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A guerra não vale a pena

A guerra não vale a pena - Imagem: Reprodução | Twitter - Mahmud Hams
A guerra não vale a pena - Imagem: Reprodução | Twitter - Mahmud Hams
Cesário Melantonio Neto

por Cesário Melantonio Neto

Publicado em 11/11/2023, às 07h43


Não há qualquer chance de paz na guerra entre Israel e Hamas enquanto Netanyahu e o Hamas estiverem no poder.Ambos querem encontrar uma solução bélica para o choque de interesses.

Essas atuais lideranças não conseguem vislumbrar a possibilidade de um acordo de paz e uma discussão de dois Estados para os dois povos. São necessários líderes como os que estiveram no poder para as assinaturas dos Acordos de Oslo, nos anos noventa.

O célebre aperto de mão entre Rabin e Arafat selou essa aliança.O cenário atual é bem diferente, com lideranças sem qualquer disposição para o diálogo.

São necessários governantes que possam vislumbrar a volta das negociações diplomáticas.

E do diálogo além de pensar em um futuro de paz para o oriente médio.

E preciso discutir fronteiras, a desocupação dos assentamentos israelenses ilegais na Cisjordânia e a construção de uma atmosfera de confiança para negociar algo impossível atualmente.

Até que se compreenda que a guerra não vale a pena a região não terá paz .

A presidência rotativa brasileira em outubro do csnu fez um esforço elogiável para tentar costurar um novo texto de uma resolução de teor humanitário .A despeito de todos os nossos esforços não foi possível aprovar um texto com um mínimo de racionalidade e de decência para este conflito.

Como se os horrores da guerra e os dramas humanitários na região não fossem suficientes, o conflito deve gerar um efeito colateral chocante: o marketing do terror, com o uso e a divulgação de imagens da barbárie. Por exemplo, o bombardeio por Israel de hospitais em Gaza, sob a justificativa de que membros do Hamas estariam se escondendo nesses hospitais.

E impressionante como estamos vivendo em um período triste da Humanidade.

No caso dos brasileiros, o foco do nosso trabalho e convencer Israel e o Egito a abrir a fronteira para os nossos nacionais. Segundo integrantes do Itamaraty a questão central é “quem poderá sair de Gaza e como” . A negociação tem sido descrita neste início de novembro como difícil e complexa do ponto de vista político e operacional.

Os cerca de trinta brasileiros fazem parte de mais de cinco mil palestinos com dupla nacionalidade.

O Brasil tem mantido conversas com autoridades egípcias e israelenses sobre a abertura do posto fronteiriço de Rafat , por onde devem ser libertados os brasileiros.

A Agência das Nações Unidas para refugiados palestinos disse que pelo menos um milhão e meio de pessoas foram deslocadas de seus lares em Gaza e que 600 mil pessoas estariam em abrigos ou instalações fornecidos pela Agência.

As entradas e as saídas da Faixa de Gaza estão fechadas.

Um dos elementos que torna complicada a solução do conflito e uma nova bipolarização da ordem internacional. Essa polarização se daria entre os Estados Unidos e a Europa Ocidental, de um lado, e Rússia e China com as nações sob a sua influência.

Nesse contexto torna-se mais difícil tomar qualquer decisão porque prevalece o que se chama de jogo de soma zero : se um lado ganha o outro perde.

Desde o início Washington resistiu a aprovação de qualquer texto no csnu para não desvalorizar a iniciativa diplomática e o protagonismo de Joe Biden .

No mesmo dia em que o texto brasileiro foi rejeitado, Biden anunciou ter acertado com Israel e Egito a abertura de um corredor humanitário em Gaza.Os Estados Unidos preferiram agir de forma unilateral a obter o aval das Nações Unidas.

O pano de fundo da resistência americana sempre foi a tensão com a Rússia, em razão da guerra na Ucrânia. Para os russos, a intenção era expor o que consideram uma contradição de Washington: enfatizar a situação dos refugiados ucranianos, mas não a crise aguda entre os palestinos, agravada pelas explosões nos hospitais de Gaza.

Na verdade , não há boas opções para uma ofensiva terrestre de Israel em Gaza. Não importa o sucesso da operação na derrota do Hamas, pois o apoio da população a resistência continuará de qualquer forma.

Israel ou reocupa Gaza ou ao se retirar após uma ofensiva cede terreno as pessoas para quem a resistência ainda continua a existir até uma solução definitiva do conflito.

Alguém deve governar Gaza e está e uma fraqueza da estratégia israelense porque o Hamas representa uma ideia política e religiosa que não pode ser desmantelada , e e uma organização que cresce graças a sua reputação entre os palestinos de abraçar a luta armada e o martírio contra Israel. Mesmo que seja derrotado militarmente, o Hamas não pode ser totalmente neutralizado.

Ele pode ser derrotado militarmente sim mas permanecer políticamente relevante. O Hamas pode tentar apresentar qualquer defesa como um martírio heróico em favor da libertação do povo palestino.

Mesmo que Israel desfira um duro golpe contra o Hamas, não conseguirão impedir a sua regeneração.

Talvez as Nações Unidas possam ajudar a manter a paz dentro de Gaza, como uma espécie de força policial suplementar, enquanto o estatuto e a credibilidade da autoridade palestina forem restabelecido.

Biden fez uma rara viagem de um presidente americano a uma área sob ataque de foguetes para mostrar seu apoio à Israel. Em troca pediu que Israel levasse em conta em suas ações o direito internacional. Foi solenemente ignorado. Nesse caso Washington está agora impotente.

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