, como trilhas e mirantes. Já os atrativos históricos, o parque oferece um roteiro de visita às estruturas como o Centro de Visitantes, à capela e às ruínas do antigo presídio.

Na ilha, existem 7 praias, sendo elas: 

  • Praia do Sapateiro; 
  • Praia do Presídio;
  • Praia das Palmas; 
  • Praia do Engenho; 
  • Praia do Sul;
  • Praia do Leste; 
  • Praia de Fora. 

A Ilha Anchieta conta com três meios de hospedagem, sendo dois hostels com quartos privativos e coletivos, além de uma casa de locação para temporada. Os hostels contam com 68 leitos no total e diferentes tamanhos de quarto. Os valores começam em R$249 por dia, com o café de manhã incluso.

O local conta com um restaurante. Conforme previsto em contrato, a culinária atende à cultura caiçara, com os ingredientes locais, como frutos do mar e vegetais da região. Os valores dos pratos vão de R$ 69 a R$ 93 por pessoa.

Os valores para passar o dia na ilha variam, dependendo da sua Nacionalidade, onde eles seguem a portaria normativa da Fundação Florestal e os recurso obtidos são aplicados na manutenção e gestão do local.

  • Brasileiros e estrangeiros residentes no país: R$ 19;
  • Estrangeiros de países do Mercosul: R$ 28;
  • Estrangeiros de países que não são do Mercosul: R$ 37.

Para chegar até a ilha, o principal acesso é a partir do píer do Saco da Ribeira, que fica a oito quilômetros da ilha. O percurso leva cerca de 30 minutos. O transporte é feito por embarcações credenciadas, como escunas e lanchas. Além do Saco da Ribeira, outros locais de saída são:

  • Praia da Enseada;
  • Praia do Itaguá; 
  • Praia do Lázaro; 
  • Praia das Toninhas. 

A primeira permissão do contrato abrange hospedagem, bilheteria e loja, além de locação de espaços para eventos, de equipamentos náuticos e de guarda-sóis e cadeiras de praia. A segunda parte é focada em alimentação e aluguel de quiosques e de outros espaços para eventos. Além das permissões, a empresa também ficará responsável pela manutenção e limpeza das praias, parte das edificações e das trilhas, além do controle de acesso de visitantes.

História da Ilha Anchieta

Na década de 40, mais especificamente 1942, a ilha se tornou sede do Instituto Correcional, prisão para os bandidos mais perigosos da época. O local foi escolhido para isolar os criminosos da sociedade. Ainda há registros de que o local chegou a abrigar até 480 homens.

A segurança era feita por 49 militares da Força Pública, que serviam no Destacamento 314, responsável pela Ilha Anchieta, e respondiam ao 5º Batalhão de Caçadores de Taubaté. Além dos militares, 22 guardar de presídio faziam a vigia dos pavilhões, porém esses vigias não tinham autorização para portarem arma de fogo.

Como a ilha é um lugar isolado, quente e úmido, gerava muitas reclamações e problemas de saúde em quem estava recluso naquelas condições. Além disso, há relatos de que, com a distância do continente e monitoramento, presos eram torturados.

Em 1947, o então secretário da Segurança Pública, Flodoaldo Gonçalves Maia, foi pessoalmente ao presídio para tentar parar a violência que estava acontecendo. Em 1952 o local foi palco de uma das mais sangrentas rebeliões vistas no país. Os presos desarmaram um soldado, invadiram as casas de militares que ficavam no local e fizeram todos reféns.

Todas as celas foram abertas e alguns conseguiram fugir em uma lancha usada para o transporte de quem chegava à prisão. O resultado dessa rebelião, segundo o Inquérito Policial, foi de 25 mortos, sendo 15 detentos e 10 agentes estatais. Dos 129 fugitivos, 108 foram recapturados e seis detentos foram dados como desaparecidos.

Em 1955, o restante dos detentos que permaneceram na "Colônia Correcional" foi transferido para a Casa de Custódia de Taubaté e o Presídio da Ilha Anchieta foi oficialmente desativado.

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